Escritor e tradutor liter�rio.
Curr�culo m�nimo
Comecei a jogar em 1980, aos seis anos. Morava em Manaus, que no auge da Zona Franca era o mais pr�ximo do para�so nerd a que uma crian�a brasileira poderia chegar. Ainda mais na era da reserva de mercado, que vetava a importa��o de equipamentos de inform�tica.
Perto do Teatro Amazonas havia um fliperama com m�quinas originais, e foi l� que meus problemas come�aram. Mesmo tendo de usar um banquinho para enxergar, me viciei em "Asteroid", "Defender" e na m�quina amarela de "Pac-Man".
Um vizinho tinha um Telejogo II da Philco, e no ano seguinte apareceria com um Atari 2600. Como ainda n�o havia quem fizesse a convers�o, a imagem em NTSC ficava em preto e branco na tev� PAL-M.
Alpino | ||
Em 1981 ganhei de presente "Chef", um dos port�teis Game & Watch da Nintendo, e o estrago se instaurou de vez.
Logo vieram meu pr�prio Atari, Intellivision e Odyssey na casa de amigos, outro Game & Watch e novas m�quinas todos os meses no fliperama: "Donkey Kong", "Mr. Do!", o inacredit�vel "Punch-Out!" com duas telas.
Foram os primeiros passos de um relacionamento que acompanharia todas as gera��es de consoles e dos jogos de computador, do primeiro "boom" oitentista at� os dias atuais. Mesmo que n�o tenham crescido em Manaus, meus companheiros de gera��o e eu temos a sorte de ter vivido com os games desde o in�cio.
Come�amos com os gr�ficos mais simples, as mec�nicas mais b�sicas, o som mais rudimentar. Acompanhamos o surgimento de todos os g�neros. � uma perspectiva �nica, que encaixa sem esfor�o um lan�amento numa linha hist�rica e permite a aprecia��o de cada jogo por aquilo que �.
Ao mesmo tempo, um repert�rio extenso tende a estimular uma vis�o mais cr�tica e uma rela��o menos superficial com os jogos, duas condi��es essenciais para o amadurecimento de uma m�dia e de seus consumidores.
Quando me tornei pai, surgiu a preocupa��o de como apresentar aos meus filhos algo que considero t�o rico e importante.
Deixar que o processo acontecesse a esmo me parecia irrespons�vel. Como ir direto a "Super Mario Galaxy" sem nunca ter jogado "Super Mario Bros."?
Sem contar que a ideia de me ver de repente em casa com criaturas que dispensam jogos cl�ssicos por terem gr�ficos supostamente "ruins" me dava calafrios.
Com isso em mente, resolvi apresentar aos dois a hist�ria dos games de uma forma mais estruturada. Usando emuladores para emular a experi�ncia original de viver o amadurecimento dos games, intercalando com jogos contempor�neos – negar "Lego Star Wars" a uma crian�a j� seria quase abuso.
Quando meu filho de seis anos prefere jogar "Super Castlevania IV" do SNES a dar aten��o a "Flappy Bird", ou quando joga "Journey" (PS3) do in�cio ao fim de uma s� vez e depois comenta que o jogo � "misterioso e fascinante" e fala sobre as "amizades" que fez, � dif�cil n�o sentir que, sim, de fato estou fazendo a coisa certa.
E como b�nus ainda h� a experi�ncia de apenas assistir, acompanhar os jogos pelos olhos deles. Como se algo t�o familiar fosse inteiramente novo, de novo. Recomendo.
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