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Nascido na It�lia, veio ainda crian�a para o Brasil, onde fez sua carreira jornal�stica. Recebeu o pr�mio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilus�es Armadas'. Escreve �s quartas-feiras e domingos.
A autoridade do fracasso
S�o in�meras as contribui��es dadas pelo economista Pedro Malan aos bons costumes nacionais, mas de todas a mais bem-humorada � sua afirma��o de que "no Brasil, at� o passado � incerto". Na batalha da banca para derrubar no Supremo Tribunal Federal os pleitos dos poupadores tungados pelos planos econ�micos do final do s�culo passado, entrou um manifesto de 13 ex-ministros da Fazenda e 11 ex-presidentes do Banco Central prevendo a ru�na nacional caso o sistema financeiro seja desatendido.
Debulhando-se a lista dos signat�rios v�-se como o passado � incerto. No "Clube dos 24", os ex-ministros da Fazenda signat�rios s�o 13. Deles, cinco t�m a autoridade do desempenho para falar em defesa da moeda, pois restabeleceram seu valor e nunca mexeram no bolso do quem guardou sua poupan�a nas cadernetas. S�o Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, Rubens Ricupero, Ciro Gomes e Antonio Palocci. Restam oito. Todos, com exce��o de Delfim Netto na sua primeira encarna��o de czar da economia (1967-1974), entraram no cargo prometendo conter a infla��o e foram-se embora deixando para o sucessor uma taxa mais elevada ou ainda na faixa dos quatro d�gitos. Considerando-se que a infla��o brasileira n�o foi provocada pelos ciclistas nem pelas pessoas que poupavam nas cadernetas, � ilustrativo voltar ao legado de cada um dos doutores-signat�rios:
Ernane Galv�as chegou ao minist�rio em 1980 e saiu em 1985. Foi cond�mino da segunda encarna��o de Delfim. Fechou seu primeiro ano com a infla��o em 110%, medida pelo IGP-DI da Funda��o Getulio Vargas. Em 1984 ela foi para 223%.
Luiz Carlos Bresser-Pereira foi para a Fazenda em abril de 1987 e saiu em dezembro. No ano, a infla��o chegou a 415%. Nesse per�odo ele concebeu o Plano Bresser, que foi o primeiro avan�o sobre a remunera��o da poupan�a.
Mailson da N�brega ficou no cargo de maio de 1987 a mar�o de 1990. Em 1988 a infla��o chegou a 1.037%. Ele concebeu o Plano Ver�o e, ao final de 1989 o IGP-DI fechou em 1.782%.
Z�lia Cardoso de Mello conduziu os Planos Collor 1 e 2. Ficou no cargo de mar�o de 1990 a maio de 1991. Em 1990 a infla��o ficou em 1.476%.
Marcilio Marques Moreira assumiu em maio de 1991 e foi embora em outubro de 1992. Nesse ano o IGP-DI ficou em 1.157%.
Gustavo Krause e Paulo Haddad estiveram poucos meses no minist�rio, entre o final de 1992 e o in�cio de 1993, ano em que a infla��o chegou a 2.708%.
Na carta os ex-ministros lembraram: "Em alguns meses, a infla��o mensal anualizada superou 10.000%". � claro, pois aquilo foi coisa dos ciclistas.
O manifesto poderia ter sido assinado pelos cinco ex-ministros capazes de dizer que, tendo reequilibrado as finan�as nacionais, usam a pr�pria autoridade para recomendar ao Supremo que d� raz�o � banca. Seria poss�vel discordar deles, mas n�o se lhes poderia contestar os curr�culos. Quando aos cinco juntaram-se oito cavaleiros da ru�na, formou-se um bloco.
Certamente, n�o � o desempenho que os une. � a defesa dos bancos. Ganha uma viagem a Paris quem souber de outro tema capaz de gerar semelhante coes�o.
* A obra dos doutores est� na tabela do texto "�ndices de Pre�os no Brasil", no portal do Banco Central.
