Os programas de transferência de renda começaram como experimentos locais (Campinas, Brasília e São Paulo) e se nacionalizaram, sobretudo a partir de 2001, com a criação dos programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio-Gás.
Todos sabemos o papel que cumpriu o senador Suplicy nessa história. Agora mesmo, a Câmara de São Paulo aprovou projeto da nossa gestão —da qual Suplicy foi secretário de Direitos Humanos— que institui a renda básica de cidadania na cidade.
Isso não tira o mérito do governo FHC. A grande façanha de Lula, contudo, não foi apenas a de unificar programas pulverizados, criados de última hora. A unificação no Bolsa Família veio acompanhada de duas outras providências: a universalização dos benefícios a todas as famílias situadas abaixo da linha de pobreza —vetada em 2001 (lei 10.172)— e a generalização das condicionalidades (frequência escolar e vacinação).
A exigência dessas contrapartidas sempre foi um dilema filosófico: cortar benefícios de famílias pobres não parecia sensato; desprezar o direito subjetivo das crianças à saúde e à educação tampouco.
Nossos governos passaram então a acompanhar as condicionalidades como guia para ação de suporte complementar.
O tema da vacinação, por exemplo, nunca foi tratado na chave da obrigatoriedade, mas na chave da disponibilidade e da promoção. Um Estado que informa e garante direitos teria um retorno natural das famílias.
Foi o que aconteceu. O Brasil já contava com um dos melhores sistemas de vacinação do mundo. Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) atingiu seu apogeu em 2010. De lá para cá, o Ministério da Saúde identificou sinais de perda de adesão. Levando em consideração os indicadores oficiais sobre cumprimento das condicionalidades do Bolsa Família, o problema não está localizado entre seus beneficiários: 99,5% das 5,5 milhões de crianças do programa estão com a vacinação em dia.
A despeito desse legado, em 2019, sob um governo negacionista, o Brasil não bateu meta de nenhuma vacina no PNI. O que terá havido?
Comportamentos análogos sugerem uma hipótese.
Estudo recente da UFRJ aponta correlação entre bolsonarismo e pandemia: comparando-se municípios, para cada 10% a mais de votos no capitão, 12% a mais óbitos por Covid.
Embora inspire e afete imediatamente uma minoria, o germe do bolsonarismo tem efeitos difusos, colocando em risco toda a população e o tecido social.
Os números da pandemia e da vacinação são apenas dois exemplos dos graves crimes que vêm sendo cometidos contra a nação.
Não faltam cúmplices.
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