Mensageiro Sideral

De onde viemos, onde estamos e para onde vamos

Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Terra tem asteroide de 1,2 km que a segue em sua órbita

Estudo confirma descoberta de segundo troiano terrestre, bem como seu tamanho

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Graças a dados do telescópio Soar, observatório do qual o Brasil é sócio majoritário no Chile, pesquisadores confirmaram que a Terra tem um asteroide de 1,2 km de diâmetro que acompanha o planeta em sua órbita ao redor do Sol.

Muito tem sido dito sobre os pontos de libração (ou lagrangianos) de um sistema como o Terra-Sol, agora que o Telescópio Espacial James Webb se instalou em um deles, o L2, localizado a 1,5 milhão de km da Terra, acompanhando o planeta em seu passeio pelo carrossel solar. Mas outros dois pontos do mesmo tipo, L4 e L5, ficam exatamente na órbita terrestre, a 60 graus do planeta, um adiante e outro atrás.

Eles servem, assim como os demais, como uma espécie de estacionamento natural, em que a gravidade dos dois astros (Sol e Terra, no caso) se contrabalança para estabilizar objetos ali localizados. Vale para naves, como o Webb, e também para asteroides, que, quando param por lá, são chamados de troianos.

Concepção artística do asteroide 2020 XL5, um troiano terrestre
Concepção artística do asteroide 2020 XL5, um troiano terrestre - NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spa

O termo foi originalmente usado para descrever os pedregulhos que ficam nos pontos L4 e L5 do sistema Júpiter-Sol, acompanhando o planeta gigante em sua órbita. Mas em tese qualquer mundo com massa suficiente pode tê-los. Com efeito, há troianos associados a todos os gigantes gasosos e a quase todos os rochosos (só Mercúrio não teve ao menos um objeto desse tipo descoberto).

O primeiro troiano terrestre a ser achado foi o 2010 TK7, detectado, adivinhe só, em 2010. O segundo, esmiuçado agora, pintou uma década depois, quando o telescópio Pan-Starrs1, no Havaí, descobriu o 2020 XL5. Mas, por ocasião de sua descoberta, era possível que fosse apenas um asteroide de passagem, não um troiano.

Contudo, uma busca nas imagens de arquivo da DECam, câmera do projeto Dark Energy Survey, revelou a posição do objeto em vários momentos entre 2012 e 2019. Somando-a às novas observações, foi possível determinar a órbita e constatar que de fato ele acompanha a Terra –e assim o fará por pelo menos mais uns 4.000 anos, até ser perturbado gravitacionalmente e pegar outro caminho.

Os dados do Soar em particular permitiram estimar o tamanho e a composição do 2020 XL5. Trata-se de um asteroide tipo C, rico em carbono, e seu diâmetro é dos grandões. Com 1,2 km, ele tem o triplo do tamanho do 2010 TK7. Ambos estão localizados no L4, um ponto lagrangiano que viaja à frente da Terra em sua órbita. No L5, que vem na esteira do trajeto do planeta em torno do Sol, ainda não encontraram nada.

Os pontos de libração (ou de Lagrange) no sistema Terra-Sol; o Telescópio Espacial James Webb fica no L2; os dois asteroides troianos conhecidos ficam no L4.
Os pontos de libração (ou de Lagrange) no sistema Terra-Sol; o Telescópio Espacial James Webb fica no L2; os dois asteroides troianos conhecidos ficam no L4. - NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva

O resultado foi publicado no periódico Nature Communications e pode ser só mais um em uma lista: é bem possível que a Terra tenha outros troianos esperando para ser descobertos. Marte, apesar de muito menor, tem pelo menos nove (e possivelmente 14, se contarmos os objetos ainda não listados oficialmente como troianos). Facilita, nesse caso, estar perto de um grande repositório, o cinturão de asteroides.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.