Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Nenhuma interpretação em CPI livrará líderes bolsonaristas da cadeia

CPI do Golpe deveria começar a investigação com os acontecimentos da véspera de Natal

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Um vazamento meio esquisito de vídeos gravados durante a Intentona Bolsonarista de 8 de janeiro de 2023 trouxe de volta a ideia da CPI do Golpe.

Se ela acontecer, sugiro que comece pela história de como os bolsonaristas tentaram explodir crianças que viajavam para visitar os avós no Natal de 2022.

Destruição no STF (Supremo Tribunal Federal) após os atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília
Destruição no STF (Supremo Tribunal Federal) após os atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília - Pedro Ladeira - 11.mar.23/Folhapress

No dia 24 de dezembro de 2022, véspera de Natal, três terroristas bolsonaristas tentaram explodir um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília. A polícia conseguiu impedir a explosão e prendeu os terroristas.

Um dos terroristas, Wellington Macedo de Souza foi assessor no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, dirigido, ao longo de todo o governo Bolsonaro, pela agora senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

Os outros dois terroristas da véspera de Natal, George Washington de Oliveira Souza e Alan dos Santos Rodrigues, estiveram no Congresso pouco tempo antes do crime. Foi em uma audiência pública convocada pelo senador bolsonarista Eduardo Girão (Podemos-CE).

A audiência foi um verdadeiro Carnaval do golpe. Os ex-desembargadores Ivan Sartori e Sebastião Coelho pediram abertamente uma intervenção militar, para aplauso geral.

Fazendo companhia ao terrorista da véspera de Natal na audiência estavam todas as lideranças políticas do bolsonarismo para além da família Bolsonaro: os deputados Carla Zambelli (PL-SP), Filipe Barros (PL-PR), Daniel Silveira (PTB-RJ), Bia Kicis (PL-DF), Osmar Terra (MDB-RS) e Luis Carlos Heinze (PP-RS).

Segundo o site Nexo, após o evento, manifestantes que vinham se reunindo diante dos quartéis pedindo golpe de Estado entoaram o canto: "Se precisar a gente acampa, mas o ladrão não sobe a rampa". Daniel Silveira manifestou sua disposição para "matar ou morrer".

Falando dos acampamentos em frente aos quartéis, sobre cujo golpismo não resta dúvida razoável, foi lá que George Washington planejou o atentado da véspera de Natal. Segundo ele, o plano envolveu outros manifestantes golpistas, que, inclusive, forneceram "um controle remoto e quatro acionadores" para os explosivos.

Felizmente, a polícia conseguiu prender os terroristas da véspera de Natal antes que a tragédia se consumasse, e as crianças de Brasília puderam viajar para ver seus avós.

Mas os bolsonaristas dos acampamentos, que tinham vínculos políticos suficientes para participarem da audiência no Congresso, e acesso a alguém (militar? policial? criminoso comum?) capaz de fornecer acionadores de explosivos, não desistiram: em 8 de janeiro, tentaram o golpe de Estado.

Os líderes do bolsonarismo, a começar pelo próprio Jair, inspiraram os terroristas da véspera de Natal, deram-lhes acesso ao Congresso e organizaram os acampamentos em que os terroristas planejaram o atentado e conseguiram os acionadores para seus explosivos.

Foi esse mesmo movimento que tentou o golpe no dia 8 de janeiro de 2023, que pôde destruir as sedes dos três Poderes porque a polícia de Brasília estava sob ordens de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro em cuja residência a polícia encontrou a minuta da declaração do golpe.

É o que canta o coro dos fatos.

Entendo, portanto, que os líderes bolsonaristas criem interpretações delirantes sobre o 8 de janeiro. Afinal, nenhuma interpretação razoável os livrará da cadeia.

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