Há cerca de 30 anos, sob a liderança de Evelyn Ioshpe, foi criado o Instituto Arte na Escola, para apoiar professores em seu trabalho de desenvolver nos alunos habilidades perceptivas, capacidade reflexiva e a formação de uma consciência crítica, todas competências importantes para o século em que vivemos.
Acompanhei de perto o trabalho do instituto quando fui secretária de Cultura no estado de São Paulo e oferecemos um curso para professores da rede estadual paulista, a partir de uma proposta do Marcelo Araújo, então diretor da Pinacoteca. Os docentes tiveram uma formação sólida em arte-educação e conheceram bem o acervo do museu, forte em arte brasileira do século 19 e começo do 20.
A partir daí, os alunos das escolas envolvidas tiveram visitas guiadas ao museu com seus professores e puderam fazer releituras das obras de que mais gostaram, a partir de um estudo cuidadoso das circunstâncias da sua produção.
Lembrei disso ao ler o interessante livro de Jal Mehta e Sarah Fine, "In Search of Deeper Learning" (Em busca de Aprendizado Profundo, em tradução livre). Nele, os autores tentam entender os esforços de escolas de ensino médio dos Estados Unidos para construir um ensino mais contemporâneo.
Sabemos que em tempos de 4ª Revolução Industrial, em que a automação substitui trabalho humano em grande velocidade, apenas contar com habilidades básicas não será suficiente. Assim, teremos que desenvolver nos alunos competências de nível mais sofisticado, como análises mais aprofundadas, pensamento crítico ou resolução colaborativa de problemas com criatividade. Isso demanda outra lógica educacional.
Mehta e Fine buscaram, nesse contexto, descobrir escolas que propunham uma nova abordagem no processo de ensino. Em que engajamento, colaboração, investigações mais completas se combinassem, na aprendizagem dos alunos, com criatividade e pensamento sistêmico.
Acharam diferentes exemplos, mas o que me chamou atenção foi o papel das eletivas, especialmente as de teatro, na análise dos autores. Segundo eles, foi nessas aulas que encontraram mais aprendizagem profunda. Os alunos montavam uma peça de teatro inteira, ensaiavam, preparavam o cenário e o vestuário colaborativamente, atuavam e aprendiam, ao mesmo tempo, a entender um contexto, uma mensagem e uma estética de outra época. Tudo isso em comunidade.
Da mesma maneira, aprender a ler e reinterpretar obras de arte não somente amplia o repertório cultural como desenvolve habilidades urgentes em tempos de Revolução 4.0. Afinal, precisaremos de mais arte na escola e uma abordagem nela inspirada nas demais disciplinas.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.