Document�rio conta drama de g�meo criado como menina ap�s perder p�nis
O drama de um menino canadense criado como menina ap�s perder o p�nis em um acidente durante um procedimento de circuncis�o nos anos 1960 � o tema de um programa transmitido nesta semana pelo Servi�o Mundial da BBC.
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Os g�meos Bruce e Brian Reimer nasceram como meninos perfeitos, mas ap�s sete meses, come�aram a apresentar dificuldades para urinar.
BBC Horizon/Reprodu��o |
Document�rio da emissora brit�nica BBC conta a hist�ria dram�tica de menino criado como menina ap�s perder o p�nis |
Sob orienta��o m�dica, os pais, Janet e Ron, levaram os dois a um hospital para serem circuncidados.
Na manh� seguinte, eles receberam uma liga��o telef�nica devastadora -- Bruce tinha sido envolvido em um acidente.
Os m�dicos usaram uma agulha cauterizadora em vez de um bisturi. O equipamento el�trico apresentou problemas, e a eleva��o s�bita da corrente el�trica queimou completamente o p�nis de Bruce.
A opera��o de Brian foi cancelada, e o casal levou os g�meos de volta para casa.
PSIC�LOGO
V�rios meses se passaram, e eles n�o tinham ideia do que fazer at� que um dia encontraram um homem que mudaria suas vidas e as vidas de seus filhos para sempre.
John Money era um psic�logo especializado em mudan�a de sexo. Ele acreditava que n�o era tanto a biologia que determinava se somos homens ou mulheres, mas a maneira como somos criados.
"Est�vamos assistindo a TV", lembra Janet. "O doutor Money estava l�, muito carism�tico, e parecia muito inteligente e muito confiante no que estava falando."
Janet escreveu para Money, e poucas semanas depois ela levou Bruce para v�-lo em Baltimore, nos Estados Unidos.
Para o psic�logo, o caso representava uma experi�ncia ideal. Ali estava uma crian�a a qual ele acreditava que poderia ser criada como sendo do sexo oposto e que trazia at� mesmo seu grupo de controle com ele -- um g�meo id�ntico.
Se funcionasse, a experi�ncia daria uma evid�ncia irrefut�vel de que a cria��o pode se sobrepor � biologia, e Money genuinamente acreditava que Bruce tinha uma chance melhor de levar uma vida feliz como mulher do que como um homem sem p�nis.
Ent�o, quando Bruce tinha 17 meses de idade, se transformou em Brenda. Quatro meses depois, no dia 3 de julho de 1967, o primeiro passo cir�rgico para a mudan�a foi tomado, com a castra��o.
SEGREDO
Money enfatizou que, se quisessem garantir que a mudan�a de sexo funcionasse, os pais nunca deveriam contar a Brenda ou ao seu irm�o g�meo que ela havia nascido como menino.
A partir de ent�o, eles passaram a ter uma filha, e todos os anos eles visitavam Money para acompanhar o progresso dos g�meos, no que se tornou conhecido como o "caso John/Joan". A identidade de Brenda foi mantida em segredo.
"A m�e afirmou que sua filha era muito mais arrumada do que seu irm�o e, em contraste com ele, n�o gostava de ficar suja", registrou Money em uma das primeiras consultas.
Mas em contraste, ele tamb�m observou: "A menina tinha muitos tra�os de menina moleque, como uma energia f�sica abundante, um alto n�vel de atividade, teimosia e era frequentemente a figura dominante num grupo de meninas".
Em 1975, as crian�as tinham 9 anos, e Money publicou um artigo detalhando suas observa��es. A experi�ncia, segundo ele, tinha sido um sucesso total.
"Ningu�m mais sabe que ela � a crian�a cujo caso eles leram nos notici�rios na �poca do acidente", afirmou.
"O comportamento dela � t�o normalmente o de uma garotinha ativa e t�o claramente diferente, por compara��o, do comportamento de menino de seu irm�o g�meo, que n�o d� margem para as conjecturas de outros."
SUICIDA
No entanto, na �poca em que Brenda chegou � puberdade, aos 13 anos, ela sentia impulsos suicidas.
"Eu podia ver que Brenda n�o era feliz como menina", lembrou Janet. "Ela era muito rebelde. Ela era muito masculina e eu n�o conseguia convenc�-la a fazer nada feminino. Brenda quase n�o tinha amigos enquanto crescia. Todos a ridicularizavam, a chamavam de mulher das cavernas. Ela era uma garota muito solit�ria."
Ao observar a tristeza da filha, os pais de Brenda pararam com as consultas com John Money. Logo depois, eles fizeram algo que Money tinha pedido para que n�o fizessem: contaram a ela que Brenda tinha nascido como um menino.
Semanas depois, Brenda escolheu se transformar em David. Ele passou por uma cirurgia de reconstru��o do p�nis e at� se casou. Ele n�o podia ter filhos, mas adorou ser o padrasto dos tr�s filhos de sua esposa.
Mas, o que David n�o sabia, era que seu caso tinha sido imortalizado como "John/Joan", em artigos m�dicos e acad�micos a respeito de mudan�a de sexo e que o "sucesso" da teoria de Money estava afetando outros pacientes com problemas semelhantes aos deles.
"Ele n�o tinha como saber que seu caso tinha ido parar em uma ampla s�rie de livros de teoria m�dica e psicol�gica e que estava estabelecendo os protocolos sobre como tratar hermafroditas e pessoas que tinham perdido o p�nis", disse John Colapinto, um jornalista do "The New York Times", que descobriu a hist�ria de David.
"Ele mal conseguia acreditar que (sua hist�ria) estava sendo divulgada por a� como um caso bem sucedido e que estava afetando outras pessoas como ele."
DEPRESS�O
Quando passou dos 30 anos, David entrou em depress�o. Ele perdeu o emprego e se separou da esposa.
Na primavera de 2002 seu irm�o morreu devido a uma overdose de drogas.
Dois anos depois, no dia 4 de maio de 2004, quando David estava com 38 anos, os pais, Janet e Ron Reimer, receberam uma visita da pol�cia que os informou que seu filho tinha cometido suic�dio.
"Eles pediram que nos sent�ssemos e falaram que tinham not�cias ruins, que David estava morto. Eu apenas chorei", conta Janet.
Casos como o "John/Joan", quando ocorre um acidente, s�o muito raros. Mas decis�es ainda est�o sendo tomadas sobre como criar uma crian�a, como menino ou menina, se ela sofre do que atualmente � conhecido como Dist�rbio do Desenvolvimento Sexual.
"Agora temos equipes multidisciplinares, que funcionam bem, em todo o pa�s, ent�o a decis�o ser� tomada por uma ampla s�rie de profissionais", explicou Polly Carmichael, do Hospital Great Ormond Street, de Londres.
"Os pais ficar�o muito mais envolvidos em termos do processo da tomada de decis�o", acrescentou.
Carmichael afirma que, segundo sua experi�ncia, estas decis�es tem sido mais bem sucedidas para ajudar as crian�as a levar uma vida feliz quando crescerem.
"Fico constantemente surpresa como, com apoio, estas crian�as s�o capazes de enfrentar e lidar (com o problema)", disse.
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