Continuando a discussão sobre a atual fase da pandemia, vale a reflexão sobre o novo comportamento da Covid-19. Ela deixou de provocar um número explosivo de casos, mas continuam ocorrendo novas infecções.
Por se tratar de doença de transmissão respiratória, muitos cientistas esperam que a Covid-19 comece a adotar o padrão das doenças transmitidas em tempos mais frios, quando acontecem aglomerações e outras condições que favorecem a disseminação.
Isso significa que será necessária atenção especial no fim do outono, inverno e início da primavera. Embora o Sars-CoV-2 circule há pouco tempo, o número de casos na Europa passa a dar sinais de que este é um provável padrão, com aumento de casos após a chegada do tempo frio.
Outra obrigatoriedade será a constante vigilância sobre possível aparecimento de novas variantes que possam trazer problemas. Uma nova variante ômicron, a B.2.75, foi detectada em alguns lugares do mundo e parece dominar a cadeia de transmissão. Felizmente, não dá mostras de tratar-se de disseminação intensa, como ocorreu com a gama, responsável pela tragédia no início de 2021 no Norte do Brasil, ou com a delta, no decorrer de 2021, ou mesmo as primeiras variantes ômicron, no início de 2022.
Caso surja uma nova variante de preocupação, é impossível prever sua capacidade de transmissão e seu impacto na mortalidade.
O cenário reflete diferentes variáveis. A imunidade induzida pela doença natural e pelas vacinas tende a reduzir com o tempo. Uma parcela da população vai sendo substituída com o nascimento de crianças suscetíveis às infecções pelo Sars-CoV-2, podendo alavancar cadeias de transmissão.
É possível nos prepararmos. Uma das medidas preconizadas é a adoção de vacinas atualizadas, que incorporam proteção contra novas variantes. Esta é a estratégia adotada há anos para prevenir a gripe, com vacinas atualizadas anualmente, de acordo com os vírus influenza identificados na estação anterior.
Uma primeira tentativa para a Covid-19 foi o desenvolvimento das vacinas bivalentes, recentemente aprovadas para uso nos EUA e em alguns países da Europa. A nova formulação incorpora um segundo componente da variante ômicron, diferente do original usado até agora. O reforço com esta nova vacina já tem sido indicado nesses países.
Não será viável, contudo, a realização de estudos semelhantes aos que foram feitos no começo da pandemia. Isto porque a maioria da população está vacinada e muitos já tiveram Covid-19, com grande redução no número de casos da doença.
Resta o uso de projeções de como esta vacina induz resposta contra as novas variantes e a observação dos vacinados. São vacinas bastante seguras, validando as tentativas.
Até agora, os resultados mostram que quem recebeu a vacina bivalente desenvolveu boa defesa, com anticorpos eficazes contra a nova variante que domina a pandemia.
Este pode ser o ensaio do futuro da Covid-19: continuar a vigilância para a circulação de novas variantes, identificar casos em pessoas mais vulneráveis para receberem tratamento, desenvolver vacinas mais potentes e abrangentes e atualizar as vacinas de acordo com a variabilidade do vírus.
Vale, novamente, ressaltar que as preocupações com o Sars-CoV-2 não acabaram. Ao contrário, requerem reações responsáveis, baseadas nos conhecimentos aprendidos e construídos durante a pandemia de Covid-19.
Só desta forma é possível preparar para as próximas etapas. Afinal, o Sars-CoV-2 veio para ficar.
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