O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Com enchentes no RS, entra água no Brasileiro

Calendário apertado complica remarcação de jogos; para evitar deformar classificação, competição deveria ser interrompida

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São dias de cenas impressionantes no Rio Grande do Sul, que vive o caos provocado pela crise climática que atingiu e ainda atinge em cheio o estado mais meridional do Brasil.

As chuvas intensas e constantes resultaram na morte de dezenas de pessoas e deixaram centenas desalojadas ou desabrigadas. Há outras muitas desaparecidas, o que tende a aumentar o saldo de óbitos –eram 90 quando eu redigia este texto.

Imagens mostram cidades em cenário trágico, com as águas inundando casas, estabelecimentos comerciais, espaços públicos.

E também instalações esportivas. Em Porto Alegre (o "alegre" hoje perde o sentido), nos estádios de Grêmio e Internacional, os maiores times gaúchos, não se via grama, mas lama.

Renato Portaluppi, o Renato Gaúcho, técnico do Grêmio, teve de ser, de acordo com relato de sua filha Carol, resgatado de uma área de risco.

Imagem feito por drone do estádio do Grêmio, em Porto Alegre, com o gramado enlameado depois de ser tomado pelas águas decorrentes das intensas chuvas no Rio Grande do Sul
O estádio do Grêmio, em Porto Alegre, enlameado depois de ser tomado pelas águas decorrentes das intensas chuvas no Rio Grande do Sul - Amanda Perobelli - 6.mai.2024/Reuters

A tragédia, afora o drama humano, que é insuperável, afeta o Campeonato Brasileiro. Também está, conforme a expressão popular, entrando água nele, e é necessário pensar o que fazer para não malograr de vez.

É lógico e óbvio que, na atual situação, o futebol torna-se secundário, marginal, até porque impraticável no RS, que conta com três clubes entre os 20 da Série A do Brasileiro –além de Grêmio e Inter, o Juventude (de Caxias do Sul).

Treinos estão inviabilizados, não há como viajar para outras praças, já que o aeroporto da capital está inoperante e as estradas, intransitáveis, o que tornou compulsório o adiamento dos jogos das três equipes na quinta rodada do Brasileiro.

Nesta segunda-feira (6), o trio de clubes solicitou que suas partidas sejam suspensas pelas próximas três semanas, ou seja, pelo restante do mês de maio. Seria o tempo necessário para, caso as chuvas cessem, a reorganização da estrutura e o reinício das atividades.

Se isso ocorrer, Grêmio, Inter e Juventude deixariam de ir a campo, cada um, em três rodadas do Brasileiro, afora os compromissos em outras competições –Libertadores (Grêmio), Sul-Americana (Inter) e Copa do Brasil (os três).

A não realização dessa série de partidas causará transtornos esportivos.

Reduzindo a problemática ao Brasileiro para simplificar a gravidade do quadro, no começo de junho haverá, ao se olhar para a classificação do campeonato, clubes com oito jogos realizados; outros, como os gaúchos, com a metade (quatro); e o restante, uns com cinco, uns com seis, uns com sete partidas.

Uma bagunça que causará enorme dificuldade para o interessado na competição identificar como está a corrida pelo título, a busca por vaga em torneio sul-americano, a luta contra o rebaixamento.

Isso só se tornaria claro novamente quando as partidas atrasadas fossem todas disputadas, deixando os 20 times –ou ao menos a ampla maioria– com o mesmo número de jogos.

Porém o calendário dificilmente permitirá esse ajuste. As datas de meio de semana são destinadas a Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana, e o próprio Brasileiro reserva quartas e quintas para realizar várias rodadas.

Com um agravante: será necessário encontrar datas para a realização dos confrontos adiados dos gaúchos em Sul-Americana e Libertadores (diante de equipes estrangeiras) e Copa do Brasil (Internacional e Juventude, aliás, duelam na fase atual).

Na minha perspectiva, não há como encaixar a reposição desses jogos do Brasileiro até a 38ª e última rodada, no começo de dezembro, atuando duas vezes por semana.

A não ser que as equipes com jogos devedores, em especial as do RS, sejam rapidamente eliminadas de outros torneios. Aí talvez os encaixes, a partir da metade de julho, sejam viáveis.

A melhor fórmula para tentar resolver esse imbróglio que se apresenta iminente é a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) paralisar o Brasileiro até que Grêmio, Inter e Juventude estejam aptos a competir.

Ninguém joga.

Essa medida evitaria grandes distorções na classificação, e os finais de semana poderiam ser utilizados para adiantar a Copa do Brasil (torneio eliminatório), "abrindo" datas que seriam dela nos meses à frente.

E, se necessário for, o Brasileiro pode ser esticado durante o restante do mês de dezembro.

Não é o ideal, pois qualquer modificação no calendário afeta o da temporada seguinte. Porém, em um panorama de emergência, de calamidade pública, parece o mais sensato a ser feito.

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