Ph.D em Business, doutorado em administra��o, mestrado e bacharelado em economia. � professor na Escola de Administra��o de Empresas de S�o Paulo da FGV.
Mundo Econ�mico
PANORAMA MUNDO
A reuni�o dos membros do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em setembro decidiu manter a taxa de juros nos EUA e adiar aquela que seria a primeira alta em quase uma d�cada. As motiva��es citadas foram internas e externas.
Internamente, a economia n�o est� t�o aquecida como o banco central gostaria. Externamente, h� preocupa��es principalmente com as economias emergentes, como a China, com a desvaloriza��o hist�rica do yuan e a queda da Bolsa de Xangai, que perdeu 30% do valor ao longo de tr�s semanas.
A expectativa m�dia da data de eleva��o da taxa de juros americana, que influencia diretamente fluxos de investimentos e pre�os de ativos financeiros mundialmente, est� sendo adiada cada vez mais, conforme novos dados sobre a situa��o econ�mica global s�o divulgados.
No encontro anual do Banco Mundial com o FMI (Fundo Monet�rio Internacional) em Lima (Peru), o Fundo anunciou a redu��o da perspectiva de crescimento mundial de 3,3% para 3,1% em 2015. Os organismos tamb�m apontam para o fato de que, pela primeira vez desde 1988, h� uma grande possibilidade de sa�da l�quida de capitais dos mercados emergentes.
O gr�fico abaixo mostra a cada ano e em bilh�es de d�lares a entrada de capital nos pa�ses emergentes por n�o-residentes (barras verdes) e a sa�da de capital dos pa�ses emergentes por residentes (barras azuis). A linha vermelha � o resultado l�quido de entrada e sa�da de capitais, ficando abaixo de zero em 2015, caso as tend�ncias observadas ao longo do ano se mantenham at� o final de 2015.
Instituto Internacional de Finan�as/Samy Dana | ||
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� relevante notar que o resultado negativo do fluxo de capitais se deve principalmente � retirada de US$ 541 bilh�es em capitais externos de pa�ses como China e Brasil.
David Lubin, chefe do departamento de economias emergentes do Citigroup, afirma que, diferentemente do que ocorreu historicamente, essa n�o � uma crise de balan�o de pagamentos, mas uma crise de modelos de crescimento, considerando especificamente os pa�ses que dependem em larga escala da exporta��o de commodities.
Pela redu��o do pre�o das commodities, os pa�ses exportadores de mat�rias-primas reagiram aumentando a produ��o para compensar as perdas, o que contribui para manter os baixos pre�os das commodities. O chefe de pesquisa de commodities do Citigroup, Ed Morse, acredita que o pre�o continuar� caindo ainda mais devido � defla��o de custos e � menor demanda chinesa.
O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, considera que outra grande preocupa��o dos pa�ses em desenvolvimento � a dificuldade em obter cr�dito. A eleva��o da taxa de juros americana —que ocorrer� cedo ou tarde— encarecer� o financiamento. Para ele, pa�ses em desenvolvimento devem fazer reformas estruturais e garantir um gasto p�blico eficiente como formas de sinalizar sua qualidade como tomadores de empr�stimos do Banco Mundial, cuja demanda por cr�dito vem aumentando.
Nas economias emergentes, a queda do pre�o das commodities e as instabilidades pol�ticas frearam o crescimento, o que teve impacto negativo no mercado de ativos dos pa�ses. Aliado a avalia��es negativas de ag�ncias de classifica��o de risco e � poss�vel eleva��o de taxa de juros americana, o financiamento nos pa�ses emergentes se tornou mais caro e dificultou novos investimentos, explicitando a necessidade de reformas estruturais para que voltem a crescer.
PANORAMA BRASIL
Alinhados com as sugest�es do FMI e do Banco Mundial, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, Joaquim Levy e Alexandre Tombini, respectivamente, foram a Lima mostrar o compromisso do governo brasileiro com as reformas fiscais.
A d�vida p�blica brasileira, que de 2014 a 2016 ter� evolu�do de 65,2% para 74,5% do PIB (Produto Interno Bruto) —seguindo estimativas baseadas nas tend�ncias de desenvolvimento da d�vida—, � uma das maiores fontes de preocupa��o para poss�veis investidores e credores externos.
Para Levy, o Brasil conseguir� estabilizar a rela��o d�vida sobre PIB com medidas como a recria��o da CPMF, mudan�as na Previd�ncia Social e cortes nos gastos discricion�rios —aqueles que n�o s�o determinados por lei, mas que equivalem somente a 10% do total dos gastos governamentais.
Com o ajuste fiscal promovido na esfera federal, muitos dos Estados brasileiros que tamb�m j� estavam em situa��o financeira desequilibrada n�o conseguiram obter empr�stimos para fazer os investimentos projetados no in�cio do ano. No Nordeste, a soma dos investimentos estatais realizados chega a R$ 5,9 bilh�es (at� o momento), apenas 25,7% do estipulado para o ano pela regi�o.
Al�m disso, o investimento tamb�m � restrito internamente pelas altas taxas de juros —a Selic, que � a taxa b�sica de juros da economia brasileira, est� em 14,25%— e pelo enorme endividamento das empresas brasileiras, principalmente as exportadoras de commodities. Para o FMI, o Brasil tem o setor privado mais endividado do que seria saud�vel para a sua economia, assim como muitos outros dos pa�ses emergentes.
O total do endividamento estimado para as empresas n�o financeiras dos pa�ses emergentes � de US$ 3,3 trilh�es, valor que d� uma ideia da necessidade de desalavancagem do setor privado nesses pa�ses.
A imagem abaixo ilustra o tamanho da d�vida da empresa brasileira mais endividada em rela��o ao PIB, tanto em reais como em d�lares, al�m de quantificar a porcentagem do capital p�blico no capital total da empresa (valor est� em par�nteses, ap�s o nome da empresa):
FMI | ||
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Em resposta �s restri��es ao investimento, o Minist�rio da Fazenda est� estudando medidas que reduzam o custo m�dio do capital e o pr�mio de risco exigido para investir no Brasil, considerado alto demais. � nesse sentido que o Banco Mundial, o Banco Interamericano e algumas das institui��es do G20 atuam em conjunto com o Minist�rio da Fazenda.
Eles prop�em a cria��o de um seguro para investidores estrangeiros que est�o interessados em projetos de longo prazo como concess�es, estimulando as parcerias p�blico-privadas.
A maior dificuldade para a realiza��o dos ajustes t�o necess�rios no momento tem origem pol�tica. No jogo pol�tico, a maioria necess�ria para a aprova��o de muitas das medidas no Congresso tem um custo pol�tico impl�cito.
Uma presidente com as contas da �ltima gest�o rejeitadas pelo TCU (Tribunal de Contas da Uni�o) e uma base aliada fragilizada tem pouco poder de barganha para promover um ajuste efetivo. Um presidente da C�mara dos Deputados investigado por corrup��o e lavagem de dinheiro tem poucos incentivos para determinar uma pauta de vota��o que d� maior import�ncia para a reforma. A resolu��o da crise econ�mica est� restrita pela crise pol�tica.
Post em parceria com �lex Mondl von Metzen, graduando em economia pela Funda��o Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Junior de Economia
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