Ph.D em Business, doutorado em administra��o, mestrado e bacharelado em economia. � professor na Escola de Administra��o de Empresas de S�o Paulo da FGV.
Mundo Econ�mico
PANORAMA MUNDO
Nesta quinta-feira (17), o Federal Reserve (Fed, banco central americano) vai decidir se continua com a pol�tica de taxas de juros pr�ximas de zero ou se inicia um ciclo de aperto monet�rio. Normalmente, os bancos centrais tendem a subir as taxas de juros quando a economia est� numa trajet�ria de crescimento acelerado e as press�es inflacion�rias come�am a surgir.
No segundo semestre, o PIB dos Estados Unidos cresceu � taxa anualizada de 3,7%, n�mero bastante positivo. A infla��o, por outro lado, ainda est� bastante abaixo da meta estipulada pelo Fed, mesmo ap�s excluir itens mais vol�teis como alimentos e energia, que sofreram um choque deflacion�rio nos �ltimos meses.
Os dados vindos do mercado de trabalho s�o bastante s�lidos. O pa�s tem criado muitos postos de trabalho e a taxa de desemprego est� em n�veis pr�-crise de 2008. Um mercado de trabalho aquecido tende a gerar sal�rios mais altos e a aumentar a renda dispon�vel das fam�lias, e assim gerar press�es inflacion�rias devido ao aumento da demanda.
No entanto, isso n�o tem sido observado, e o baixo n�vel de desemprego n�o se refletido em maiores sal�rios e pre�os mais altos ao consumidor. N�o apenas a infla��o tem sido baixa, mas tamb�m a expectativa de infla��o tem se mantido abaixo dos 2% ao ano para a pr�xima d�cada.
Entre os defensores do in�cio do aperto monet�rio, o argumento � de que uma preven��o contra a alta infla��o � necess�ria assim que os dados do mercado de trabalho melhorassem, como de fato melhoraram nos �ltimos tempos.
No entanto, diante do atual cen�rio, o Fed dever� ser cauteloso ao subir as taxas de juros. Isso porque se o aumento for exagerado, a economia local poder� entrar em recess�o. Al�m disso, em uma conjuntura global de taxas de juros baixas (Europa, Jap�o, entre outros), um aperto monet�rio por parte do banco central americano teria efeito ampliado, pois atrairia capitais internacionais, valorizando a moeda local e consequentemente diminuindo o pre�o dos produtos importados.
Em suma, os dados sugerem que o Fed n�o precisa iniciar o ciclo de aperto monet�rio nesse momento, e que devido � conjuntura externa o ciclo de aperto, quando iniciado, dever� ser menos intenso do que os anteriores.
PANORAMA BRASIL
Na semana passada, a ag�ncia de classifica��o de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou a nota de cr�dito do Brasil de 'BBB-' para 'BB+', com perspectiva negativa. Isso significa que o Brasil perdeu o grau de investimento obtido em 2008, quando a situa��o fiscal estava boa e a expectativa de crescimento era alta. Sendo assim, o desafio econ�mico do pa�s nesse momento passa a ser ainda maior.
Do lado monet�rio, o Brasil enfrenta um dilema. Se por um lado os juros altos agravam a recess�o por aumentar o custo de oportunidade dos investimentos produtivos e conter a demanda agregada via aumento do custo do cr�dito, por outro ele evita que o real se desvalorize ainda mais, pressionando os pre�os dos bens importados, com o IPCA (�ndice oficial de infla��o) acumulado de 12 meses j� superando 9,5%, bem acima do teto da meta estipulada.
N�o bastasse isso, o Brasil possui outro agravante em termos de pol�tica monet�ria, que � o cr�dito subsidiado, concedido pelo BNDES e pela Caixa Econ�mica Federal. Com as taxas de juros nos patamares atuais, mais empresas procuram cr�dito subsidiado, pois n�o conseguem pagar as taxas do mercado privado, o que reduz a efic�cia da pol�tica monet�ria. A parcela de cr�dito subsidiado cresceu de 35% em 2009 para mais de 55% hoje em dia.
Dessa forma, os ajustes necess�rios para a economia brasileira deveriam vir do lado fiscal. A ag�ncia S&P foi enf�tica ao dizer que o rebaixamento se deu por conta da inabilidade do governo de conseguir progredir nas corre��es fiscais desejadas, al�m de dizer que a perspectiva � negativa pois existe uma probabilidade alta de a situa��o fiscal se deteriorar ou de a recess�o se agravar ainda mais do que o esperado.
A situa��o fiscal do Brasil, de fato, � preocupante. A d�vida em d�lares mais do que dobrou nos �ltimos cinco anos, e se considerarmos a d�vida na moeda brasileira, ela mais do que triplicou. O servi�o da d�vida tamb�m aumentou, devido � eleva��o das taxas de juros, e o cr�dito subsidiado piora ainda mais o cen�rio, pois o subs�dio prov�m do governo.
Dito isto, a sa�da do governo necessariamente passa por aumento das receitas (impostos) ou por diminui��o dos gastos. A maneira mais conveniente para o governo fazer o ajuste � por meio do aumento da carga tribut�ria, e n�o � toa o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, j� deu declara��es demonstrando seu posicionamento a favor do aumento de impostos.
No entanto, isso agravaria a recess�o —porque reduz a renda dispon�vel dos agentes econ�micos— e demonstra a incapacidade do governo de ter a��es mais sustent�veis como o corte dos gastos.
Sendo assim, o ideal seria olhar para o rebaixamento da nota de cr�dito do Brasil como uma oportunidade de rever os gastos do governo e mover o esfor�o pol�tico para a aprova��o do corte de gastos no congresso. Isso ajudaria a restaurar a confian�a no pa�s, teria efeitos ben�ficos na infla��o e contribuiria para colocar o Brasil de volta em um rumo de crescimento.
Post em parceria com Jairo Rytenband, graduando em economia pela Funda��o Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Junior de Economia
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade