Já bem avançado nos anos, não esqueci a minha ingênua esperança juvenil de que seria possível construir uma sociedade que exaltasse as virtudes humanas (que por definição supomos existir) e condenasse a inveja, a ostentação, a vaidade e, principalmente, o miserável interesse pessoal que tudo mercantiliza.
Nela haveria plena harmonia entre seus membros. Prevaleceriam a plena liberdade individual e a plena igualdade. Tratava-se de uma expectativa que, inconscientemente, dava como resolvido um problema fundamental: como se garantiria a subsistência material de seus membros?
Não se procurava saber como essa sociedade se auto-organizaria para coordenar os desejos e as preferências de consumo de milhões de homens livres com a resposta de outros homens que, livremente, deveriam escolher suas atividades produtoras para satisfazê-los adequadamente.
É interessante indagar como a injusta e defeituosa sociedade em que vivemos e que nos constrange tem resolvido esse problema ao longo de milhares de anos. A resposta é: pelo aperfeiçoamento de uma instituição que chamamos de mercados.
Eles não foram inventados. São produto do intercurso natural da divisão do trabalho entre os homens —esta os especializa e aumenta a sua produtividade. Estão crescentemente presentes na vida do homem, desde quando ele abandonou o nomadismo e começou a urbanizar-se.
Ficou claro, desde cedo, que a eficiência produtiva dos mercados exigia um Estado que garantisse a propriedade privada. Aprendeu-se, também, que o Estado tinha de ser forte, mas constitucionalmente limitado, para mitigar os inconvenientes distributivos construídos por ela, já apontados por Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen, que inspiraram Marx.
Qual é a alternativa a essa solução?
Até hoje não se descobriu nada diferente de um Estado que impõe aquela coordenação. Mas, se é a autoridade quem decide, já não há nem plena liberdade nem plena igualdade, porque lhes faltam as informações (as mensagens) e os estímulos oferecidos pelas variações dos preços nos mercados livres que coordenam a oferta com a procura.
Todas as tentativas (e foram centenas) de organizar sociedades sem o instituto da propriedade privada (que não é um direito natural, mas obra do pragmatismo do homem) fracassaram.
O Estado todo-poderoso, uma vez frustrado, culpa a sociedade e exige mais poder para educá-la, até eliminar, em nome da liberdade e da igualdade, a própria liberdade (cada um tem que se comportar como ele quer) e a igualdade (cria castas: o governo e os “outros”).
É isso que nos promete, sem saber, o esquerdismo infantil.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.