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� rep�rter especial. Ganhou pr�mios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundaci�n por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve �s quintas e aos domingos.
Contreras, um criminoso que morre general
Pode n�o ser elegante comemorar a morte de algu�m, seja quem for, mas � perfeitamente compreens�vel que os chilenos tenham se lan�ado �s ruas para festejar a morte do general Manuel Contreras Sep�lveda.
Ningu�m, exceto o pr�prio chefe de Contreras, o general Augusto Pinochet, personificou tanto a brutalidade do regime que se instalou com o golpe de 1973.
Tanto � assim que Contreras estava condenado a mais de 500 anos de pris�o em 58 senten�as definitivas, fora ju�zos pendentes.
Ao contr�rio de Pinochet, que morreu sem ter sido levado ao devido julgamento, aquele que foi criador e primeiro chefe da execr�vel Dina (Dire��o de Intelig�ncia Nacional) recebeu em vida a sua pena.
N�o deixa de ser um m�rito da democracia chilena, embora tenha faltado a degrada��o de Contreras, prevista constitucionalmente: por ter sido condenado, n�o poderia mais ser general da Rep�blica. Mas morreu com os gal�es correspondentes, o que envia um sinal negativo.
A morte de Contreras manda um segundo sinal negativo: passados pelo menos 20 anos do restabelecimento da democracia em todos os pa�ses sul-americanos, ainda n�o se investigou devidamente a Opera��o Condor, a multinacional do crime pol�tico criada pelos regimes militares que infestaram o subcontinente nos anos 60 e 70.
A Opera��o, considerada respons�vel pela persegui��o e morte de cr�ticos dos regimes autorit�rios, sem respeitar fronteiras, foi originalmente concebida em uma reuni�o no Hotel Carrasco de Montevid�u, em 1975.
Entre os chefes militares presentes, o mais relevante era precisamente Manuel Contreras, que comandava um dos picos da f�ria repressiva adotada pela ditadura chilena.
Muito j� se escreveu sobre a Condor, mas falta, at� agora, p�r a m�o em algum documento oficial da reuni�o de 1975 que detalhe o sinistro entendimento.
H� alguns anos, o historiador norte-americano Peter Kornbluh, do Arquivo de Seguran�a Nacional, em Washington, pediu ao governo brasileiro que abrisse seus arquivos militares, no que seria a melhor —ou �nica— f�rmula para se chegar � verdade sobre a Opera��o Condor.
Sou testemunha direta do minuciosos que costumam ser documentos emitidos pelas confer�ncias dos ex�rcitos americanos, caso da de 1975.
Consegui a �ntegra relativa a uma delas, a de 1987, e verifiquei o grau de detalhe a que chegam, al�m da obsess�o por uma doutrina de seguran�a nacional enviesada.
Al�m disso, um coronel do servi�o secreto boliviano me confirmou, muitos anos atr�s, que tem que haver nos arquivos militares alguma coisa consistente a respeito da Condor.
Como havia pelo menos um representante da ditadura brasileira da �poca na confer�ncia que criou a Opera��o, algo deve haver nos arquivos militares brasileiros.
At� entendo que n�o haja interesse pol�tico do atual governo ou de seus antecessores em p�r a m�o nesse vespeiro.
Mas � do interesse da democracia que os atentados contra ela venham � luz, at� para evitar que se repitam. Ou que criminosos como Contreras morram com o grau de general.
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