Cronista, cr�tico de arte e poeta.
Se ficar o bicho come
Ou eu muito me engano ou as manifesta��es do dia 15 contra a corrup��o e os desacertos de Dilma p�em o seu governo numa situa��o de dif�cil solu��o. Embora naquele mesmo dia, logo ap�s as manifesta��es, dois ministros de seu governo tenham tentado minimizar o significado pol�tico do que ocorrera, tanto eles quanto ela –como os dirigentes do PT e seus aliados– sabem muito bem que aqueles protestos, ocorridos em 26 Estados, puseram o governo contra a parede: ou ela admite que errou e passa a reparar os erros ou, se insistir em neg�-los, se arriscar� a levar o povo a uma exaspera��o de imprevis�veis consequ�ncias.
N�o me lembro de uma mobiliza��o popular de tais dimens�es no Brasil, desde que acompanho nossa vida pol�tica. Os protestos contra a ditadura, como a passeata dos cem mil, por exemplo, eram manifesta��es limitadas a uma cidade. Outras mobiliza��es contra o regime militar, pelo pr�prio car�ter repressor do regime, n�o tinham o desdobramento necess�rio. J� estas manifesta��es de agora, n�o apenas ocorreram no pa�s inteiro, como nasceram de um inconformismo da opini�o p�blica com o governo petista, caracterizado pela demagogia e a corrup��o.
O mensal�o j� tinha chocado a opini�o p�blica; agora, o esc�ndalo do petrol�o, envolvendo propinas que chegam a centenas de milh�es de reais, ultrapassou a capacidade de toler�ncia da opini�o p�blica. Isso somado ao fracasso da pol�tica econ�mica, que obriga agora o governo a tomar medidas impopulares, explica a mobiliza��o de setores da sociedade, que sa�ram �s ruas para manifestar seu descontentamento. Uma parte deles chegou a exigir o impeachment da presidente Dilma; a maioria, por�m, exigia a corre��o de seus erros e o fim da corrup��o. Sucede, no entanto, que n�o � pr�prio de seu car�ter admitir que errou.
Tanto isso � verdade que, naquele mesmo domingo, assim que acabaram as manifesta��es, ela ordenou que dois ministros fossem � televis�o negar a import�ncia daqueles protestos. Embora eles mal pudessem apagar do rosto a preocupa��o que os dominava, Miguel Rossetto deu o recado que sua chefa mandou, isto �, s� participaram daquelas manifesta��es quem havia votado contra ela, ou seja, repetiu a mesma tese de que se tratam de golpistas, inconformados com a derrota nas urnas. Com isso, ela pretendia convencer, particularmente seus eleitores, de que aqueles protestos n�o deviam ser levados a s�rio. Mas uma nova surpresa os esperava: a parte da popula��o, que por algum motivo n�o foi �s ruas protestar, ao v�-los aparecer na televis�o, come�ou a bater panelas para abafar o que diziam. Dilma deveria refletir sobre esses panela�os, pois significam que, para a opini�o p�blica, tudo o que o governo diz n�o vale a pena ouvir.
Desconhecer o que ocorreu no dia 15 � querer tapar o sol com a peneira. S� na Avenida Paulista, havia 1 milh�o de manifestantes, segundo a PM. Em Bras�lia, no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, multid�es enchiam pra�as e avenidas, pedindo o fim da pol�tica populista e da corrup��o. Enquanto isso, no Congresso, a base de apoio ao governo come�a a rachar, com vis�veis discord�ncias de seu principal aliado, o PMDB. A situa��o � t�o grave que a presidente Dilma chegou a admitir que errou, mas apenas na dose, porque o rem�dio –sua pol�tica econ�mica desastrada– estava certo.
Mas, como se n�o bastasse, ao falar ao pa�s naquela semana, deu a entender que as manifesta��es contra ela s� ocorreram gra�as a ela, Dilma. Sabem por qu�? Porque tendo participado da luta contra a ditadura militar, foi ela quem devolveu ao pa�s o regime democr�tico e, assim, tornou poss�vel tais manifesta��es. Pode?
Pode ser, por�m, que esteja perturbada com os resultados da pesquisa Datafolha que a deve ter deixado perplexa ao revelar que 62% do povo brasileiro considera seu governo ruim ou p�ssimo e s� 13% a aprova. Ainda mais significativa foi a revela��o de que o n�vel de desaprova��o das classes A e B (a "elite branca") � menor do que o da classe pobre, que era at� aqui seu principal apoio.
E ainda faltam tr�s anos e nove meses de governo. Mas impeachment n�o � a solu��o.
*
O PSOL n�o apoiou o deputado Eduardo Cunha durante seu depoimento na CPI da Lava Jato, conforme afirmei, em cr�nica anterior, erradamente.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade