Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Copa tricolor
Em 1970 era o G�rson, que honra, maestro canhoto em um time de solistas geniais, a torcida deste moleque de sete anos era para ele.
Em 1974 nem me lembro, mas 1978 tinha Z� S�rgio, ponta-esquerda veloz que s� cortava para dentro porque chutava de direita, pena que nunca chegou a titular do escrete de Cl�udio Coutinho.
Em 1982 era Serginho, ent�o conhecido s� assim, no diminutivo, hoje acrescido do sobrenome —ou seria ep�teto— Chulapa. Serginho fez um de cabe�a naquele 3 x 1 �pico contra a Argentina. A equipe tinha tamb�m Waldir Peres, injustamente marcado pelo frango que levou de Bal, da URSS, no primeiro jogo da Copa, mas que fechou o gol contra os argentinos.
Da� para a frente nem me lembro direito, exceto que pedreira mesmo foi em 2006. Nosso �nico representante era o Mineiro, m�dio-volante, n�o exatamente um talento inesquec�vel. Ainda por cima banco, e daqueles bancos que quase nunca entram.
N�o sei se os par�grafos acima deixaram claro, mas a mensagem deste texto � a seguinte: a sele��o, eu acompanho, n�o seco nem desgosto. Mas torcer, torcer de verdade, s� para o S�o Paulo. Ou para os jogadores do S�o Paulo que est�o na sele��o. Como G�rson em 1970, Z� S�rgio em 1978, Serginho e Waldir no time formid�vel de 1982 e, v� l�, Mineiro em 2006.
E, aten��o, n�o basta ser qualquer atleta de estirpe tricolor. Se tiver sido �dolo no S�o Paulo, por�m quando da convoca��o atuar em outra equipe (casos de Ra�, j� do PSG em 1994, e de Luis Fabiano, chamado em 2010 como atleta do Sevilha), a torcida n�o � a mesma.
De modo que neste ano a situa��o � sem sa�da: dos 23 convocados, s� quatro jogam no Brasil, e nenhum deles veste as cores gloriosas do Soberano.
Para conseguir torcer, restaria apelar ao patriotismo, um daqueles sentimentos estranhos que a idade avan�ada pode trazer. Mas ainda n�o � o caso, e, mesmo que fosse, restaria uma pergunta incontorn�vel: que jogadores s�o esses?
Antes de ver uma recente s�rie de reportagens do "Jornal Nacional", apresentando um a um os 23 convocados, eu, e imagino que boa parte da popula��o brasileira n�o-fan�tica por futebol internacional, n�o fazia a menor ideia de quem eram pelo menos 70% dos atletas.
Alguns dos quase an�nimos, eu tinha emba�ada no��o de quem poderiam ser, como Willian e Luiz Gustavo. Mas de outros, antes da serie do "JN", jamais ouvira falar —Maxwell e Fernandinho, por exemplo.
A ind�stria do entretenimento como a conhecemos, moldada por Hollywood nos anos 1930 do s�culo passado, se baseia no "star system". � uma estrutura bilion�ria que emprega centenas de milhares de pessoas, mas que s� fica em p� gra�as a uns poucos astros que atraem os investidores e o p�blico.
Isso vale para todo o espectro cinematogr�fico —desde os filmes mais comerciais, como as grandes franquias derivadas dos quadrinhos, at� obras de experimenta��o, como o rec�m-lan�ado "Sob a Pele" (claro que o diretor, Jonathan Glazer, s� conseguiu dinheiro e lan�amento internacional para um projeto t�o alucinado gra�as � exuber�ncia da protagonista, Scarlett Johansson).
� por isso tamb�m que os programas de TV t�m apresentadores (para que o p�blico tenha a quem reconhecer e com quem se identificar). E que um jornal destaca na capa seus principais colunistas. Sem identifica��o, n�o h� comunica��o, poderia ter dito o Chacrinha.
Quase cem anos depois da inven��o vinda de Hollywood, essa sele��o de jogadores desconhecidos no Brasil leva a l�gica do "star system" ao extremo. Aos olhos do grande p�blico brasileiro, seu �nico astro, �nico mesmo, � Neymar, que brilhou muito por aqui antes de se transferir ao Barcelona. Quase todos os outros sa�ram muito jovens, alguns nem chegaram a ser profissionais no Brasil.
Dito tudo isso, o fato � que, para este colunista, pouca diferen�a faz. Conhecidos ou n�o, estrelas ou n�o, nenhum dos convocados joga no S�o Paulo. Mulheres, crian�as e torcedores bissextos, a Copa � de voc�s, aproveitem para se divertir. Estou na regressiva para o rein�cio do Campeonato Brasileiro. Morumbi vazio e gelado numa noite de quarta-feira, Muricy no banco, Ceni, Ganso e Luis Fabiano em campo. E eu em casa, vendo no "pay-per-view". A�, sim.
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