Descrição de chapéu The New York Times África

Leão de três patas e irmão cruzam canal cheio de crocodilos em Uganda; veja

Pesquisadores dizem que travessia de cerca de 1,5 quilômetro foi a mais longa já registrada por grandes felinos

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Anthony Ham
The New York Times

Numa noite escura de fevereiro, dois leões estavam nas margens rasas do canal Kazinga, no Parque Nacional Queen Elizabeth, em Uganda, e olhavam para a frente. A cerca 1,5 quilômetro de distância estava a margem do outro lado. Hipopótamos e crocodilos habitam o canal, cuja profundidade por atingir seis metros em alguns pontos.

Por volta de 12 horas antes, os dois machos haviam perdido uma batalha por território e tiveram sorte de ainda estarem vivos. Permanecer naquele lado do canal era perigoso, e eles provavelmente podiam ouvir os rugidos de leoas ao longe.

Assim como muitas espécies de felinos, os leões não gostam de nadar. E um dos leões, conhecido como Jacob pelos pesquisadores, tem apenas três patas. Ele perdeu um membro em uma armadilha de caçadores em 2020.

Jacob e seu irmão, Tibu, partiram para o que pesquisadores definem como a maior travessia já registrada de leões. Os cientistas descrevem suas descobertas em um artigo que foi aceito para publicação no periódico Ecology and Evolution.

Os irmãos tiveram dificuldades em suas três primeiras tentativas de travessia. Durante a segunda, o drone que os rastreava captou um sinal do poderia ser de um crocodilo ou um hipopótamo em perseguição; os dois leões se separaram em uma formação de Y antes de voltarem apressadamente para a margem.

Menos de uma hora após a primeira tentativa, os dois partiram novamente pela terceira vez. O caminho parecia livre e eles continuaram até atravessarem o canal.

"Foi bastante dramático", disse o biólogo Alexander Braczkowski, que trabalha com as universidades Griffith (Austrália) do Norte do Arizona e que estuda os leões desde 2017. "Parecem dois pequenos sinais de calor cruzando um oceano."

O canal Kazinga divide o parque nacional ao meio. Braczkowski e sua equipe tinham visto Jacob e seu irmão do outro lado do canal três vezes e, então, concluíram que os leões tinham nadado entre as duas margens. Mas faltava uma prova registrada disso.

Leões foram observados nadando no delta do Okavango, em Botsuana, mas raramente por mais de 45 metros. Em 2012, um leão nadou cerca de cem metros no rio Zambeze, do Zimbábue para a Zâmbia. Em novembro de 2023, um jovem leão nadou no rio Rufiji, no sul da Tanzânia, cruzando 300 metros. Algumas evidências sugerem que leões nadaram entre a costa do lago Kariba (também na fronteira entre Zâmbia e Zimbábue) e uma das ilhas do lago, uma distância de quase um quilômetro —isso nunca foi confirmado em vídeo.

Outros grandes felinos se sentem mais à vontade na água. Onças-pintadas são conhecidas por caçar jacarés em rios no Brasil. Um estudo de 2022 relatou uma travessia de quase 1,2 quilômetro por um puma no Puget Sound, na costa do estado de Washington. No mesmo ano, um tigre nadou uma distância semelhante do rio Brahmaputra, no norte da Índia.

Braczkowski estimou que os dois leões em Uganda nadaram cerca de 1,5 quilômetro no canal de Kazinga.

Mas por que eles fariam uma travessia tão perigosa?

"Sexo", disse Craig Packer, que liderou o Projeto Leão do Serengeti por 35 anos e não esteve envolvido no estudo. "Se não há ninguém para acasalar, o que você está fazendo? Você é um leão. Você não tem uma vida útil muito longa, então você tem que seguir em frente, especialmente se estiver ferido."

Condições locais também desempenharam um papel. Segundo Braczkowski, a população de leões do parque caiu. Em 2018, eram 71. Hoje, são cerca de 40. Ao menos 17 animais foram envenenados por moradores da região que visam proteger seu gado. A atual proporção é de dois machos para uma fêmea.

A travessia pode ser um sintoma desse quadro, na avaliação de Braczkowski. "Os machos não estão encontrando fêmeas na área onde tinham território. As únicas fêmeas com as quais podem se acasalar podem estar do outro lado do canal."

Com isso, acrescentou Packer, os leões podem decidir se arriscar em outro lugar.

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