SUPERDIRCEU
O comiss�rio Jos� Dirceu foi contratado por R$ 20 mil mensais para trabalhar no hotel Saint Peter, que pertence a Paulo Masci de Abreu. O empres�rio tem oito r�dios em S�o Paulo e seu irm�o preside o PTN, partido ectopl�smico que apoia a doutora Dilma.
Abreu � um empres�rio discreto e a contrata��o do novo gerente deu-lhe fama. Que os santos o protejam, bem como � rede associada aos seus interesses. Em 2003, Marcos Val�rio era um bem-sucedido publicit�rio, desconhecido fora de Belo Horizonte.
PERDERAM O TREM
Se os doutores Geraldo Alckmin e Fernando Haddad n�o tivessem ido para Paris em junho passado para defender a realiza��o da Expo 2020 na cidade, ela n�o teria sido eliminada na primeira rodada da vota��o que escolheu Dubai. Eles teriam ficado em S�o Paulo fazendo seu servi�o, at� porque naqueles dias seria poss�vel tratar as manifesta��es contra as tarifas de transporte de uma forma racional.
Pelo menos um deles foi advertido: "V.D.M."
Da viagem resultou a inesquec�vel apresenta��o da dupla cantando "Trem das Onze", resgatada pelo rep�rter Fernando Mello.
Adoniran Barbosa mostrou-se prof�tico:
"N�o posso ficar nem mais um minuto com voc�
(...) Tenho minha casa para olhar".
ERRO
Estava errada a informa��o aqui publicada segundo a qual um rabino teria rogado praga contra a descend�ncia de Joseph Kennedy em 1941, quando ele viajava num transatl�ntico para os Estados Unidos. O epis�dio teria ocorrido antes da guerra, e Kennedy viajava sozinho. Em 1941 o Atl�ntico estava infestado por submarinos alem�es.
O PROBLEMA � QUE A BANCA QUER PAGAR ZERO
A briga dos poupadores lesados nos planos econ�micos do s�culo passado virou uma guerra de cifras. O "Clube dos 24" argumenta que, se as v�timas forem indenizadas, os bancos perder�o R$ 100 bilh�es. Noutra conta, seriam R$ 150 bilh�es, mas h� um estudo que fala em R$ 600 bilh�es. Tamanha disparidade num c�lculo de banqueiros sugere que ele foi contaminado por um impulso terrorista. As provis�es dos bancos protegendo-se contra esse mau momento, expressas em seus balan�os, fica em R$ 18 bilh�es.
No cora��o do lit�gio est�o as mudan�as feitas no c�lculo da corre��o monet�ria, que afetou a remunera��o das cadernetas nas primeiras semanas dos planos. Um cidad�o que em janeiro de 1987 tinha na poupan�a mil cruzados (a moeda da �poca), perdeu 204 cruzados na remunera��o de 15 dias de fevereiro de 1987. Tomou uma tunga que hoje est� em R$ 880.
Esse lit�gio dever� ser encerrado pelo STF no ano que vem. Ele se arrasta h� mais de 20 anos, porque a banca quer pagar zero, noves fora os honor�rios de seus advogados. Eles perderam em quase todas os tribunais, inclusive no STJ e, em dois lances de pura chicana, junto ao STF.
As v�timas dizem que perderam na remunera��o das cadernetas durante algumas semanas. Os bancos respondem que os poupadores perderam numa fase e ganharam mais adiante. H� na pra�a uma ideia que elimina a argumenta��o terrorista e simplifica o debate. O Supremo poderia determinar que os poupadores sejam ressarcidos a partir de um c�lculo baseado num s� �ndice (o IPC, por exemplo), durante todos os per�odos que duraram as m�gicas. Em vez de discutir se cartola produz coelho, expurga-se o truque.
Nesse caminho, quem entende de banco assegura que a conta deveria ficar nuns R$ 50 bilh�es. Em cima disso, os ministros deveriam decidir se, al�m da corre��o monet�ria e dos juros contratados, os bancos devem pagar juros de mora pela dura��o do lit�gio. Essa � outra conta e outra discuss�o.
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