No Brasil, a preocupação com o vice é justificada. O modelo é ruim. O vice é suplente de cargo majoritário. Não tem voto. No Senado Federal a situação é vexatória. Figuras inexpressivas assumem a cadeira como suplentes quando os titulares deixam o mandato.
Na Presidência da República, o problema não é menor. O primeiro presidente brasileiro não terminou o mandato, e o vice que assumiu não cumpriu a Constituição, que determinava que se convocasse eleição.
Nesta semana, um grupo de empresários divulgou carta de apoio a Boulos. O texto tece elogios ao candidato do PSOL, mas não deixa de apontar as insuficiências do atual mandatário do PSDB. Para os signatários, "Covas, o herdeiro do capital político do avô, não teve que empreender como Boulos para se tornar prefeito. A prefeitura caiu no seu colo. E, apesar de ser educado e democrata, não tem o conhecimento e a liderança de Boulos e não conseguiu fazer uma gestão que deixasse um legado para a cidade. Foi um gestor sem brilho, ordinário".
No último domingo, esta Folha demonstrou, por exemplo, que Covas foi o prefeito que, nos últimos 15 anos, menos investiu na cidade (apenas R$ 8,2 bilhões, quase 50% menos do que na minha gestão, que atingiu o recorde de R$ 15,4 bilhões). Apesar de contar com muito mais recursos --só a diminuição do serviço da dívida que renegociei rendeu um fluxo de R$ 10 bilhões em quatro anos--, Covas mal concluiu as obras que eu deixei em andamento.
O problema agora é que, se por qualquer motivo, seja uma mera licença, seja renúncia, Covas se afastar do cargo —como fizeram Serra e Doria—, quem assume, temporariamente ou não, é uma pessoa ainda mais apagada. Se os empresários que apoiam Boulos consideram Covas um gestor sem brilho, imagino o que dirão de Ricardo Nunes.
Nem vou entrar no mérito das acusações que lhe são feitas, de trambicagem nas creches e violência doméstica. Falo do seu completo despreparo para assumir o cargo de prefeito por um único dia e da completa irresponsabilidade da decisão de colocá-lo na linha sucessória da maior cidade do país.
Atribuem a decisão ao governador Doria, que, como sempre, estaria pensando no seu projeto político. Seu atual vice, do DEM, foi escolhido com esse propósito, e o objetivo agora seria amarrar o MDB de Nunes. Se isso aconteceu de fato, só reforça a fraqueza do atual prefeito.
Sem prejuízo de rever no futuro a pertinência da figura de vice em abstrato, é hora de rejeitar os vices de Doria e apostar em uma chapa que une renovação, experiência e compromisso, em nome de uma cidade mais generosa.
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