An�lise: Um esbo�o de 2019 na neblina do fim de 2018

Em 2000, este rep�rter trabalhava como correspondente da Folha em Nova York e foi assistir a uma aula na Universidade Columbia de renomado professor de jornalismo cuja especialidade ele definia como "futurismo", uma tentativa acad�mica de antever tend�ncias na m�dia.

Suas apresenta��es pareciam espet�culos teatrais. Antecedido por som e luzes, ele subiu ao palco naquela manh� e anunciou: "Trago em meu bolso a m�dia do futuro, pela qual voc�s em alguns anos receber�o uma infinidade de informa��es todas as manh�s em casa!".

Sacou triunfante um CD-ROM e foi recebido por um "����" entusiasmado da plateia.

Relembro o rid�culo do professor, ao apostar como solu��o do futuro num suporte que nem existe mais, para dizer qu�o perigosas s�o as previs�es no jornalismo.

Alberto Rocha/Folhapress
Andar de Cima', obra de Renata Lucas, na Casa do Povo, no Bom Retiro
'Andar de Cima', obra de Renata Lucas, na Casa do Povo, no Bom Retiro

Como escreveu Otavio Frias Filho (1957-2018), diretor de Reda��o da Folha morto prematuramente em agosto, em um texto intitulado "Fact�ides", publicado em 2001:

"A realidade � o que resta das previs�es pol�ticas depois de devastadas pelo imprevisto".

Ainda assim, aqui estamos, tentando desenhar um esbo�o de 2019 na neblina do fim de 2018. Parece razo�vel supor que o pr�ximo ano ser� de esperan�a.

Espera-se que:

→ o presidente eleito, Jair Bolsonaro, aja segundo seus discursos de vit�ria e diploma��o, n�o de acordo com a ret�rica de campanha e suas declara��es extremistas do passado;

→ ele fa�a um bom governo, para os 210 milh�es de brasileiros, n�o apenas para os que o elegeram, respeitando a Constitui��o e o estado democr�tico de direito;

→ a economia volte a crescer, e o desemprego, a cair, com infla��o e os juros em n�veis civilizados;

→ uma reforma consistente da Previd�ncia seja aprovada –logo;

→ a corrup��o seja contida, mas igual energia seja despendida para enfrentar o verdadeiro mal que assola o pa�s: a incompet�ncia e a m� gest�o;

→ o mundo derrube muros, n�o construa novas barreiras –f�sicas ou virtuais;

→ o politicamente correto n�o cerceie o discurso livre; a onda conservadora n�o cale a voz das minorias;

→ a justificada preocupa��o com a seguran�a p�blica n�o atropele as liberdades individuais;

→ o mundo digital seja norteado pelas regras de bom senso;

→ o jornalismo profissional siga sendo valorizado, como mostrou campanha espont�nea de apoio a assinaturas da Folha iniciada por leitores depois de ataques do presidente eleito.

Sobretudo, findo 2019, espera-se que a esperan�a n�o tenha sido em v�o.

S�rgio D�vila, editor-executivo da Folha

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