R�pteis t�m atividade cerebral t�pica de sonhos humanos, revela estudo
Dr. Stephan Junek, Max Planck Institute for Brain Research | ||
![]() |
||
Estudo mostra que lagartos atingem padr�o de sono que, em humanos, permite o surgimento de sonhos |
Ser� que os lagartos sonham com ovelhas escamosas? Ningu�m ainda foi capaz de enxergar detalhadamente o que acontece no c�rebro de tais bichos para que seja poss�vel responder a essa pergunta, mas um novo estudo revela que o padr�o de atividade cerebral t�pico dos sonhos humanos tamb�m surge nesses r�pteis quando dormem.
Trata-se do chamado sono REM (sigla inglesa da express�o "movimento r�pido dos olhos"), que antes parecia ser exclusividade de mam�feros como n�s e das aves. No entanto, a an�lise da atividade cerebral de um lagarto australiano, o drag�o-barbudo (Pogona vitticeps), indica que, ao longo da noite, o c�rebro do animal fica se revezando entre o sono REM e o sono de ondas lentas (grosso modo, o sono profundo, sem sonhos), num padr�o parecido, ainda que n�o id�ntico, ao observado em seres humanos.
Liderado por Gilles Laurent, do Instituto Max Planck de Pesquisa sobre o C�rebro, na Alemanha, o estudo est� saindo na revista especializada "Science". "Laurent n�o brinca em servi�o", diz Sidarta Ribeiro, pesquisador da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e um dos principais especialistas do mundo em neurobiologia do sono e dos sonhos. "Foi feita uma demonstra��o bem clara do fen�meno."
A metodologia usada para verificar o que acontecia no c�rebro reptiliano n�o era exatamente um drag�o de sete cabe�as. Cinco exemplares da esp�cie receberam implantes de eletrodos no c�rebro e, na hora de dormir, seu comportamento foi monitorado com c�meras infravermelhas, ideais para "enxergar no escuro". Os animais costumavam dormir entre seis e dez horas por noite, num ciclo que podia ser mais ou menos controlado pelos cientistas do Max Planck, j� que eles � que apagavam e acendiam as luzes e regulavam a temperatura do recinto.
O que os pesquisadores estavam medindo era a varia��o de atividade el�trica no c�rebro dos drag�es-barbudos durante a noite. S�o essas oscila��es que produzem o padr�o de ondas j� conhecido a partir do sono de humanos e demais mam�feros, por exemplo.
S� foi poss�vel chegar aos achados relatados no novo estudo por causa de seu n�vel de detalhamento, diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e colunista da Folha. "Estudos anteriores menos minuciosos n�o tinham como detectar sono REM porque, nesses animais, a altern�ncia entre os dois tipos de sono � extremamente r�pida, a cada 80 segundos", explica ela, que j� tinha visto Laurent apresentar os dados num congresso cient�fico. Em humanos, os ciclos s�o bem mais lentos, com dura��o m�dia de 90 minutos.
Al�m da semelhan�a no padr�o de atividade cerebral, o sono REM dos r�pteis tamb�m tem correla��o clara com os movimentos oculares que lhe d�o o nome (os quais lembram vagamente a maneira como uma pessoa desperta mexe os olhos), conforme mostraram as imagens em infravermelho.
DORMIR, TALVEZ SONHAR
A primeira implica��o das descobertas � evolutiva. Embora dormir seja um comportamento aparentemente universal no reino animal, o sono REM (e talvez os sonhos) pareciam exclusividade de esp�cies com c�rebro supostamente mais complexo. "Para quem estuda os mecanismos do sono, � um estudo fundamental", afirma Suzana.
Acontece que tanto mam�feros quanto aves descendem de grupos primitivos associados aos r�pteis, s� que em momentos bem diferentes da hist�ria do planeta - mam�feros j� caminhavam pela Terra havia dezenas de milh�es de anos quando um grupo de pequenos dinossauros carn�voros deu origem �s aves. Ou seja, em tese, mam�feros e aves precisariam ter "aprendido a sonhar" de forma totalmente independente. O achado "resolve esse paradoxo", diz Ribeiro: o sono REM j� estaria presente no ancestral comum de todos esses vertebrados.
O trabalho do pesquisador brasileiro e o de outros especialistas mundo afora tem mostrado que ambos os tipos de sono s�o fundamentais para "esculpir" mem�rias no c�rebro, ao mesmo tempo fortalecendo o que � relevante e jogando fora o que n�o � importante. Sem os ciclos alternados de atividade cerebral, a capacidade de aprendizado de animais e humanos ficaria seriamente prejudicada.
Tanto Ribeiro quanto Suzana, por�m, dizem que ainda n�o d� para cravar que lagartos ou outros animais sonham como n�s. "Talvez um dia algu�m fa�a resson�ncia magn�tica em lagartos adormecidos e veja se eles mostram a mesma reativa��o de �reas sensoriais que se v� em humanos em sono REM", diz ela. "Claro que os donos de cachorro t�m certeza que suas mascotes sonham, mas o ideal seria fazer a decodifica��o do sinal neural", uma t�cnica que permite saber o que uma pessoa imagina estar vendo quando sonha e j� foi aplicada com sucesso por cientistas japoneses.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade