Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Faca na garganta
O assassinato de um ciclista de 57 anos � margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, supostamente por um jovem de 16 anos, provocou intensa rea��o das pessoas e dos �rg�os de comunica��o.
Isso se deve n�o apenas ao fato de o crime ter ocorrido numa das �reas privilegiadas da zona sul da cidade, mas tamb�m porque o jovem o teria matado a facadas com indiscut�vel ferocidade.
Durante v�rios dias discutiu-se a quest�o da maioridade penal. Muitos defendem que seja reduzida, enquanto outros se op�em � diminui��o com o argumento de que ela n�o resolver� o problema cujas causas s�o sociais.
O argumento dos primeiros � que n�o tem cabimento acreditar que uma pessoa de 16 ou 17 anos n�o sabe o que faz: que assalta e mata sem saber que est� cometendo crimes.
De fato, � imposs�vel aceitar isso. Mas os que defendem o crit�rio em vigor alegam que os jovens criminosos s�o levados ao crime pelas condi��es em que nasceram e foram criados.
Essa � uma opini�o a ser considerada, particularmente por que toca na quest�o fundamental da desigualdade social. N�o resta d�vida de que a maioria dos jovens envolvidos na criminalidade � de classe pobre, morador de favelas ou bairros carentes.
O problema � que corrigir a desigualdade social n�o � coisa f�cil, embora ainda assim deva ser buscada com determina��o e firmeza. A vasta experi�ncia nesse terreno mostra que melhorar as condi��es de vida dos mais pobres demanda muito tempo.
Noutras palavras, mesmo que seja essa a causa �nica da criminalidade, por esse caminho n�o se resolver� de imediato a situa��o cr�tica que a sociedade enfrenta.
O n�mero de assaltos registrados, por exemplo, no Rio de Janeiro, vitimando homens e mulheres de todas as classes, moradores e turistas estrangeiros, cresce a cada dia, tanto em n�mero quanto em viol�ncia.
A popula��o, assustada, clama por uma solu��o urgente do problema. N�o d� para esperar at� que se elimine a desigualdade social.
Mas e a outra proposta, a que reduz a maioridade penal? Ser� que basta isso para acabar com a criminalidade dos menores de idade?
� dif�cil admitir que tal coisa aconte�a. Na verdade, essa proposta visa reduzir a impunidade aos jovens considerados menores de idade. De fato, mesmo quando se trata de um caso como esse, do assassinato do ciclista, o m�ximo de puni��o que lhe podem impor � tranc�-lo por tr�s anos numa casa de recupera��o que, ao que tudo indica, n�o recupera quase ningu�m.
Ao que se sabe, o referido jovem praticou seu primeiro delito aos 12 anos e, de l� para c�, assaltou, agrediu pessoas com faca, roubou dezenas de bicicletas e traficou drogas; mas nunca foi efetivamente punido.
Segundo a imprensa, ele j� tinha 15 anota��es criminais em sua ficha antes do crime, mas seu tempo em casas de recupera��o de menores n�o passou de tr�s meses.
E a gente se pergunta: qual � o crit�rio para determinar a interna��o e a reeduca��o de jovens criminosos? O que se v�, frequentemente, nessas casas, s�o rebeli�es dos internados, que as depredam e incendeiam. E fica por isso mesmo.
At� onde posso entender, os cidad�os n�o est�o querendo se vingar do jovem homicida e sim, como � natural, manter-se a salvo de seus roubos e de suas facadas -das dele e de outros jovens homicidas- e tamb�m viver sem temor.
J� h� pessoas que, dependendo de onde moram, n�o saem � rua � noite; outro vendeu o carro, por ter sido assaltado num engarrafamento de tr�nsito em pleno dia. Muita gente diz que vai fazer o mesmo, embora ainda n�o tenha sofrido tamanho susto. Prefere se antecipar.
Acredito que a maioria das pessoas, sen�o todas, gostaria que a sociedade fosse justa, mesmo porque o sentimento de justi�a � uma qualidade natural do ser humano; os que n�o a t�m � por ignor�ncia ou rancor. Mas s�o poucos.
Uma coisa, por�m, n�o se pode ignorar: a necessidade que todos temos de estar em paz e, sobretudo, de n�o viver em p�nico, como j� est� acontecendo nesta cidade dita maravilhosa.
O ideal seria uma solu��o r�pida e definitiva. S� que essa solu��o n�o existe. A alternativa, portanto, � encontrar um meio de impedir, dentro do poss�vel, a a��o dos criminosos, tenham a idade que tiverem.
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