Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
A doutora do terror
No corredor infinito que atravessa o campus, � rotina encontrar pr�mios Nobel batendo papo ou caminhando de uma sala a outra com livros embaixo do bra�o.
Por ali fica tamb�m o Media Lab, h� v�rias d�cadas um dos principais centro de estudos de tecnologia avan�ada em comunica��o e ensino.
N�o muito longe est� o Instituto Whitehead, de pesquisa de ponta no combate ao c�ncer.
Pouca gente sabe, mas nessa institui��o conhecida pela qualidade incompar�vel nas ci�ncias exatas e biol�gicas, a �rea de humanidades tamb�m � de primeira linha.
Um dos maiores nomes da filosofia da ci�ncia, Thomas Kuhn (1922-1996), foi seu professor titular. O pol�mico linguista Noam Chomsky, aos 85 anos, � professor em�rito.
A Sloan School, de Economia e Administra��o, � uma das mais fortes do mundo.
O incentivo ao conhecimento multidisciplinar � t�o grande que um mesmo professor, Alan Lightman (autor do romance "Os Sonhos de Einstein"), chegou a ocupar, ao mesmo tempo, c�tedras de literatura e de f�sica.
Concorde-se ou n�o com a meritocracia americana, aqui ela funciona a mil. No question�rio de admiss�o n�o existe a pergunta "Algum parente pr�ximo seu j� estudou aqui?". Quem entra � porque � muito bom, nada a ver com origem ou conex�es.
Estamos falando, claro, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, mundialmente conhecido pela sigla em ingl�s, MIT, um centro de excel�ncia admirado em toda parte.
At� hoje, o MIT sempre foi associado a tudo o que est� descrito acima: ci�ncia e tecnologia das mais avan�adas, cobran�a por produ��o de qualidade, atividade intelectual intensa. Civiliza��o.
Nas �ltimas semanas, no entanto, teve seu nome ligado, de modo improv�vel, ao oposto de tudo isso: � barb�rie niilista do Estado Isl�mico.
Nos comunicados em que fazia exig�ncias para libertar alguns de seus ref�ns (e que depois seriam decapitados), o EI, al�m de milh�es de d�lares, pedia a liberta��o da "nossa irm�, a doutora Aafia Siddiqui".
Quem? Praticamente desconhecida fora de seu pa�s, o Paquist�o, onde uma � "cause c�l�bre", Aafia Siddiqui est� presa no Texas. Cumpre 86 anos por tentar matar agentes americanos em um posto policial no Afeganist�o.
A misteriosa Aafia foi na adolesc�ncia uma estudante nota 10. T�o boa, e t�o promissora, que deixou sua vida confort�vel de classe m�dia alta no Paquist�o para fazer faculdade nos Estados Unidos.
Nasceu em Karachi, onde terminou o ensino m�dio antes de emigrar para os EUA. Foi aceita pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts em 1992, depois um semestre na Universidade de Houston.
No MIT, formou-se em biologia. Depois seguiu para um doutorado em neuroci�ncias em uma uma universidade pr�xima, a Brandeis. No PhD, estudou mecanismos de aprendizagem. Colegas lembram de uma pesquisadora discreta, mu�ulmana conservadora, mas sem fanatismo.
Da� para frente, existe uma guerra de vers�es sobre o que Aafia fez ou deixou de fazer. Sabe-se que se casou com um anestesista paquistan�s, que tamb�m morava nos EUA. E que, um pouco antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, o casal foi interrogado pelo FBI por gastar R$ 25 mil em �culos de vis�o noturna e coletes � prova de balas. Alegaram que usariam para ca�ar e foram liberados.
Depois ela voltou � cidade natal, se separou, viajou v�rias vezes entre Paquist�o e EUA at� que, o mais estranho de tudo, despareceu em mar�o de 2003, junto com os tr�s filhos. Com base no depoimento de um l�der preso da Al Qaeda, foi inclu�da na lista de terroristas mais procurados do mundo. Chegou a ser dada como morta.
Ressuscitou no Afeganist�o, em 2008, quando foi presa portando documentos sobre tr�s assuntos: explosivos, armas qu�micas e o v�rus ebola, al�m de anota��es sobre "um ataque em massa" contra os EUA.
Na delegacia afeg�, aos palavr�es, tentou matar seus interrogadores americanos. � por isso que foi levada aos EUA e condenada.
A irm� dela, uma neurologista treinada em Harvard, lidera uma campanha no Paquist�o para provar sua inoc�ncia. Diz que tudo � arma��o dos americanos. Vai ter muito trabalho para provar essa tese.
Aafia Siddiqui n�o se encaixa no perfil t�pico de imigrante rejeitado pelo pa�s onde foi viver, e que acaba voltando �s ra�zes pela via do fundamentalismo. O MIT a aceitou, ela tinha tudo nas m�os. Ao que tudo indica, optou pelo terror.
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