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�lvaro pereira j�nior
Jap�o gentil
A mocinha uniformizada entra correndo no vag�o. N�s t�nhamos nos conhecido, rapidamente, minutos antes. E j� estamos nos vendo de novo.
Cen�rio: uma esta��o de trens dentro do aeroporto Centrair, de Nagoya, Jap�o. � dali, �s 10h da manh�, que sai meu voo de volta ao Brasil. Para n�o ter erro, um dia antes j� me instalo em um hotel dentro do aeroporto. Mas s�o ainda 18h da v�spera da viagem. N�o h� nada para fazer em Centrair, que fica numa ilha artificial afastada da cidade (28 minutos se voc� der sorte de pegar o trem expresso; cerca de 50 se tomar o comum).
Melhor partir para o centro de Nagoya, mais precisamente o bairro Sakae, de "entretenimento", onde hordas de "salarymen", camisa branca, gravata preta, pele avermelhada pelo excesso de �lcool na circula��o sangu�nea, tomam as ruas cambaleantes, fieis � tradi��o japonesa de ir direto do trabalho para bebedeiras insanas.
Deixo o hotel, percorro um longo corredor vazio. Chego ao sagu�o do aeroporto (calmo para os padr�es japoneses), viro � direita e entro na esta��o ferrovi�ria. Ao cruzar a catraca, encontro duas jovens portando crach�s com tr�s palavras m�gicas: "English-speaking staff".
"'Onegaishimasu', estou indo para o centro de Nagoya, e quero voltar no �ltimo trem. A que horas ele sai de l�?"
A que falava ingl�s melhor fica em d�vida, pergunta para a colega. Ent�o crava: "Onze e meia da noite".
"Arigat� gosaimasu", e l� vou eu para o trem. O primeiro vag�o est� meio cheio, o segundo idem. L� pelo quarto ou quinto, eu entro.
Antes que a composi��o se mova, percebo que algu�m chega correndo. � a mocinha boa de ingl�s, que conseguiu me encontrar naquele vag�o t�o distante das catracas. Precisa falar comigo.
"Desculpe, eu dei uma informa��o errada."
"Qual?"
"Eu disse que o �ltimo trem sai de Nagoya �s 11 e meia. � �s 11 e 15."
*
A noite ferve em Sakae. � um Baixo Augusta (SP) multiplicado por 100 mil, uma Prado J�nior (RJ) vezes 1 milh�o.
Pr�dios inteiros de karaok�s, outros de restaurantes. Bares, bares, bares. Estabelecimentos oferecem mo�as para os mais variados graus de intimidade: s� para conversar, ou s� para ver strip-tease sem poder tocar, ou para ver strip-tease e pegar, ou sabe-se l� mais o qu� (n�o entrei em nenhum, quem me explicou foi o porteiro de um deles --International Big Tits Bar!--, que pelo sotaque identifiquei na hora como brasileiro e revelou ser da Vila Matilde, zona leste paulistana).
Paro para jantar. �ltima noite, tudo � festa. Sei que eles n�o aceitam gorjeta, mas pago a conta, deixo um pouco a mais e me mando. J� na cal�ada, enquanto acostumo os olhos, que trocavam o balc�o escuro pelo n�on de Sakae, noto uma mo�a vindo atr�s de mim. Era a gar�onete. Para devolver o troco.
*
Manh� final no Jap�o, aeroporto de Nagoya. Fa�o as �ltimas compras, tomando um baile das pilhas de moedas japonesas que ainda restavam. Minha completa falta de coordena��o motora faz com que, a cada minuto, eu derrube todas no ch�o.
A vendedora fica com pena. E me oferece um saquinho branco, com o logotipo da loja. Em um primeiro momento, n�o entendo o que �. At� que ela pega minhas moedas e come�a a organiz�-las. N�o era um quebra-galho. Era um saquinho feito s� para isso: para os turistas guardarem moedas.
*
Teve tamb�m o balc�o do correio de Kyoto, com uma gama de �culos de leitura para empr�stimo. Se o cliente que vai preencher os envelopes n�o enxerga direito, � s� pegar um.
Teve o sushiman do delicioso Sushi Bun, dentro do mercado de peixes Tsukiji, em T�quio, explicando, com tradu��o da querida Mari Hirata, que sushi � comida sem muita frescura, quase um "fast food", e que, se a gente conhecesse algu�m que faz sushi e bota muita banca, era s� levar l� que eles enquadravam o sujeito.
E teve o tiozinho que, ao chegar em casa, viu a turista ocidental se protegendo da chuva sob a marquise do pr�dio dele. Tirou a jaqueta branca de nylon leve, colocou sobre os ombros da mo�a e seguiu adiante. Subiu sozinho para o apartamento, sem dizer uma palavra.
�lvaro Pereira J�nior � graduado em qu�mica e jornalismo pela USP, com especializa��o em jornalismo cient�fico pelo MIT. Trabalha no programa 'Fant�stico', na TV Globo. Escreve aos s�bados, a cada duas semanas.
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