Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Somos todos irm�os
Debate sobre jornalismo. Na plateia, centenas de olhos sem rugas se perguntam: do que esses caras est�o falando?
O tema � reportagem e cr�tica de cultura, mais especificamente m�sica. Na mesa, alguns amigos. S�o jornalistas, digamos, "do papel" (embora muito ativos, e com destaque, no mundo on-line).
Eles ressaltam que na express�o "jornalismo cultural" existe a palavra jornalismo, e que essa palavra carrega algumas premissas, como distanciamento, esp�rito critico, a necessidade de ler muito para aprender a escrever, a obriga��o de escutar bastante m�sica para conseguir avaliar etc.
Pode parecer �bvio, mas para a tropa presente foi uma revela��o, cada jornalista tiozinho um novo Fern�o de Magalh�es provando �s massas que a Terra � redonda.
Definidas as posi��es, uma barreira de gelo ergueu-se entre p�blico e debatedores, ou pelo menos parte destes. Imagine perguntar as horas para uma pessoa que nem sabe que existe rel�gio. Tente falar de aritm�tica com algu�m que ainda n�o aprendeu os algarismos. � pior do que discordar, ser superior ou inferior, saber menos ou mais. � n�o ter uma base comum para discuss�o.
Fim do debate, a sess�o foi aberta para perguntas. Um sujeito tomou a palavra, falou sem parar, n�o deu vez a mais ningu�m. Acabaram o tempo e a possibilidade de di�logo.
Nos �ltimos segundos, j� todo mundo se levantando, um jovem gaiato da plateia ainda fulminou os participantes: "N�o foi o que eu esperava, mas pelo menos valeu pelo saudosismo".
Fui convidado, n�o pude ir, tomo por base depoimentos de quem estava l�. Pe�o desculpas por eventuais imprecis�es, mas garanto que o esp�rito foi esse. Jornalistas "das antigas" falando para um pessoal que acha que n�o � nada disso, que estamos todos juntos nessa: jornalistas, m�sicos, "cr�ticos", blogueiros, executivos da �rea cultural, campe�es do Facebook, reis do Instagram. Que o neg�cio � se unir, uma m�o lava a outra, caminhar juntos para "construir a cena".
Afinal, para que jornalista perder tempo ao falar de coisas de que n�o gosta, ser cr�tico em rela��o ao que est� em evid�ncia? Que mal h� em exercer o jornalismo e, ao mesmo tempo, fazer curadorias no Sesc, falar bem dos amigos no blog e no "Face", tocar o site de um evento corporativo (ou o pr�prio evento corporativo), escrever cat�logos, dirigir uma compila��o para uma gravadora, bajular um pol�tico que o premiou com um edital, assinar material de divulga��o (os chamados "press-releases") para governos, editoras, o que pintar?
E j� que tudo isso est� liberado, por que n�o, entre uma tuitada e outra sobre o estado das coisas, sobre o Brasil e o mundo, encaixar uma propagandinha, um "tu�te" favor�vel a alguma grande empresa, ainda que seja uma daquelas com lugar cativo nos "top ten" de reclama��es do Procon?
N�o tem problema. Basta acrescentar no final do jab� a nota��o #ad. Claro que todo mundo sabe que "ad" � abrevia��o de "advertisement", e que "advertisement" � palavra inglesa que significa "an�ncio". E que todos os leitores v�o entender que existe uma separa��o precisa, um muro de Berlim entre o conte�do que realmente expressa o pensamento do autor e os elogios que ele esta sendo pago para escrever.
(Informo que os tr�s par�grafos acima foram ir�nicos)
Em redes sociais, n�o s�o poucas as figuras que vejo se descreverem como "jornalista e publicit�rio". E n�o s� picaretas, gente talentosa tamb�m. Isso d� uma boa ideia da desdita reinante, no debate sobre jornalismo que iniciou esta coluna, entre a audi�ncia, afeita a essa liberalidade digital, e alguns dos convidados, ainda seguidores de um certo balizamento "anal�gico".
Em meio a tanta confus�o entre jornalismo e propaganda, uma boa not�cia vem do "New York Times". O site do jornal finalmente aderiu ao pol�mico conte�do patrocinado ("branded content"), ou seja, an�ncios concebidos para parecer reportagens normais.
Claro, melhor que n�o tivesse entrado nessa. Mas conseguiu, pelo menos nos textos que vi, fazer com tanta transpar�ncia, deixando t�o claro que aquele conte�do foi produzido pelo anunciante, que talvez tenha matado a premissa. Ponto para o jornalismo, s� n�o sei se os anunciantes gostaram.
P.S. Voltando ao assunto m�sica, recebi uma dica de v�deo esta semana que, se me perguntarem "o que � m�sica", respondo com o link: youtu.be/WubFQrd-meo. E isso n�o � um #ad. � s� opini�o, de gra�a.
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