![demétrio magnoli](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15071389.jpeg)
Doutor em geografia humana, � especialista em pol�tica internacional. Escreveu, entre outros, 'Gota de Sangue - Hist�ria do Pensamento Racial' e 'O Leviat� Desafiado'. Escreve aos s�bados.
Cuba pr�-castrista tinha sa�de e educa��o not�veis como os atuais
Na sua capa, � guisa de epit�fio, a Folha (27/11) ofereceu a Fidel Castro uma esp�cie de absolvi��o hist�rica: "A ditadura � reconhecida por ter melhorado as condi��es de sa�de e educa��o na ilha caribenha". O mito da ditadura benigna emergiu, em formula��es similares, nas declara��es de FHC e Jos� Serra, refletindo um consenso dos que, ao menos, recusam-se a elogiar fuzilamentos sum�rios ou o encarceramento de dissidentes. Temo estragar a festa contando um segredo de Polichinelo: a Cuba pr�-castrista exibia indicadores de sa�de e educa��o t�o not�veis quanto os atuais.
Fulg�ncio Batista dominou a pol�tica cubana durante um quarto de s�culo, at� a revolu��o de 1959. Em 1937, no seu segundo ano de poder, instituiu o sal�rio m�nimo e a jornada de oito horas, antes do Brasil (1940) e de qualquer pa�s latino-americano. No in�cio da segunda d�cada da "era Batista", em 1955, a taxa de mortalidade infantil em Cuba (33,4 por mil) era a segunda menor na Am�rica Latina.
O embargo econ�mico dos EUA contra Batista (sim, Batista!) come�ou em 1957. Naquele ano, a taxa de mortalidade infantil cubana (32 por mil) estava entre as 13 mais baixas do mundo, perto da canadense (31) e menor que as da Fran�a (34), Alemanha (36) e Jap�o (40). Atualmente, segue baixa, mas j� n�o est� entre as 25 menores do mundo. No mesmo ano, Cuba aparecia como o pa�s latino-americano com maior n�mero de m�dicos per capita (um por 957) e a maior quantidade de calorias ingeridas por habitante (2.870).
Enquanto promovia centenas de execu��es sum�rias, o regime castrista conduziu campanhas de alfabetiza��o rural t�o in�teis quanto o Mobral de Emilio M�dici. Como no Brasil, o analfabetismo reduziu-se quase � insignific�ncia pelo efeito inercial da universaliza��o do ensino b�sico. Mas Cuba partiu de patamar invej�vel: as taxas de alfabetiza��o de 1956, quando os guerrilheiros chegaram � Sierra Maestra, colocavam a ilha na segunda posi��o na Am�rica Latina (76,4%), bem � frente da Col�mbia (62%) e do Brasil (49%). Todas essas estat�sticas est�o na s�rie da anu�rios demogr�ficos publicados pela ONU entre 1948 e 1959, hoje dispon�veis na internet. O jornalismo prefere ignor�-las, repercutindo a cartilha de propaganda castrista.
Batista fugiu para a Rep�blica Dominicana no Ano Novo de 1959. Se, na �poca, a Folha aplicasse o crit�rio que usa para Fidel, teria escrito que a ditadura de Batista "� reconhecida por ter melhorado as condi��es de sa�de e educa��o na ilha caribenha". Por sorte, n�o o fez: Cuba n�o foi salva por Fidel nem pelo tirano que o precedeu. M�dicos cubanos realizaram a primeira anestesia com �ter em terras latino-americanas (1847), identificaram o agente transmissor da febre amarela (1881) e inauguraram a pioneira m�quina de raio-X da Am�rica Latina (1907). Antes de Batista, em 1931, a taxa de mortalidade geral cubana (10,2 por mil) era menor que a dos EUA (11,1).
Governos t�m import�ncia menor que a "hist�ria profunda". Nos tempos coloniais, Cuba foi a "joia da coroa" espanhola no Caribe, um dos mais din�micos centros hispano-americanos, atraindo uma numerosa elite econ�mica e intelectual. A excelente faculdade de Medicina de Havana, os hospitais e as escolas do pa�s nasceram no mesmo solo cosmopolita que produziu Jos� Mart�, ap�stolo da independ�ncia, a Constitui��o democr�tica de 1940 e o Partido Ortodoxo, ber�o original do grupo revolucion�rio liderado por Fidel. Dia e noite j� se sucediam em Cuba antes do triunfo final da guerrilha castrista, na Batalha de Santa Clara.
Frei Betto dir� que a presciente ONU falsificou preventivamente as estat�sticas colhidas na era pr�-revolucion�ria para presentear o imperialismo ianque com torpes argumentos anticastristas. Apesar dele, os malditos anu�rios teimam em narrar uma hist�ria inconveniente. Hasta siempre, Comandante!
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