Café na Prensa

Tudo sobre a bebida, do grão à xícara

Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu café

Cafeteria de SP lança um dos cafés mais valorizados do mundo por R$ 200 cada 20 g

Misto de sorte e habilidade fez com que grãos do produtor que venceu concurso mais cobiçado do setor viessem parar no Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A cafeteria paulistana Um Coffee Co. lança nesta segunda-feira (24) quatro cafés da variedade geisha, sendo que um deles é do produtor atual campeão do Best of Panama –que veio parar no Brasil por um lance de sorte e destreza.

O concurso elege anualmente os melhores cafés do Panamá. Como é o país produtor dos mais nobres grãos da variedade geisha, que é altamente valorizada no mercado internacional, os vencedores acabam sendo arrematados por valores exorbitantes em disputados leilões. É, pois, o concurso mais valorizado do mundo.

Em 2022, por exemplo, um microlote vencedor do concurso foi vendido pelo equivalente a R$ 65 mil por quilo.

Um dos cafés que a Um Coffee lança é produzido exatamente pelo atual campeão da categoria lavado –a principal categoria. Trata-se de um grão cultivado a 1.700 metros de altitude na região de Chiriqui.

Bule cor de bronze despeja água sobre um coador de café, com vários utensílios de preparo de café ao redor
Um Coffee Co. lança café de produtor premiado em um dos concurso mais valorizados do mundo - Keiny Andrade/Folhapress

O curioso é como esse café tão destacado veio parar nas mãos da Um Coffee. Afinal, os lotes vencedores do Best of Panama costumam ser arrematados por empresas da Ásia, sobretudo da China e do Japão, que desembolsam valores extremamente elevados e não dão chance para outros compradores.

Boram Um, da Um Coffee, que foi campeão mundial de barista em 2023, foi convidado para ser jurado do Best of Panama 2024, que aconteceu no início deste mês.

Na mesa de prova –realizada às cegas, ou seja, os avaliadores não sabem quais cafés estão degustando–, enquanto avaliava dezenas de cafés, Boram surpreendeu-se com um em especial. Logo percebeu que aquele lote era diferenciado, o melhor dentre todos que ali estavam. Tinha uma complexidade de sabores destacada.

Ao fim da manhã de avaliações –e antes da divulgação dos resultados–, é comum que os produtores convidem os jurados e demais especialistas presentes no evento para conhecer suas fazendas.

As fazendas mais famosas logo atraíram muitos especialistas. Mas um dos produtores, inexperiente e desconhecido em meio aos fazendeiros "estrelados", acabou não angariando tantos interessados. Assim, Boram aceitou o convite do jovem Marcus Durán para ir à sua pequena propriedade, a Finca Lorayne.

Chegando lá, após apresentar a fazenda, ele colocou alguns dos seus cafés para degustação. Na hora que Boram provou uma das amostras, imediatamente reconheceu o sabor. Não tinha dúvida, era aquele café tão destacado que ele havia percebido na avaliação do concurso.

O brasileiro ficou incrédulo. Aquele jovem desconhecido, que começara a trabalhar com café havia apenas três anos, poderia ser o vencedor do concurso mais valorizado do mundo.

Imediatamente, Boram decidiu comprar um dos melhores cafés disponíveis na fazenda. Não era exatamente o mesmo lote que Marcus havia inscrito no concurso, pois havia uma pequena diferença na etapa pós-colheita. Em vez de ser puramente lavado, ele passa por um processamento conhecido como honey, o que deixa-o com sabor ligeiramente diferente.

A elevada doçura e a complexidade sensorial daquele café geisha impressionaram Boram, que decidiu comprar ali mesmo, no ato, os quatro quilos disponíveis.

Mais tarde, foi anunciado o resultado. Boram estava certo. A desconhecida Finca Lorayne conquistou o primeiro lugar do concurso de café mais valorizado do mundo.

Assim, a sorte de ser convidado pelo jovem produtor aliada à habilidade de Boram para reconhecer um café específico fizeram com que o lote da fazenda premiada viesse parar no Brasil.

