Marcha lenta
Marcha lenta
Desatado o n� em rela��o � Marcha da Maconha, liberada pelo STF na quarta-feira, os ativistas ganharam ontem as ruas do pa�s para defender a legaliza��o da erva sem a certeza do porrete.
A base argumentativa dos manifestantes segue a linha adotada por Fernando Henrique Cardoso no document�rio "Quebrando o Tabu": a guerra contra as drogas fracassou pois custa recursos e vidas demais para poucos resultados.
Ao aplicar essa tese apenas ao caso da maconha, no entanto, a marcha parece servir mais para aliviar a consci�ncia das classes m�dias do que para reduzir os efeitos adversos da pol�tica proibicionista.
A inc�moda rela��o entre o consumo de um baseado e a viol�ncia do tr�fico, que corrompe o Estado e subjuga popula��es vulner�veis, foi tema de debate mais amplo a partir de 2007, com o sucesso de "Tropa de Elite", que explicitou tal liga��o.
Para fugir do papel de c�mplice dessa trag�dia nacional, uma estrat�gia individual ganhou adeptos: cultivar Cannabis sativa no arm�rio ou no quintal -o que, hoje, � considerado ilegal- no lugar de financiar o tr�fico. Assim, legalizar a maconha resolveria contratempos com a pol�cia e a suposta culpa sem mexer nas engrenagens mais complexas da quest�o.
Do ponto de vista da sa�de, a mudan�a de paradigma necess�ria � a transposi��o do abuso de drogas da esfera policial para a m�dica.
Estudos apontam que o uso de maconha tem menor potencial de causar depend�ncia (9% dos usu�rios a desenvolvem) que subst�ncias l�citas como �lcool (15% se tornam dependentes) e tabaco (32%). Liberar a maconha, portanto, pouco faria por quem mais precisa de ajuda: os que abusam de drogas pesadas, como o crack, por exemplo.
Do ponto de vista socioecon�mico, legalizar a erva teria baixo impacto no poder do crime organizado ligado ao tr�fico -e tamb�m nas quest�es de direitos humanos que ele cria e das quais se alimenta.
Uma an�lise de 2009 da Secretaria da Fazenda do Estado do Rio de Janeiro revela que, na economia do tr�fico, o faturamento anual obtido com a venda de coca�na na capital fluminense � de cerca de R$ 211 milh�es. O da maconha gira em torno de R$ 54 milh�es, montante quase quatro vezes menor -semelhante ao faturamento da venda de crack (R$ 51 milh�es).
Sem a maconha, o mercado negro de drogas, cujo combate drena as vidas e os recursos que se pretende preservar, perde, mas mant�m seu produto mais rent�vel e sua rede de ilegalidades e vitimiza��es.
� poss�vel que a legaliza��o da maconha, bandeira da marcha, seja o primeiro passo para mudan�as mais profundas a longo prazo. Ainda assim, hoje, � plataforma pol�tica ing�nua e, por seu interesse restrito, um tanto alienada.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade