Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Contra a internet
No auge, a Kodak empregava mais de 140 mil pessoas e valia cerca de R$ 50 bilh�es. Quando o Instagram foi vendido por R$ 2 bilh�es ao Facebook, ano passado, tinha s� 13 funcion�rios.
Para Jaron Lanier, um "insider" do Vale do Sil�cio, esse exemplo resume tudo o que h� de errado com a economia da rede. Sob a fachada de escolhas infinitas e liberdade total, esconde-se um modelo concentrador. "A internet destruiu mais empregos do que criou", fulmina.
A tese est� exposta no livro mais recente de Lanier, "Who Owns the Future?" (a quem pertence o futuro?), lan�ado em maio nos EUA e ainda in�dito no Brasil. N�o � pouco o barulho que causou.
Com seus longos dreadlocks e gosto por m�sica da Antiguidade, Lanier passaria facilmente por mais um freak californiano adepto de ideias ex�ticas.
Na verdade, ele � um dos maiores expoentes da internet. Tamb�m foi um dos criadores da realidade virtual.
No Vale do Sil�cio (regi�o da Calif�rnia que concentra os gigantes da web), j� fez de tudo. Hoje, trabalha em uma divis�o de vanguarda na Microsoft, onde estuda, entre outras coisas, a constru��o de elevadores para o espa�o.
A encrenca da internet, na vis�o de Lanier, vem do perfil de seus criadores, nos anos 70 e 80. Com bom humor, diz que eram de dois naipes: "Ou maconheiros liberais, ou conservadores do tipo que usam r�dios da faixa do cidad�o para monitorar a pol�cia e escapar dela". Essas duas tribos, t�o diferentes, coincidiam no seguinte: para ambas, "o anonimato era a coisa mais bacana".
Assim, criou-se intencionalmente uma web em que as informa��es v�o se dissipando, como part�culas perdidas em um universo em expans�o. Ningu�m sabe o que veio de onde, nem quem criou o qu�. E a informa��o circula gratuitamente, tamb�m porque � "cool".
Bem, se ningu�m quer pagar por nada on-line, � preciso criar um modo de fazer dinheiro. E a�, em busca de um caminho sustent�vel, a internet, t�o "rebelde", adotou o modelo de neg�cios mais tradicional: vender an�ncios.
Nessa hora, ningu�m pode com gigantes como Google e Facebook. Lanier os chama de "servidores-sereias", pela capacidade irresist�vel de atrair usu�rios.
Quem vende o an�ncio mais eficiente poss�vel --e portanto pode cobrar muito por ele-- � quem sabe tudo sobre seu usu�rio. Ou porque rastreia toda a atividade on-line, como o Google; ou porque usa as informa��es fornecidas, volunt�ria e gratuitamente, pelo "internauta", como o Facebook.
Para processar essa quantidade colossal de dados, s�o necess�rios computadores muito poderosos. Que s� portentos como Google, Facebook, Apple e Amazon podem comprar.
E assim se completa o modelo concentrador que Jaron Lanier combate. Bilh�es de usu�rios fornecem informa��es e produzem conte�do, sem cobrar, para os "servidores-sereias". Estes t�m uma capacidade de processamento �nica, e transformam essas informa��es em trunfos para vender an�ncios. An�ncios que v�o atingir as mesmas pessoas que est�o trabalhando de gra�a sem perceber.
� um modelo de tudo para uns poucos, e nada para muitos. N�o forma uma classe m�dia --s� magnatas e prolet�rios. Por isso, na vis�o de Lanier, n�o vai se sustentar.
Como alternativa, o autor apresenta uma solu��o pol�mica: os micropagamentos. E d� o exemplo dos programas de tradu��o autom�tica, como o Google Translate e o velho BabelFish.
S�o servi�os prodigiosos. Fornecem tradu��es imediatas em dezenas de idiomas, mesmo os mais obscuros. S� que n�o funcionam por milagre. S�o abastecidos por tradu��es reais, feitas por seres humanos em algum lugar do passado.
Quando voc� pergunta ao Google Translate como se diz "quero comer um bife com batata frita" em polon�s, o que ele faz � consultar um n�mero astron�mico de tradu��es "humanas" em seu banco de dados, e deduzir a resposta. No caso, "Chcę zjeść stek z frytkami".
Pelo modelo de Lanier, os seres humanos que, l� atr�s, fizeram as tradu��es receberiam micropagamentos cada vez que seu trabalho fosse usado numa tradu��o on-line.
� um modelo complicado e ut�pico. Mesmo outros cr�ticos da internet, como Evgeny Morozov, o atacaram violentamente (vale ler Morozov espinafrando Lanier: is.gd/EtiO2P).
Ainda que n�o se concorde com as propostas de Jaron Lanier, n�o d� para negar a clareza de suas an�lises. Que o livro saia logo no Brasil.
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