No feriado de Corpus Christi, saí cedo de casa para comprar pão e havia algo errado. E era comigo, as pessoas me olhavam com cara feia. Eu estava usando a máscara, então o que poderia ser? A camisa da seleção brasileira. Um exemplar feito de encomenda pela livraria Folha Seca reproduzindo tal e qual o uniforme da conquista no México em 1970: canarinho, gola careca, detalhes em verde nas mangas, nas costas o número sete do Jairzinho.
Na quinta (3), Sérgio Rodrigues propôs, em sua coluna na Folha, que a camisa amarela —vítima de sequestro pela turba da extrema direita— fosse aposentada para sempre num museu, transformando-se o segundo jogo, o azul, em primeiro. É triste, mas tenho de concordar com Sérgio.
O mais chato é que o problema não está só no uniforme —que alguns comentaristas esportivos já chamam de "fardamento", você veja para onde estamos indo. Está também no futebol burocrático da seleção, que não apaixona mais os torcedores. Virou o time da camisa amarela, formado por jogadores milionários que atuam na Europa, sem ligação afetiva com o povo que empobrece por aqui. Um grupo que exibe no peito, sem envergonhar-se, o escudo da CBF, empresa com farto histórico de corrupção e cujo presidente foi afastado após uma acusação de assédio sexual.
A discussão ganhou novas cores (vermelhas!) quando o professor Tite e os jogadores ensaiaram não disputar a Copa América no Brasil. Logo os patriotas passaram a exigir a cabeça do técnico "comunista", que até agora ganhou todos os jogos nas Eliminatórias, e a contratação de Renato Gaúcho ou Dunga, afinados com o ideal bolsonarista.
A seleção no fim resolveu jogar, desagradando todos os lados. É uma unanimidade: ninguém gosta dela. E Bolsonaro perdeu a chance de convocar o time society do condomínio Vivendas da Barra para disputar a Cepa, digo, Copa América, com Queiroz no lugar do Neymar.
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