Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Rolez�o em Bancoc
Raspadinha de lim�o ado�ada com mel, espeto de frango, salada de mam�o verde, suco de rom�, banquinhas de camisetas, rodas de viol�o, filas imensas para comer de gra�a curry com arroz branco. Estamos em um protesto.
E n�o um protesto qualquer, mas o maior do mundo atual. � o "Shutdown Bangkok", vamos travar Bancoc, a��o coordenada que bloqueou sete das principais vias e cruzamentos da capital tailandesa, metr�pole cinza e fren�tica que vive em fun��o dos carros, uma g�mea de S�o Paulo em longitude oposta.
Come�ou no dia 13 de janeiro, segunda-feira. S�bado e domingo, 18 e 19, quando passei por l�, seguia com for�a. � protesto + show + com�cio + festa + vig�lia. A avenida Rama 1� est� fechada pelos manifestantes.
Querem reforma pol�tica imediata. Para eles, as elei��es marcadas para amanh� n�o bastam. Rejeitam a democracia em vigor na Tail�ndia, comandada pela fam�lia Shinawatra. Yingluck Shinawatra � a atual primeira-ministra. O irm�o dela, Thaksin, foi primeiro-ministro at� 2006. Um golpe o derrubou, por corrup��o e abuso de poder. Thaksin se autoexilou em Dubai. � de l� que continua mandando.
O slogan "Shutdown Bangkok" tem um subt�tulo: "Restart Thailand". O s�mbolo � o c�rculo cortado na parte superior, interrompido por uma curta linha reta, igual ao do bot�o de reiniciar dos computadores.
S�o refer�ncias que n�o deixam d�vida sobre quem � a maioria dos milh�es de manifestantes: jovens urbanos conectados que n�o aceitam a pol�tica "old-school" dos irm�os Shinawatra.
Thaksin � adorado no Norte e no Nordeste, menos desenvolvidos. Conquistou essas regi�es com subs�dios para a agricultura e programas sociais. Mas Bancoc n�o o engole, com seu hist�rico de magnata da telefonia m�vel e de dirigente que faz pol�tica � base de dinheiro.
At� o dia em que escrevo, foram nove os mortos em protestos. Mas, na festiva avenida Rama 1�, n�o existe viol�ncia.
Para chegar ao hotel, bem no meio da agita��o, h� uma s�rie de bloqueios improvisados. Os "vigias" s�o civis, alguns mascarados, sempre muito jovens, inclusive crian�as. Em todos os pontos, os "guardas" conversam rapidamente com o taxista, olham dentro do carro e mandam seguir.
Nas metr�poles brasileiras, n�o h� nada remotamente parecido com a avenida Rama 1�. Parei de contar, mas imagino que sejam pelo menos oito shopping centers, todos gigantescos e ultraluxuosos, ligados entre si por t�neis e passarelas.
� poss�vel entrar no primeiro deles, passar pelas lojas mais caras do mercado planet�rio, pegar uma passarela para o centro de compras vizinho (que tem praticamente as mesmas marcas), entrar em mais um t�nel para mais um shopping, perder a no��o de onde se est�, e emergir no outro extremo da avenida, em um rolez�o de duas ou tr�s horas, sem contato com o ar externo.
Do lado de fora, no asfalto da rua interditada, s�o incont�veis —mas incont�veis mesmo— as bancas de camisetas com estampas antigoverno. H� tamb�m centenas de barraquinhas de comida, quiosques de sucos, alguns trailers de partidos pol�ticos (que distribuem comida e vendem camisetas "oficiais" das manifesta��es).
Faz calor no inverno tailand�s. Mas bate pouco sol na avenida, tomada pela sombra do skytrain. A dez metros do solo, o monotrilho que corta Bancoc funciona normalmente. O vulto met�lico se desloca com efici�ncia e pontualidade, indiferente ao burburinho abaixo.
Os shoppings de alto luxo da avenida tamb�m est�o abertos. Alguns p�em seguran�as na porta; outros, nem isso. Manifestantes cansados abandonam por alguns minutos o protesto, v�o tomar ch� na pra�a de alimenta��o, aproveitam o ar-condicionado, depois voltam � rua para maldizer o governo.
Turistas com sacolas da Prada tomam a m�o inversa: descem at� a rua para conferir o movimento. Compram camisetas, bebem suco, batem fotos.
No cruzamento com a Phayathai Road, normalmente um rio met�lico de autom�veis, mas hoje inundado de gente, h� um palco gigantesco. Vi uma esp�cie de Bob Dylan tailand�s, desafinado, que tinha escrito no viol�o o mesmo lema de Woody Guthrie (1912-1967), inspirador de Dylan: "Esta m�quina mata fascistas".
Para que n�o se pense que esse era s� um protesto do circuito Elizabeth Arden, vale ressaltar que as cal�adas estavam tomadas por centenas, talvez milhares, de barracas de camping individuais, t�picas do movimento Occupy. E n�o eram playboys que estavam l� dentro.
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