Graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, tem especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT.
Um corpo no rio
Surgiu esta semana um corpo boiando no rio em Providence, capital de Rhode Island. Era Sunil Tripathi, estudante de filosofia em uma universidade americana de primeira linha, a Brown. Quando escrevo, ainda n�o se sabe como ele morreu.
Tripathi foi alvo de histeria nas redes sociais e sites colaborativos, especialmente no Reddit.com, muito influente nos Estados Unidos. Era acusado por justiceiros on-line pelos atentados de Boston.
Ele estava desaparecido desde mar�o. Descobriu-se no Facebook uma p�gina criada por parentes para tentar encontr�-lo. Algu�m julgou que o rapaz sumido se parecia com um dos suspeitos. Pronto: a informa��o errada se espalhou sem controle.
Como todos sabemos, n�s que seguimos a revista "Wired" e acompanhamos cada novidade do vale do Sil�cio, os sites colaborativos de not�cias surgiram para suplantar a "velha m�dia" --jornais, revistas, TVs, monstros sensacionalistas sedentos por lucros e pontos de audi�ncia.
O conte�do colaborativo, sem filtros ou media��es, seria um canal direto com a voz do cidad�o. Informa��o pura, nada de interesses ocultos. An�tema da imprensa estabelecida.
Se Sunil Tripathi n�o estivesse morto, poderia dar um grande depoimento sobre a qualidade e a precis�o das informa��es surgidas nas redes sociais.
Que fique claro: n�o se trata de negar a import�ncia das novas m�dias --especialmente do Twitter, feito sob medida para esse tipo de evento em que surgem novidades a cada minuto.
O assassinato de um policial no campus do MIT, por exemplo, foi narrado em tempo real por estudantes no Twitter, algo impens�vel no esquema tradicional da "velha m�dia".
Mas o que os atentados de Boston deixaram claro � que as rela��es entre "velha" e "nova" m�dia s�o muito mais nuan�adas do que supunham os gurus do jornalismo-cidad�o.
A "nova m�dia" funcionou, ao menos neste caso, como uma geradora de ru�dos aleat�rios. Uma avalanche de disson�ncia e distor��o, em meio � qual se descobriam umas poucas notas de melodia coerente.
Na hora em que se precisa de informa��o de qualidade e bem apurada, em quem confiar? Nos tu�tes de um garoto de 15 anos que v� a confus�o pela janela ou num texto apurado por seis rep�rteres e revisto por mais dois editores no "New York Times"?
Ser� que as redes sociais s�o de fato fontes soberanas de informa��o ou apenas geradoras de "fatos", "certezas" e boatos, a serem conferidos por profissionais do ramo?
E os canais de TV especializados em not�cias, como a CNN, perderam para a internet o monop�lio da informa��o imediata?
Como dez entre dez jornalistas, acompanhei pela CNN, desde o in�cio, a cobertura do atentado. E, no come�o, quase n�o havia informa��es.
S� uns poucos v�deos, repetidos seguidamente. A cobertura demorava a decolar. Os principais rep�rteres e apresentadores eram, provavelmente, chamados em casa para assumir as transmiss�es.
Demora um tempo at� que cheguem � TV, se arrumem, colham informa��es para n�o falar bobagem. Enquanto isso, o pessoal que est� no ar se vira como d�.
Come�a ent�o o "backlash" na internet. Vi jornalistas, alguns at� conhecidos, bradando contra a repeti��o de imagens, dizendo que era uma esp�cie de pornografia.
A raz�o de os v�deos serem reexibidos � �bvia: n�o havia dado tempo de obter nenhuma outra imagem. E, se a cobertura � ininterrupta, alguma coisa � preciso mostrar.
Agora, imagine o seguinte cen�rio: a CNN, para n�o ficar repetindo os v�deos, para n�o praticar "pornografia", decide sair do assunto e apresentar um daqueles programas mensais de golfe ou t�nis.
As mesmas vozes que clamavam contra a "pornografia" da viol�ncia iam se deliciar apontando a in�rcia da "velha m�dia", a falta de sintonia da imprensa tradicional com a realidade, iriam dizer que as informa��es quentes mesmo estavam no Twitter, no Facebook e no Reddit.
� um jogo imposs�vel de ganhar. Se entrou de cabe�a no assunto, est� praticando "pornografia". Se ignorou o tema, n�o entende o s�culo 21.
Talvez aconte�a, mas n�o foi com as bombas de Boston que a "nova m�dia" tomou o lugar da "velha" como portadora de informa��o confi�vel, ou pelo menos da mais confi�vel que se pode obter.
Agora, vem a investiga��o. A hist�ria contada pelas autoridades americanas est� cheia de lacunas. Vamos ver quem vai desvendar o caso. Se algum blogueiro ou tuiteiro que n�o sai da poltrona ou um rep�rter com fontes e tempo para mergulhar no assunto.
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