A conquista foi um divisor na vida do jovem Marcus, que decidira voltar da Cidade do Panamá para a fazenda da família apenas poucos anos atrás. Agora, compradores internacionais dispostos a pagar valores exorbitantes começaram a disputar os cafés de Marcus.

Em entrevista ao Café na Prensa, contudo, ele afirma que priorizará quem já comprava dele antes do título, e que os demais interessados terão que aguardar as próximas colheitas na fila.

Por quanto esse café será vendido é uma resposta que está por vir. O leilão do Best of Panama 2024 será realizado no dia 7 de agosto, mesma data em que Marcus completa 30 anos. Questionado sobre a expectativa para os valores dos lances no grande dia, ele demonstra serenidade.

"Está nas mãos de Deus. O que sei é que esse título é apenas o começo, e que ainda quero melhorar e crescer a partir de agora", diz.

OS LANÇAMENTOS DA UM COFFEE

A Um Coffee lança o lote de Marcus em doses muito pequenas e, obviamente, quantidades limitadas –afinal, só eram quatro quilos do café, e o grão ainda perde massa quando é submetido ao processo de torra.

Ele será comercializado em frascos de apenas 20g (o suficiente para duas xícaras, aproximadamente) e custará R$ 200,00. Eles estarão disponíveis no site e na loja física do Bom Retiro a partir desta segunda, apenas para preparar em casa –eles não serão servidos nas cafeterias.

Além do lote do produtor campeão, a Um Coffee lança outros três geishas panamenhos do conceituado produtor Jose Lutrell, da Abu Coffee. Nesses casos, a embalagem é de 100g e custará R$ 300,00, cada. O combo com os três lotes sairá por R$ 800,00.

POR QUE SÃO TÃO VALORIZADOS?

O geisha (ou gesha) é uma variedade de café arábica que surgiu no vilarejo de Geisha, na Etiópia –não tem, portanto, nenhuma relação com as gueixas da cultura japonesa. Foi no Panamá, porém, que esta variedade de fato encontrou solo fértil e alcançou uma qualidade reconhecida mundialmente.

Hoje, é uma das variedades mais valorizadas no planeta. Geralmente produz um café muito aromático, com notas florais e acidez balanceada. Por isso, pode alcançar valores bastante elevados no mercado de cafés especiais –principalmente aqueles cultivados no Panamá.

Essa valorização do geisha começou no início dos anos 2000 e tem crescido desde então.

É claro que a variedade não é o único fator decisivo para a qualidade do café. Muitas questões interferem na qualidade final da bebida, como terroir, manejo, processamento pós-colheita, torra etc. Logo, não basta ser de uma variedade considerada nobre. É preciso que o café passe por um tratamento qualificado ao longo de toda a cadeia.

OS QUATRO GEISHAS PANAMENHOS LANÇADOS PELA UM COFFEE

Produtor campeão da categoria lavado do Best of Panama 2024

Produtor: Marcus Durán
Região: Chiriqui/Panama
Fazenda: Adaura Coffee (Finca Lorayne)
Altitude: 1.700 m
Variedade: Geisha (#1 BOP)
Processamento: Honey
Notas: Lichia, xarope de pêssego, flor de laranjeira, mel e nectarina
Quantidade: 20g
Preço: R$200,00

3 lotes do produtor Jose Lutrell (Abu Coffee)

Todos são da variedade geisha, da região de Chiriqui, com altitude de 1.700 metros, e em pacotes de 100 g, cada.
Lote 1: processamento natural e notas de licor de cereja, geleia de frutas vermelhas, vinho, nibs de cacau e jaboticaba
Lote 2: processamento natural e notas de goiaba branca, maracujá doce, cajá e abacaxi maduro
Lote 3: processamento lavado e notas de mandarina, limão siciliano, capim limão, garapa e uva verde
Preço: R$ 300,00 cada lote (pacote de 100 g) ou os três lotes por R$ 800,00

Se você gosta de café, não deixe de acompanhar o Café na Prensa no Instagram @davidmclucena e no X (ex-Twitter) @davidlucena

Qual assunto você gostaria de ver aqui no blog? Envie sugestões para david.lucena@folhapress.com.br

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.