Escritor e tradutor liter�rio.
Subindo e descendo
Duas coisas interessantes para o mundo dos games aconteceram nas �ltimas semanas. A primeira foi a indica��o de "Papers, please" � categoria de melhor jogo do prestigiado pr�mio Bafta, da Academia Brit�nica de Cinema e TV.
Escrevi sobre esse simulador de burocracia totalit�ria em outubro do ano passado (folha.com/1362262). � um jogo �nico em tudo, das mec�nicas � ambienta��o, e mesmo a apresenta��o gr�fica se destaca pelo toque especial dado � est�tica retr� de jogos de computador do in�cio dos anos 1990.
Produzido por uma equipe de um homem s�, Lucas Pope, teve or�amento muito baixo e uma recep��o altamente positiva, que pode at� parecer surpreendente para um t�tulo t�o experimental, que arrisca tanto. Mas "Papers, please" funciona t�o bem que esse sucesso n�o tem muito de inesperado no cen�rio atual -que inclusive permite a indica��o de um trabalho autoral � categoria geralmente reservada aos blockbusters.
E � nesse estado de coisas que acontece o fechamento do est�dio Irrational, liderado por Ken Levine. Respons�vel pela franquia "Bioshock", a empresa era um dos pesos-pesados dos jogos AAA, as superprodu��es da ind�stria, criados por equipes cujos membros se contam �s centenas.
Mesmo estando de certo modo no oposto do espectro em rela��o a "Papers, please", os jogos da Irrational n�o podem ser acusados de p�u-p�u-p�u requentado. Ken Levine sempre foi ambicioso ao extremo, ao ponto de podermos dizer que acabou v�tima da pr�pria h�bris, como Andrew Ryan, de "Bioshock".
Uma franquia de sucesso, um l�der vision�rio, alto volume de vendas, sucesso com a cr�tica e o p�blico. Com esses elementos, a Irrational parecia ter tudo para se manter no topo, mas sucumbiu e virou hist�ria. Culpados? Ningu�m sabe ao certo. J� se falou em press�es e problemas internos, em atritos no relacionamento, no ritmo avassalador de trabalho -que � quase um clich� da ind�stria, mas n�o por isso menos deprimente.
Tamb�m se cogitou que "Bioshock Infinite", mesmo vendendo muito, n�o teria obtido o sucesso comercial esperado em rela��o ao investimento milion�rio em sua produ��o.
Se um jogo AAA com milh�es de f�s, criado desde o in�cio como produto, n�o consegue se pagar, talvez a ind�stria esteja muito perto de atingir um teto em termos de or�amento, pelo menos quando se trata de produtos com um m�nimo de sofistica��o. Especialmente com parte do mercado (e da aten��o do p�blico) canibalizada pelos jogos para celular, em geral baratos e r�pidos de produzir.
Enquanto isso, o Bafta consagra tr�s jogos autorais, inusitados e de or�amento modesto: "Papers, please" n�o levou o t�tulo de melhor jogo -que foi para o papa-tudo "The Last of Us" (outro AAA que n�o pode ser tachado de ac�falo)- mas venceu na categoria de "estrat�gia e simula��o".
J� na categoria "inova��o" o ganhador foi o comovente "Brothers: A Tale of Two Sons" (que tamb�m comentei em outubro: folha.com/1357420), enquanto o pr�mio de Melhor estreia foi para "Gone home" (que, vergonha profunda, admito ainda estar no meu backlog).
J� d� para se animar.
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