Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, no cargo de alta comiss�ria da ONU para os Direitos Humanos, disse que vai acompanhar o Brasil em rela��o ao tema. H� muita expectativa, dentro e fora do pa�s, como ser�o tratadas as minorias depois da posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
� uma d�vida pertinente. Sua postura durante d�cadas de vida p�blica e tamb�m ao longo da campanha sempre foi de desd�m em rela��o aos movimentos identit�rios, o que acendeu o alerta de que as minorias venham a perder direitos. Bolsonaro coleciona frases e posicionamentos que n�o deixam d�vida sobre sua natureza machista, racista e homof�bica. Mas apenas a partir da posse saberemos a realidade entre o discurso e a pr�tica.
Terminada a elei��o, passamos por uma calmaria e temos a chance de tirar a cabe�a para fora de nossas bolhas limpinhas. E a dura verdade � que o Brasil precisaria ser um pa�s muito melhor para que pud�ssemos afirmar que estamos a caminho do retrocesso, a palavra mais pronunciada por eleitores de centro-esquerda nos �ltimos meses. T�o alardeado por gente de classes privilegiadas, retrocesso � a realidade de sempre da maioria pobre do pa�s.
Mesmo com todos os avan�os sociais conquistados, o Brasil tem desempenho med�ocre em distribui��o de renda, igualdade de g�nero, direitos LGBT, educa��o, combate � viol�ncia. O que fica claro com a onda conservadora que levou ao poder um presidente autorit�rio � que muitas das conquistas t�m alicerces fr�geis, que ser�o colocados � prova.
Mas nada justifica tamanha histeria nas elei��es que, al�m de produzir falsos ataques, deu a impress�o de que viv�amos num pa�s civilizado, prestes a voltar � Idade M�dia. O temido empoderamento dos eleitores radicais de direita n�o aconteceu e ainda n�o voltamos a v�-los fazendo amea�as de que "Bolsonaro vai matar viado" e "negro vai voltar para a senzala".
� o futuro governo quem dar� o tom de como os radicais v�o se comportar e como a resist�ncia, j� anunciada, ir� reagir. Ele n�o s� ser� cobrado, mas responsabilizado, porque boa parte da sociedade n�o aceitar� que o pa�s ande para tr�s o pouquinho que conseguimos avan�ar.
O an�ncio de Damares Alves como ministra das Mulheres, da Fam�lia e dos Direitos Humanos foi recebido com ressalvas. Em sua primeira entrevista, ela deu declara��es pol�micas, mas tamb�m outras que deveriam nos deixar um pouco aliviados. Sobre o casamento gay, disse que � um direito civil garantido. Se colocou ao lado dos ind�genas, inclusive ao contestar que a Funai seja subordinada ao Minist�rio da Agricultura e declarou guerra � pedofilia.
Agora � torcer para que, como presidente, Bolsonaro seja diferente do candidato que n�o respeita os direitos humanos. Ser� o estelionato eleitoral mais celebrado da hist�ria.
Mariliz Pereira Jorge � colunista da Folha.