Mudan�a de tom sobre Ir� sinaliza pol�tica externa de Dilma
A pol�tica externa dos primeiros cem dias de mandato da presidente Dilma Rousseff teve como uma de suas principais novidades uma mudan�a de tom em rela��o aos direitos humanos no Ir�, o que sinaliza uma maior preocupa��o do novo governo com o tema.
Evaristo Sa -01.han.2011/AFP |
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Dilma completa 100 dias de governo, analistas enxergam nela um estilo diferente de Lula na pol�tica externa |
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"O Brasil, durante o governo Lula, parecia um tanto flex�vel quanto aos direitos humanos por conta da prioridade de fazer alian�as pol�ticas", disse � BBC Brasil o professor de Rela��es Internacionais da USP Am�ncio Jorge Silva Nunes de Oliveira.
"Com Dilma, os direitos humanos ganharam em prioridade, � uma corre��o de rota bastante clara", acrescenta. "Endurecer neste sentido � uma reorienta��o importante."
No dia 24 de mar�o, o Brasil votou, em sess�o do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a favor da nomea��o de um relator que investigar� a situa��o dos direitos humanos no Ir�.
Ao justificar seu voto, a representante brasileira no Conselho, Maria Nazareth Farani Azevedo, disse que a n�o-observ�ncia da suspens�o da pr�tica da pena de morte no Ir�, assim como em outros pa�ses, era uma "preocupa��o particular" do Brasil.
Em novembro do ano passado, em um comit� da Assembleia Geral da ONU, o Brasil se absteve de votar em uma proposta que condenava viola��es de direitos humanos no pa�s persa.
Embora diga que ainda � cedo para fazer afirma��es definitivas, o professor da PUC-SP Paulo Edgar Almeida Resende tamb�m v� no voto brasileiro sobre o Ir� um distanciamento em rela��o � pol�tica do governo Lula para com os direitos humanos.
"Este fato significa algum tipo de revis�o da pol�tica do (ex-chanceler) Celso Amorim, tanto que o pr�prio Amorim demonstrou um pensamento diferente do voto brasileiro", diz o professor.
Em entrevista � BBC Brasil, Amorim afirmou que n�o � poss�vel "bater forte e dialogar ao mesmo tempo" com pa�ses como o Ir�. "Para voc� ter esse tipo de influ�ncia, voc� tem que ter um di�logo", disse o ex-chanceler, que afirma considera bom o fato de Dilma tomar rumos pr�prios na pol�tica externa.
EUA E CHINA
Embora analistas afirmem que Dilma deve preservar as rela��es com pa�ses da Am�rica Latina, �frica e Oriente M�dio, priorizadas no governo Lula, os primeiros cem dias de governo tamb�m foram marcados por um investimento no di�logo com Estados Unidos e China, as duas maiores pot�ncias econ�micas do planeta.
Em mar�o, o presidente americano, Barack Obama, realizou sua primeira viagem oficial ao Brasil, visitando Bras�lia e Rio nos dias 19 e 20 de mar�o. J� Dilma far� uma visita � China exatamente no momento em que completa cem dias de governo, entre os dias 8 e 15 de abril.
No pronunciamento que fez ao lado de Obama, Dilma citou "contradi��es" e "desequil�brios" que precisam ser superados e pediu o fim de medidas protecionistas dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo em que ressaltou a import�ncia da coopera��o entre Brasil e Estados Unidos em diversas �reas, como ci�ncia e tecnologia, ela disse que � necess�rio romper as barreiras aos produtos brasileiros em territ�rio americano.
Nunes Oliveira v� na postura de Dilma uma nova maneira de lidar com os Estados Unidos, buscando um tom mais empreendedor e pr�tico, de olho em resultados concretos. "Resta ver o que vai ocorrer, tudo depende de uma abertura comercial do outro lado."
Quanto � viagem de Dilma � China, a busca de um maior equil�brio no com�rcio entre os dois pa�ses � considerada por especialistas um dos principais temas de discuss�o.
"� de se esperar de Dilma algum tipo de cobran�a com rela��o � diversifica��o na pauta de importa��o com a China, para que o Brasil n�o fique como um exportador prim�rio", afirma Paulo Resende.
CONSELHO DE SEGURAN�A
Al�m de acordos bilaterais, a viagem de Obama ao Brasil foi marcada por sua "manifesta��o de apre�o" � inten��o do Brasil em se candidatar a uma vaga permanente no Conselho de Seguran�a da ONU.
A declara��o, que constou de um comunicado conjunto emitido ap�s seu encontro com Dilma, n�o incluiu um apoio expl�cito dos Estados Unidos ao pleito brasileiro. Em outro pronunciamento, Obama se limitou a dizer que trabalha junto do Brasil para tornar o Conselho "mais representativo".
No discurso ao lado de Obama, Dilma defendeu a vaga para o Conselho de Seguran�a e disse que o Brasil � um pa�s comprometido com a paz e o di�logo, que n�o pretende realizar uma "ocupa��o burocr�tica" de espa�os como este.
Em entrevista � BBC Brasil, o ministro das Rela��es Exteriores, Ant�nio Patriota, tamb�m afirmou que espera ver os Estados Unidos engajados em uma reforma do Conselho de Seguran�a.
"J� n�o � razo�vel nem justific�vel convivermos com um Conselho de Seguran�a que parece refletir mais um mundo do s�culo 20 do que um do s�culo 21", disse Patriota.
Nunes de Oliveira avalia que a aproxima��o com pa�ses como o Ir� complicou as chances do Brasil de obter a vaga. Para o especialista, esta possibilidade diminuiu muito no governo Lula, e agora a situa��o est�, segundo ele, em compasso de espera.
J� a professora de Rela��es Internacionais da PUC-Rio Let�cia Pinheiro v� o "apre�o" de Obama como um sinal positivo. "N�o � um apoio declarado, mas tamb�m n�o � uma oposi��o � demanda brasileira, e isso em diplomacia j� vale alguma coisa."
SUL-SUL
Mesmo com as reorienta��es que foram observadas nos primeiros cem dias de Dilma no poder, Am�ncio v� a pol�tica externa brasileira seguindo a mesma "matriz" do governo Lula, buscando aproxima��o com pa�ses emergentes e reivindicando sua maior participa��o nos f�runs internacionais.
Na opini�o de Let�cia Pinheiro, a Am�rica Latina dever� voltar � pauta da pol�tica externa do Brasil no futuro, junto com as demais rela��es "sul-sul", com pa�ses africanos e do Oriente M�dio.
Neste contexto, a professora da PUC-Rio avalia que a figura do assessor da Presid�ncia para Assuntos Internacionais, Marco Aur�lio Garcia, deve voltar a ganhar import�ncia.
"Concordando ou n�o com ele, o fato � que Garcia teve uma import�ncia central ao definir uma pauta mais pol�tica e menos burocr�tica na quest�o diplom�tica, especialmente na rela��o com os pa�ses da Am�rica Latina", diz Pinheiro.
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