Jair Bolsonaro criou inutilmente um problema para ele próprio, ao prometer, já durante a campanha eleitoral, que transferiria a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.
Vai ser cobrado agora, ao iniciar neste domingo (31) sua visita oficial a Israel. É o que adiantou a vice-chanceler Tzipi Hotovely ao Times of Israel, excelente publicação digital israelense:
“Nós esperamos que ele anuncie a mudança da embaixada. Não estamos a par de nenhuma mudança na posição do presidente. Nós realmente queremos uma declaração durante sua visita”.
Hotovely ainda acrescentou uma espécie de lição de moral sobre a necessidade de cumprir promessas: “Nós vemos Bolsonaro como um ‘gêmeo’ de Trump, no sentido de que ele é muito firme no cumprimento de suas promessas eleitorais. E mudar a embaixada foi uma delas”.
Donald Trump mudou de fato a embaixada para Jerusalém, e Bolsonaro de fato é um adulador do presidente americano, ao ponto da vassalagem. Portanto, as autoridades israelenses têm motivos para esperar que o presidente brasileiro anuncie a mudança.
O problema é que os militares que fazem parte do governo Bolsonaro e setores empresariais se opõem à mudança, como já manifestaram publicamente.
É por isso que Bolsonaro fica com um problema desnecessário nas mãos. Desnecessário porque, com a embaixada em Tel Aviv, as relações Brasil/Israel são tão boas que o único acordo comercial firmado pelo Mercosul —bloco em que o Brasil é o país de maior peso— foi exatamente com Israel (em 2010, ano em que governava Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente pró-palestino e, portanto, contra Israel).
Para a visita desta semana, o nó para Bolsonaro é assim: se não anuncia a mudança da embaixada, “certamente causará muito desapontamento” governo israelense, comentou para a Folha Raphael
Ahren, do Times of Israel.
Se anuncia a transferência, seria “uma violação da lei internacional e um ataque ao povo palestino”, como disse à agência France Presse o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben. A regra internacional vigente e reconhecida até agora pelo Brasil é que o status de Jerusalém terá que ser decidido em negociações entre israelenses e palestinos, no marco de um acordo para a criação de dois Estados (na verdade, a criação de um Estado Palestino, já que Israel está criado e goza de perfeita saúde).
Além dos defeitos vistos pelo embaixador palestino, mudar a embaixada deixaria o Brasil isolado: todos os países do mundo que têm relações com Israel mantêm suas embaixadas em Tel Aviv, com exceção de Estados Unidos (e só agora com Trump) e da Guatemala.
Deixar as coisas como estão não alteraria o relacionamento com Israel, tanto que estão acertados acordos interessantes nas áreas de Ciência e Tecnologia, Defesa, Segurança Pública, Saúde e Medicina. Serão assinados com ou sem o anúncio da transferência da embaixada.
Na prática, o anúncio, se houver, só será bom para o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Pode dar-lhe os pontinhos necessários para ganhar a eleição do dia 9.
E se, assim mesmo, ganhar Benny Gantz, o principal rival de Netanyahu e empatado com ele na mais recente pesquisa? Seria gol contra de Bolsonaro, sempre disposto a jogar uma casca de banana na calçada oposta e correr para atravessar a rua e nela pisar.
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