Ao subverter a máxima do Barão de Itararé (“De onde menos se espera, daí é que não sai nada”), as torres do Porto Maravilha começam a deixar as pranchetas. O sonho —ou o pesadelo— de brotar uma Dubai no Rio, transformando os espaços vazios da zona portuária num centro habitacional-financeiro, com prédios de até 50 andares, segue vivo depois de quase ter sido sepultado no período de ressaca pós-Olimpíadas. Com essa nem o prefeito Eduardo Paes contava.
O nome naturalmente tinha de ser enfeitado: Rio Wonder Residences. Perto da rodoviária, serão três edifícios de 20 andares; no total, 1.224 apartamentos, a maioria dos quais negociados na planta. Na onda, a prefeitura vendeu um terreno de 7.175 m2 na Via Binário por R$ 15 milhões para a mesma construtora, que projeta mais um condomínio residencial, com 800 unidades.
O Porto Maravilha, cujo espaço é equivalente a uma Copacabana inteira, é um fundo imobiliário com base nos Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) e administrado pela Caixa Econômica Federal. Em 2009, quando foi decidida a parceria público-privada, a previsão era um investimento de R$ 4 bilhões, o qual deu com os burros na baía de Guanabara. O prefeito está disposto a propor melhores condições para a Caixa, desde que ela tire da gaveta os Cepacs.
De volta, o otimismo aposta no adensamento urbano. A produção de residências passaria do porto para São Cristóvão e se estenderia até a zona norte —é o desejado Super Centro. O auge da megalomania é a área de 10 mil m2 batizada de Porto Maravalley, onde se concentrariam empresas de tecnologia, criando uma espécie de Vale do Silício carioca.
Enquanto isso, o velho Centro —que entesoura a história da cidade, mas não tem superpoderes contra o abandono e os efeitos da pandemia— ainda é um deserto. Incrível: você anda, anda, anda e não encontra nem uma roda de samba.
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