A poluição de São Paulo virou parte de uma obra de arte no centro de Londres.
Para marcar o Dia Mundial da Terra, celebrado no último domingo, o artista Michael Pinsky montou na capital britânica a obra "Pollution Pods" (cápsulas de poluição, numa tradução livre).
Trata-se de uma instalação que permite que as pessoas experimentem a sensação de respirar o ar poluído de algumas das maiores metrópoles do mundo.
A obra é composta de cinco bolhas de plástico em tamanho gigante que são interligadas e distribuídas em forma de círculo.
Quatro delas reproduzem as características do ar, dos cheiros e da temperatura nas cidades de São Paulo, Londres, Nova Déli e Pequim. A outra bolha imita o ar puríssimo da ilha da Tautra, no norte da Noruega.
Erguida no pátio de Somerset House, uma mistura de galeria e centro cultural num prédio histórico às margens do rio Tâmisa, Pollution Pods convida os visitantes a entrar e atravessar as cinco bolhas, comparando a qualidade do ar que respiram em cada uma delas.
Pinsky quis, com a obra, promover um debate sobre o impacto das ações humanas no meio ambiente e os efeitos do aquecimento global.
Ele contou com a ajuda de cientistas para recriar as condições de cada uma das cidades, variando no interior de cada cápsula os níveis de ozônio, material particulado, dióxido de nitrogênio e monóxido de carbono, entre outros gases.
Computadores mostram os níveis dessas substâncias, realmente parecidos com os registrados em cada uma das metrópoles.
Mas, segundo o artista, sem perigo para a saúde, já que se fica pouco tempo em cada bolha.
Entra-se na instalação pela melhor parte: respirando-se o ar puro da ilha norueguesa. Ali, tudo é tão confortável que chega-se a sentir um cheiro suave do próprio plástico usado para a construção da bolha, a baixa temperatura e mais nada.
Na sequência, todos os visitantes passam pelas cápsulas que representam Londres (que conta com grande concentração de dióxido de nitrogênio por causa da grande frota de veículos a diesel), Nova Déli (muito quente e com muito material particulado) e Pequim (índices altos de quase tudo, o que incomoda bastante e é —como na vida real— a pior de todas as experiências).
A obra termina exatamente na bolha de São Paulo.
Lá, achei que me sentiria em casa. De cara, um erro na grafia do nome da cidade: “São Paolo“, dizia a placa...
Ignorei a bobagem e decidi então ficar lá alguns minutos. Fechei os olhos e tentei me imaginar no simpático bairro da Lapa, onde cresci. Só consegui ficar com um pouco de dor de cabeça.
Mas acabei agradecendo a Pinsky por não ter incluído no pacote o repugnante fedor do rio Tietê em dias quentes. Essa sim teria sido uma experiência insuportável para qualquer um naquele ambiente fechado.
A obra já foi apresentada uma vez na Noruega. Agora, veio a Londres —mas fica por aqui só até amanhã.
Espera-se que Pinsky ainda leve a instalação às outras três cidades que fazem parte da mostra.
Assim, o paulistano também poderá comparar o desastre ambiental que a humanidade vem causando em todos os continentes.
E morrer de inveja da Noruega.
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