Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Dilma - A�cio = 0
N�o tenho vida social, estou fora das redes e tamb�m n�o lido diretamente com jornalismo pol�tico. Assim, � pela imprensa que fico sabendo que existe uma radicaliza��o barra-pesada nessa �ltima reta de campanha.
Antigas amizades se desfazem, fam�lias sucumbem � disc�rdia partid�ria, amores entram em crises de variados graus. O pau quebra de norte a sul (mais no sul, � verdade). Adeptos de Dilma n�o se entendem com os seguidores de A�cio. Nas "timelines" das redes sociais, segundo me dizem, n�o h� outro assunto que n�o as elei��es.
A turma do PSDB martela a roubalheira na Petrobras, lembra do mensal�o, pinta a infla��o em alta e a economia paradona como dem�nios a serem exorcizados. A A�cio e Arm�nio Fraga, os padres Merrin e Karras da pol�tica brasileira, caberia a miss�o de purificar o Brasil do demon�aco PT.
Do outro lado, os fan�ticos por Dilma atacam: A�cio s� pensa nos n�meros da macroeconomia (e n�o nas necessidades reais do povo), pertence ao mesmo partido que deixou S�o Paulo secar, vai governar para os ricos, � um filhinho de papai que nunca pegou no breu e parece aquele personagem da can��o "We Both Go Down Together", dos Decemberists: "I come from wealth and beauty / Untouched by work or duty" (em tradu��o livre, "sou do dinheiro e da beleza / desconhe�o trabalho e dureza").
Vamos excluir quem se engaja nessa briga por grana e outros interesses inconfess�veis. Vamos pensar s� em quem � movido por ideologia, ou pela simples torcida por um dos lados, ou mesmo porque tem muito tempo livre e encontrou nessa disputa uma causa que ocupe sua vida vazia.
Para que haja tanto acirramento e bate-boca, � porque muita gente acredita que Dilma e A�cio s�o radicalmente diferentes, representam posi��es inconcili�veis. Como Ptolomeu x Cop�rnico, Darwin x criacionistas, Marx x Feuerbach, Einstein x Bohr (no tema da mec�nica qu�ntica), The Clash x Yes.
Nessas horas, � bom ouvir quem est� de fora. O acad�mico Michael Shifter, presidente da organiza��o Di�logo Inter-Americano, publicou um artigo iluminador no site da revista "Foreign Policy", "A Ilus�o da Elei��o Brasileira". A tese: existem muitos mais semelhan�as do que diferen�as entre Dilma Rousseff e A�cio Neves.
Enquanto os adeptos fervorosos do PT e do PSDB se digladiam nos mundos f�sico e virtual, Shifter escreve: "Mais do que um conflito ideol�gico claramente definido, as divis�es [entre Dilma e A�cio] s�o mais parecidas com as que separam o Velho Trabalhismo do Novo Trabalhismo."
� um paralelo entre o modelo do Partido Trabalhista ingl�s pr�-Margaret Thatcher (umbilicalmente ligado a sindicatos e mais pr�ximo da ortodoxia socialista), e aquele que surgiu depois dela, liderado por Tony Blair, que se distanciou da m�quina sindical e mostrou-se mais amig�vel aos EUA e ao "mercado".
Shifter completa, avaliando os candidatos brasileiros: "Ambos querem crescimento e estabilidade, redu��o da pobreza, melhora dos servi�os p�blicos e mais infraestrutura. Ambos j� pediram melhores rela��es com os Estados Unidos".
Uma outra contribui��o estrangeira veio do rep�rter Brian Winter, da ag�ncia Reuters. Ele foi a Belo Horizonte, onde nasceram os dois concorrentes, para decifrar a rela��o deles com a cidade. Relatou que Dilma, 66, e A�cio, 54, "cresceram a sete quarteir�es um do outro, frequentaram o mesmo clube de t�nis de elite, viram filmes no mesmo cinema e passearam pelas mesmas pra�as arborizadas nos anos 60".
Em seguida, destaca que os dois tomaram rumos diferentes (Dilma, o da guerrilha urbana de esquerda; A�cio, o da pol�tica conservadora, nos moldes do av� Tancredo). Mas tamb�m aponta coincid�ncias entre esses filhos da elite mineira que permanecem at� hoje. Por exemplo: Dilma estudou no mesmo col�gio onde A�cio vai votar.
Seja qual for o vencedor, todos sabemos diante de quem ele ter� de se ajoelhar: o PMDB de Jos� Sarney, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Sobre esse partido, um documento diplom�tico americano, vazado pelo WikiLeaks (e citado em um artigo da jornalista Miriam Wells, tamb�m no site da "Foreign Policy"), traz a seguinte defini��o: "[� um] um aparato arraigado de chefes regionais e redes de clientelismo, que se alimenta de participa��es em coaliz�es de governos federal e estaduais sempre que poss�vel (...) Seus membros n�o s�o guiados por princ�pios, mas por avalia��es fluidas de seus pr�prios interesses".
Para voc� que vota, boa sorte amanh�.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade