Por que a fac��o Estado Isl�mico atrai cada vez mais mulheres?
Funcion�rios da Casa Branca afirmaram � BBC que, ao contr�rio dos recentes an�ncios, o n�mero de cidad�os do Reino Unido que emigraram para a S�ria para viver sob as regras do "Estado Isl�mico" ("EI") atingiu seu auge dois anos atr�s.
Entretanto, a propor��o de mulheres entre aqueles que se juntam ao grupo extremista tem crescido dramaticamente. O que h� por tr�s disso e qual � exatamente a estrat�gia do "EI" para atra�-las?
O "Estado Isl�mico", tamb�m conhecido como "Isis", adota duas atitudes diferentes com rela��o �s mulheres.
Por um lado, trata aquelas que considera hereges em condi��es quase subumanas, como commodities para serem trocadas e dadas como pr�mio para combatentes jihadistas.
Imagens chocantes de um mercado de escravas sexuais em Mosul, no Iraque, mostram militantes discutindo os pre�os a serem pagos por garotas yazidis capturadas no ano passado, muitas delas menores de idade.
Ao menos 2.000 mulheres yazidis ainda est�o detidas pelo grupo —apenas algumas delas conseguiram escapar.
"Eles nos colocaram � venda", conta uma das mulheres, que escapou recentemente. "Muitos grupos de combatentes vieram para comprar. Qualquer coisa que n�s fiz�ssemos —chorar, implorar— n�o fazia a menor diferen�a."
Por outro lado, o "Estado Isl�mico" tem grandes planos para as mulheres mu�ulmanas que migram para o territ�rio controlado pelo grupo para exercer um papel-chave na constru��o do pretenso califado.
"Eles querem que mulheres se juntem a eles", afirma Katherine Brown, especialista em estudos isl�micos no King's College, de Londres.
"Eles veem as mulheres como pilares do novo Estado e querem cidad�os."
"� muito interessante que as pessoas falem do 'EI' com um culto � morte, mas isso � o oposto do que eles est�o tentando criar. Eles querem criar um novo Estado... e querem muito, como parte de sua pol�tica ut�pica, a vinda de mulheres."
Essa utopia inclui um tratado publicado em �rabe em fevereiro estabelecendo um c�digo de conduta que remonta 1.400 anos atr�s.
O texto � direcionado principalmente a mulheres �rabes dos Estados do Golfo e do Oriente M�dio e inclui passagens que s�o incompreens�veis para a maioria dos ocidentais.
"� considerado leg�timo para uma garota se casar aos nove anos de idade. A maioria das garotas puras ir�o se casar aos 16 ou 17 anos, enquanto ainda s�o jovens e ativas", afirma o tratado.
Ari Jala/Reuters | ||
Irm�s yazidis que escaparam de cativeiro do Estado Isl�mico em Mossul, Iraque |
CRIANDO RA�ZES
Ex-integrante da al-Qaeda, Aimen Deen tem um profundo conhecimento da mentalidade jihadista. Segundo ele, a abordagem do "EI" para com as mulheres � diferente daquela da al-Qaeda ou do Taleban.
"Ao contr�rio da al-Qaeda, o 'EI' procura estabelecer uma sociedade permanente, com ra�zes. Eles est�o trazendo fam�lias de todo o mundo mu�ulmano, n�o s� da Europa e dos Estados Unidos, mas tamb�m da �sia Central... trazendo fam�lias para o 'Estado Isl�mico'."
Mensagens online de recrutamento s�o disparadas continuamente, em diferentes idiomas, dizendo a mu�ulmanos para abandonarem suas seguras, mas conflituosas vidas no Ocidente e se juntarem ao califado.
Os recados s�o ignorados pela grande maioria, mas h� um n�mero crescente de mulheres atendendo a esse chamado.
"EI" trata mulheres que considera "hereges" como subumanas, mas t�m planos para mu�ulmanas
Algumas s�o como as garotas brit�nicas de Bethnal Green, no leste de Londres, que quiseram se tornar noivas jihadistas, ou seja, se casar com combatentes que ir�o dar a elas algum 'status'.
"H� um elemento rom�ntico aqui", continua Aimen Deen, antes de alertar que isso frequentemente acaba em trag�dia.
"A expectativa de vida de um jihadista � de um m�s ou dois. Ent�o, o que acontecer� � que uma mulher ir� se casar com algu�m, ele morrer� e, por quatro meses e dez dias, ela ficar� em luto", diz.
"Se ela estiver gr�vida, isso leva ainda mais tempo. E ent�o ela ir� se casar com outro, que ser� mais um m�rtir. Seguem-se outros quatro meses de luto e ela ir� reiniciar esse processo de novo."
"N�o � uma vida alegre, e sim extremamente infeliz."
PAPEL DAS M�DIAS SOCIAIS
Por�m, ao contr�rio do Taleban e da al-Qaeda, o "Estado Isl�mico" tem permitido que muitas de suas recrutas ocidentais tenham um proeminente papel nas redes sociais.
Possivelmente a mais conhecida delas seja Aqsa Mahmoud, de 20 anos, uma fugitiva de Glasgow, na Esc�cia, que se denomina "Umm Laith".
Ela ficou famosa por distribuir conselhos —desde mundanos a filos�ficos— para mulheres que pensam em abandonar suas fam�lias no Reino Unido.
Aqsa Mahmood, que fugiu de Glasgow, na Esc�cia, em 2013 para se casar com um combatente do "Estado Isl�mico" e aconselharia outras mulheres na Internet a fazer o mesmo
A norueguesa Mah-Rukh Ali, pesquisadora da Universidade de Oxford especializada em mulheres e propaganda no "EI", acredita que h� uma estrat�gia deliberada em dar a elas um papel proeminente na Internet.
"O 'Estado Isl�mico' usa mulheres mais ativamente do que j� vimos ocorrer no Taleban ou na al-Qaeda", diz.
"H� cerca de 100 mil tu�tes pr�-'EI' todos os dias e muitos deles aparentemente s�o de mulheres que se juntaram ao 'Estado Isl�mico' vindas de sociedades ocidentais."
Pesquisadores afirmam que muitas dessas mulheres que atravessam a fronteira turca para chegar ao territ�rio controlado pelo 'EI' acabam frustradas com os pap�is que lhe s�o atribu�dos.
Mulheres n�o casadas s�o mantidas em uma casa segura, geralmente com outras que falam sua l�ngua, e recebem doutrina��o religiosa e aulas de �rabe, enquanto um marido � encontrado para elas o mais r�pido poss�vel.
Qualquer ideia de participar de batalhas e empunhar uma Kalashnikov no fronte � logo frustrada. Mas algumas se juntam � brigada Khansaa, uma for�a de vigil�ncia formada apenas por mulheres, que patrulha cidades como Raqqa e Mosul para refor�ar as severas regras isl�micas.
"Elas t�m sido conhecidas por executar puni��es severas, como espancar e chicotear algu�m por n�o vestir as roupas certas", afirma Katherine Brown.
Elas tamb�m s�o famosas por colocar armadilhas para animais nos seios de mulheres que foram vistas amamentando em p�blico, segundo a especialista.
Por�m, por tr�s da crueldade e das pr�ticas chocantes que t�m dado ao 'EI' essa m� fama internacional, h� o desconfort�vel fato de que seu pretenso califado n�o est� desaparecendo.
Questionado sobre se o 'EI' v� as mulheres como essenciais para as chances de sobreviv�ncia do grupo, o ex-jihadista Aimen Deen responde:
"Certamente, n�o h� d�vidas disso. Elas s�o metade da sociedade e est�o desempenhando importantes pap�is em v�rias �reas: a m�dica, a educacional e at� mesmo na coleta de impostos. Ent�o, elas s�o essenciais para a sobreviv�ncia do 'Estado Isl�mico'."
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