A bela da selva

Sob o sol do Caribe, de cabelos soltos e xale bege sobre a camisa azul bem justa, ela passeia pelo Malec�n de Havana, posando para fotos em frente a um convers�vel americano dos anos 1950 e a um p�ster gigante de Che Guevara.

Testa de Helen Hunt, olhos castanhos claros puxados, boca de Sabrina Sato, a mulher mostra intimidade com a c�mera. Parece que nasceu para ser fotografada.

Poderia ser qualquer turista europeia, talvez uma ex-modelo, em id�lio com a ilha dos irm�os Castro. Mas � a guerrilheira holandesa Tanja Nijmeijer, 34, que entrou para as For�as Armadas Revolucion�rias da Col�mbia h� dez e vive na selva desde ent�o.

Representantes das Farc e do governo colombiano voaram a Cuba para negociar um acordo de paz. Tanja est� l�, segundo a guerrilha, como porta-voz e tradutora. Foi mandada a Havana para brilhar.

E como brilha. Al�m da beleza incrivelmente intocada pelos anos de rala��o no mato, ela chama a aten��o pelo desembara�o com as palavras. Fala espanhol sem o menor sotaque holand�s, al�m de ingl�s e alem�o.

Tanja foi inclu�da de �ltima hora na delega��o. Dois mandados de pris�o foram suspensos para que viajasse a Cuba (um deles relativo ao sequestro de tr�s americanos, em 2003, os mesmos que seriam libertados pelas For�as Armadas, cinco anos depois, com Ingrid Betancourt).

Em um v�deo publicado no YouTube em 5/11, Tanja anunciou que iria a Havana. � um clipe musical, atravessado e malfeito. Lembra aqueles v�deos das seguidoras de Inri Cristo, em que, por cima da melodia de uma m�sica famosa, elas cantam letras de louvor ao guru fanfarr�o.

Com um guerrilheiro nos bong�s, Tanja no viol�o e mais um rapper e uma "backing vocalist", todos de uniformes das Farc, a can��o diz: "Eu tamb�m vou a Havana/ Porque conquistei essa honra/ Combatendo nas montanhas/ Com o povo e contra o terror". Assista aqui: is.gd/h1N2su.

At� esse v�deo, Tanja n�o era vista havia quase dois anos. Tinha sido mais um per�odo nebuloso na trajet�ria dessa holandesa que resolveu, de maneira radical, p�r em pr�tica seus ideais.

Tanja Nijmeijer estudou l�nguas latinas, com especializa��o em espanhol, na Universidade de Groningen, Holanda. Militava na cena alternativa: "squatting" (ocupa��o de casas ou pr�dios abandonados), movimento anarcopunk, veganismo. Boa na guitarra, f� de U2, poderia ter montado uma banda. Optou pela guerrilha.

No jornal da faculdade, viu um an�ncio para professores de ingl�s em Pereira, Col�mbia. Como, para se formar em espanhol, precisava de um semestre de pr�tica, n�o vacilou. Em 2000, veio para a Am�rica do Sul aperfei�oar o castelhano e ensinar ingl�s.

Ao voltar � Holanda, envolveu-se em grupos de apoio a insurgentes. Retornou � Col�mbia em uma certa "caravana pela paz". Mais uma breve temporada na Holanda e, na viagem seguinte a Bogot�, em 2002, entrou para a guerrilha.

Ganhou notoriedade mundial em 2007, quando, depois de um ataque a uma base das Farc, foram encontrados seus di�rios. Acabaram divulgados pela revista "La Semana".

Tanja reclamava da vida prec�ria e dos privil�gios dos comandantes e suas companheiras. Disse que, se um dia as Farc tomassem o poder, ver�amos seus l�deres em "Ferraris Testarossa, com as esposas de implantes nos peitos e comendo caviar".

Quando essas cr�ticas vieram a p�blico, a execu��o de Tanja pelos pr�prios companheiros era dada como certa. Mas escapou. Os chefes das Farc perceberam seu potencial como pe�a de propaganda. Virou auxiliar direta do chefe guerrilheiro Mono Jojoy.

O mundo externo, no entanto, n�o sabia de nada. S� houve certeza de que ela n�o tinha sido fuzilada em 2010, quando deu longas entrevistas em v�deo ao rep�rter Jorge Enrique Botero, que a localizou na selva.

Parecia o fim de um mist�rio. Mas, meses depois, Mono Jojoy foi eliminado pelas For�as Armadas. Muitos outros guerrilheiros tamb�m morreram no ataque, entre eles, tr�s mulheres. Era a forte a suspeita de que Tanja fosse uma delas. Mas Botero veio a p�blico: suas fontes nas Farc garantiam que Tanja estava viva.

A holandesa s� ressurgiu agora, em Cuba, fulgurante, fachada atraente para uma guerrilha sem rumo, escr�pulos ou ideologia. Pr�ximos passos, s� ela sabe. Aquele nariz de tra�os fortes, por�m delicados, tem uma �nica dona: Tanja Nijmeijer.

cby2k@uol.com.br