Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Not�cias populares
O fim dos sites de jornalismo: not�cias consumidas aos estilha�os. Assim como alguns restaurantes que t�m qualidade, mas vivem vazios por ficar fora de m�o, os sites noticiosos v�o se transformar em destino exclusivo para entusiastas.
N�o que se pare de produzir not�cias, longe disso. S� que elas, as not�cias, deixariam de estar concentradas em determinados endere�os na internet. Seriam produzidas a partir de estruturas centrais, mas distribu�das por redes sociais, aplicativos de compartilhamento etc. Para n�o ter de viajar at� os long�nquos "restaurantes", os usu�rios receberiam a not�cia por "delivery".
Assim, o jornalismo on-line, como um todo, obedeceria � mesma l�gica das ag�ncias de not�cias atuais –fornecer conte�do para fora de seu pr�prio ambiente.
Essas previs�es, muito interessantes, s�o de um dos jornalistas mais influentes e bem-sucedidos da nova gera��o: o californiano (de pai brasileiro) Ezra Klein, 31, fundador do site noticioso "Vox". Bem, "noticioso" talvez n�o seja a melhor palavra, j� que o "Vox" se dedica muito mais a an�lises e contextualiza��o do que propriamente a not�cias.
"Vox" n�o faz meu g�nero. Acho o estilo muito esquem�tico, preto no branco, "good guys vs bad guys" etc. Mas o site � um sucesso estrondoso e, pelo menos, n�o vive de ca�ar cliques com listinhas fofas. Trabalha com jornalismo "tout court" (ali�s, nada contra as listas, s� acho que n�o s�o jornalismo).
Mas voltando �s antevis�es de Klein: elas est�o em um texto publicado semana passada no pr�prio "Vox", intitulado "Ser� que a m�dia est� se tornando uma grande ag�ncia de not�cias?" (http://is.gd/lrizRb).
Nas pr�prias palavras dele: "Meu palpite � que, em tr�s anos, ser� normal para as empresas de not�cias, mesmo as de escala mais modesta, publicarem em alguma combina��o que inclua seu pr�prio site, um aplicativo m�vel pr�prio, os 'instant articles' do Facebook, Apple News, Snapchat, RSS, Facebook Video, Twitter Video, YouTube, Flipboard e pelo menos mais uns dois 'players' importantes que ainda v�o surgir."
Desculpe se o par�grafo anterior ficou muito t�cnico, mas, se voc� aguentou at� aqui, o que Klein quer dizer � que cada vez menos gente digita o endere�o de um site de not�cias. Acompanha as atualidades, isso sim, por seus feeds de redes sociais e outros aplicativos. E n�o na forma de link, em que voc� clica e vai parar no site original.
As not�cias est�o abandonando seu habitat. Come�am a migrar para dentro dos aplicativos.
Ezra Klein v� essa tend�ncia com grande otimismo, e d� um exemplo do pr�prio "Vox": um v�deo explicando a crise grega teve, dentro do site, pouca audi�ncia. Mas, ao ser publicado no Facebook, atingiu 4 milh�es de visualiza��es, resultado excepcional para um tema t�o �rido.
Ele interpreta assim: quem vai ao Vox.com j� � fissurado em not�cias. Entende a crise grega e talvez n�o precise de um videozinho explicativo. J� quem trombou com o ele no Facebook pouco sabia de Gr�cia, mas acabou aprendendo com o v�deo cuja origem era o Vox.com.
Em tese, �timo. Quem n�o quer que seus produtos cheguem a mais e mais pessoas? Ainda mais agora, quando o acesso � web passa cada vez mais para os celulares, com suas telas muito menores que as de um PC, e que realmente n�o exibem direito os sites de formato tradicional?
Mas, aqui, fa�o uma ressalva, ausente no texto de Klein: se as not�cias v�o ter de passar por essa "etapa extra" de distribui��o, isso significa ainda mais poder aos vorazes monopolistas da web: Facebook, Google, Apple, Amazon, Twitter (este em menor escala).
O suposto "ethos" de liberdade total da internet se desvela em um modelo cada vez mais concentrador. Mesmo a decantada "economia dos aplicativos" � uma farsa –s� um n�mero infinitesimal desses 'apps' realmente faz sucesso.
E os poucos que se destacam s�o rapidamente comprados por algum gigante. Para ficar em exemplos famosos no Brasil: o Waze � do Google; o Instagram e o WhatsApp s�o do Facebook.
Dura conclus�o: para chegar �s massas on-line, s� passando pelos gigantes do Vale do Sil�cio. O horizonte parece radioso, mas as regras n�o est�o com os produtores de conte�do. Apesar de todo o otimismo de um jovem brilhante como Ezra Klein, acho esse panorama aterrador.
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