Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
P�nico em SP
King's Road, 430, Londres. Nesse endere�o, havia uma butique. E nesse endere�o nasceu o punk.
A butique se chamava Sex. Seus donos eram o d�ndi Malcolm McLaren e a estilista Vivienne Westwood.
A Sex, dizia McLaren, tinha como objetivo "n�o vender absolutamente nada". Servia como ponto de encontro de desocupados e p�rias em geral.
Filhinho de papai criado pela av� --senhora judia muito chique, mas impiedosamente ausente--, McLaren (1946-2010) tinha sonhos de grandeza. Fez escola de arte. Suas ra�zes estavam no surrealismo, nos dada�stas e, principalmente, nos situacionistas de Guy Debord (1931-1994). Via a exist�ncia humana como um grande acontecimento radical, uma sucess�o de situa��es extremas, vida e arte indistingu�veis.
No in�cio, eram os Ramones e os New York Dolls. Can��es r�pidas e cruas, ant�tese do rock grandioso e autoindulgente que se praticava na �poca. Os Ramones e os Dolls eram de Nova York, n�o de Londres. Numa viagem aos EUA, McLaren os viu tocar e enxergou o futuro. S� faltava formatar aquela cena, que n�o tinha nem nome.
De volta � capital inglesa, McLaren se sentia corro�do pelo t�dio. Queria passar a Sex para frente, n�o conseguia. Queria formar uma banda, mas n�o sa�a do lugar.
Em uma carta para uma amiga, transcrita no livro "England's Dreaming", do jornalista Jon Savage, contou: "Escrevi letras para duas can��es, uma delas chamada 'Too Fast to Live Too Young to Die'. Imagino um cantor parecido com Hitler, aqueles gestos, aquele formato dos bra�os, e falando sobre a pr�pria m�e em frases incestuosas".
Em um certo momento, McLaren foi abordado por um dos in�meros vagabundos que passavam o dia na Sex. Era o delinquente juvenil Steve Jones, autor de pequenos e grandes furtos, muito bom na guitarra.
As mem�rias obsessivas de McLaren a respeito do novo rock visto em Nova York, mais a ambi��o de Jones por arrumar um ot�rio que bancasse sua banda: foi essa a fagulha do punk como hoje o conhecemos.
Juntaram-se � dupla o baterista Paul Cook, melhor amigo de Jones, e, no baixo, Glen Matlock (que depois seria substitu�do por Sid Vicious, um analfabeto musical por quem McLaren era obcecado).
Depois de muito procurarem um vocalista, escolheram outro vadio da trupe frequentadora da Sex, o mais intrat�vel e arrogante de todos: John Lydon, futuro Johnny Rotten.
Por mais que a iniciativa de formar o grupo tenha sido de Steve Jones, os Sex Pistols eram um experimento de McLaren. Vinham da mente de McLaren e sua s�cia/parceira Westwood a atitude agressiva, o visual de roupas rasgadas e alfinetes pendurados, as camisetas com mensagens e desenhos ofensivos (inclusive su�sticas, pura provoca��o). A pol�cia chegou a invadir a Sex para apreender roupas com estampas homoer�ticas.
Era 1976. Os Sex Pistols --e a m�stica deles-- consolidavam, aos empurr�es, seu lugar no "zeitgeist".
Corte r�pido para S�o Paulo, junho de 2013.
� beira de rios f�tidos, em meio � arquitetura opressiva, militantes de esquerda, playboys de sapat�nis, universit�rios de faculdades boas e ruins, patricinhas deslumbradas, manos casca-grossa, skatistas, tiozinhos descolados, at� alguns petistas vacilantes, todo mundo protesta contra n�o se sabe bem o qu�.
E, � claro, eles tamb�m est�o l�: os punks. Bandeiras anarquistas, coturnos, camisetas dos Ramones e Dead Kennedys, jaquetas do GBH. Nas franjas do tumulto, encarando a pol�cia, botando para quebrar.
S�o a ponta final de um fen�meno que come�ou logo depois do sucesso dos Pistols.
Na Londres da butique Sex, o punk nasceu como experimento est�tico. Mas, � medida que sua irradia��o crescia, o movimento ganhava outros contornos.
No interior da Inglaterra, o punk foi abra�ado por trabalhadores de baixa renda, brancos, revoltados contra estrangeiros que podiam tomar seus empregos. Da� foi s� um passo para alguns interpretarem literalmente a simbologia original. Derraparam para o nazismo.
De modo geral, o punk transferido ao Terceiro Mundo bebeu mais nessa fonte caipira inglesa do que no experimentalismo londrino. Como regra geral, os punks do hemisf�rio Sul adotaram uma rigidez quase militar, distante da atitude libert�ria de McLaren e disc�pulos.
Mas todas as ramifica��es do punk mant�m tra�os comuns, como o inconformismo e a rejei��o � pol�tica institucional. H� quase 40 anos, um dos p�steres mais famosos dos Sex Pistols j� previa: "N�s somos o futuro. O seu futuro."
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