Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Fora do Bei�o
"Ator de 'Jiraya' vem ao Brasil e treina M�dia Ninja do Fora do Eixo." "Frente fria chega ao sudeste e congela cach�s de artistas do Fora do Eixo." "Pablo Capil� oferece asilo a Edward Snowden na Casa Fora do Eixo."
J� deu para perceber qual o principal alvo do site de humor foradobeico.tumblr.com: o coletivo art�stico Fora do Eixo. Origin�rio de Cuiab�, liderado pelo publicit�rio Pablo Capil�, o FdE � hoje uma pot�ncia nacional, baseada em S�o Paulo na casa que leva o nome da organiza��o.
O Fora do Bei�o faz mais v�timas, como se v� por estas outras manchetes: "Parapsic�logos alertam para o perigo de foto hipnotizante de Caetano"; "No Rio, papa Francisco promove 'ca�niza��o' [sic] de Criolo".
Velhos e novos �dolos da MPB, a cena indie estatal, o notici�rio pol�tico, os fatos musicais: nada escapa da "razzia" bem-humorada do Fora do Bei�o.
Em um texto sobre um suposto encontro do papa com o rapper messi�nico Criolo, um trecho sublime: "Num papo franco, o papa Francisco descobriu afinidades com Criolo --ele � jesu�ta, que catequiza os �ndios, e Criolo � augustino (que vem de 'Augusta'), e catequiza os indies".
Nas �ltimas semanas, a cena que gira em torno do Fora do Eixo, t�o zoada pelo Fora do Bei�o, ganhou evid�ncia. Foi gra�as � M�dia Ninja, um grupo, aninhado no FdE, de jornalistas n�o remunerados, que v�m cobrindo como "insiders" as manifesta��es recentes pelo Brasil.
No Rio e em SP, apesar do amadorismo e da completa falta de isen��o, marcaram gols jornal�sticos. Estavam onde a "grande m�dia" n�o conseguia estar, ajudaram a derrubar mentiras da PM. Tornaram-se, com m�rito, assunto internacional.
A M�dia Ninja � um dos bra�os de uma televis�o na internet operada pelo Fora do Eixo, a P�s TV. � por isso que me lembrei do Fora do Bei�o para abrir este texto. Porque acompanho a P�s TV desde o come�o, em 2011. Trabalho em televis�o, procuro seguir as novidades. E � s� com bom humor que d� para falar de uma coisa t�o malfeita.
Pode ter sido falta de sorte, mas nas dezenas de vezes em que tentei ver a P�s TV, o que encontrei, de t�o prim�rio, deveria se chamar Pr� TV. �udio e imagens sofr�veis. O conte�do, de um t�dio abissal.
Tirando as transmiss�es recentes dos ninjas, nunca vi um programa que n�o fosse: a) discurseira; b) debate ou entrevista em que todos t�m a mesma opini�o.
Como se dirige aos j� convertidos (seus programas s�o vistos por poucas centenas de pessoas), a P�s TV n�o tem nenhuma preocupa��o de contextualizar. Os convidados passam horas falando sem ser identificados. Ou pelo menos passaram nos programas que segui.
Pena que o "Fora do Bei�o" n�o deve ter assistido a um dos eventos mais curiosos da hist�ria recente da P�s TV. Ele seria capaz de descrev�-lo com muito mais humor. Foi logo depois do primeiro "streaming" de grande repercuss�o da M�dia Ninja.
No dia 18/6, j� no estertor de uma manifesta��o gigantesca em SP, marcada por agress�es � "grande imprensa", houve um conflito brutal entre manifestantes e a PM na rua Augusta. Nenhuma outra TV estava l�. A M�dia Ninja fez uma transmiss�o eletrizante, e digo isso sem nenhuma ironia.
No dia seguinte, o respons�vel pelo trabalho foi entrevistado na P�s TV. O apresentador fez uma r�pida introdu��o e mandou a primeira pergunta. O rapaz s� fez desfilar o jarg�o prolixo do Fora do Eixo.
Em poucos segundos, o pr�prio entrevistador pareceu perder o interesse: come�ou a ler e digitar em um iPad. Depois de uns cinco minutos, o ninja parou finalmente de falar, o apresentador disse algo, o ninja retomou o discurso, o entrevistador voltou ao iPad e eu fechei o computador.
No sentido contr�rio da diversidade que o FdE apregoa, a linha da P�s TV me parece monol�tica: propagar a ideologia digital-coletivista da organiza��o. Se alguma vez apresentou uma voz dissonante, eu infelizmente perdi.
De t�o fraca e cheia de si, a P�s TV acaba fazendo humor involunt�rio. Bem diferente do Fora do Bei�o, que n�o leva ningu�m a s�rio. At� o slogan da conta no Twitter ironiza o jeito FdE de falar: "Semeando parcerias e polinizando a fertilidade efervescente culturo-colaborativa. Coletivamente falando".
N�o fa�o ideia de quem � o g�nio que escreve. Merece um programa on-line. N�o na P�s TV, claro.
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