Em 2009, a reboque das obras de restauração na zona portuária, iniciou-se uma série de descobertas arqueológicas, a principal delas o cais do Valongo, apontado como principal entrada de escravos na cidade. O sítio histórico ganhou da Unesco o título de patrimônio da humanidade. Hoje está abandonado pela mesma prefeitura de Marcelo Crivella que acaba de vetar a lei que declara o quilombo da Pedra do Sal como patrimônio imaterial.
Em outros pontos do Rio, as descobertas se sucedem a cada escavação. Ano passado, um reparo da Cedae na praça que fica no meio da rua General Glicério, em Laranjeiras, desenterrou dois cofres antigos —que estavam vazios—, vestígios da fábrica de tecidos Aliança que ali funcionou até 1939.
Um amigo meu, dos mais sonhadores, já pensa em reiniciar as buscas pelo tesouro escondido nas catacumbas do demolido morro do Castelo. Essa lenda carioca rendeu um delicioso folhetim de Lima Barreto.
Pois agora se desconfia que a expansão do VLT, no Centro, terá de passar por cima de outro sítio arqueológico: um cemitério de pretos novos —africanos mortos ao chegar à cidade ou durante a viagem de navio para o Brasil— que poderia ter existido em frente à igreja de Santa Rita, entre 1722 e 1796, ano em que o mercado de escravos foi transferido da área urbanizada para a região do Valongo. No local foram encontrados fragmentos de ossos humanos, pedaços de faiança, porcelana, vidro, cerâmica e alguns cachimbos.
Autor do livro já clássico “O Rio de Janeiro Setecentista”, o historiador Nireu Cavalcanti acredita que perto da igreja existiu, sim, um cemitério. Mas nele eram sepultados paroquianos, e não pretos novos.
“É mais um factoide, outra picaretagem”, decreta Nireu, cuja veia polêmica vai ainda mais longe: “No cais do Valongo, não desembarcaram escravos. Isso acontecia na antiga Alfândega, em frente à atual rua de mesmo nome”.
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