A linguagem da delinquência explica o Rio e, por extensão e contágio, o Brasil, onde a segurança pública está atrelada ao marketing político. O objetivo não é resolver o problema e sim permanecer no poder. Um poder disfuncional que destrói as já fragilizadas estruturas administrativas. A autoridade se transforma numa gigantesca milícia, com fome de dinheiro e instinto de autopreservação. O crime organizado não é mais o inimigo, torna-se oficial.
"É melhor você acertar antes o crime do que esperar um bote." A frase, segundo o relatório da PF, é do conselheiro do Tribunal de Contas Domingos Brazão ao explicar a Ronnie Lessa o esquema de acobertamento do assassinato de Marielle Franco, do qual participava o chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa. Além da proteção, ficou combinado o "embuchamento" —destruir provas, atribuir o delito a outros e encerrar com rapidez as investigações.
O delegado Rivaldo assumiu o cargo na véspera do homicídio —parece até a senha para que ele fosse cometido—, quando o Rio estava sob intervenção federal chefiada pelo general Braga Netto. Tentativa de salvar a popularidade de Temer, a atuação dos militares em 2018 não modificou o quadro de insegurança e rendeu uma penca de casos de corrupção ainda não esclarecidos. Acabou pavimentando a entrada das Forças Armadas, sobretudo do Exército, na política, com a sedução golpista ofertada por Bolsonaro.
O clã Brazão tem o dom da ubiquidade. Sua influência nociva vem de antes do governo Cabral e se estende até o de Cláudio Castro. Os tentáculos estão no Congresso, Alerj, prefeitura, TCE, Loterj, Detro, hospitais, Fundação da Infância e Adolescência e, vital para seus planos, nas polícias Civil, Militar e Federal.
Para a família com base em Jacarepaguá, cuja ligação com milicianos é denunciada desde 2008, não existe polarização. Tanto faz bolsonarismo quanto petismo.
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