SAIU NO NP: 'Bando do Palha�o' levou caos a PM e aterrorizou SP nos anos 1990
Em 10 de dezembro, comemora-se o Dia do Palha�o.
A se��o "Saiu no NP" relembra neste m�s uma hist�ria que deixou muito palha�o preocupado.
Isso porque, em meados dos anos 1990, o jornal "Not�cias Populares" acompanhou a investiga��o sobre um suposto bando que apavorou S�o Paulo. A a��o do grupo consistia em atrair crian�as com balas e doces e depois as jogarem numa Kombi branca, sumindo em seguida. Passados alguns dias, a crian�a raptada era encontrada sem os �rg�os.
As reportagens sobre o caso, que ficou conhecido como o Bando do Palha�o, foram publicadas no "Not�cias Populares" entre os dias 20 de maio e 5 de junho de 1995. Ainda que o jornal tenha deixado claro que em suas p�ginas que o assunto se tratava de boato, o caso teve grande repercuss�o.
Tudo come�ou com Aline, uma menina de 11 anos, da cidade de Carapicu�ba (Grande S�o Paulo), que estava desaparecida desde o dia 31 de mar�o daquele ano. A partir da� o boato de que ela teria sido v�tima do Bando do Palha�o se espalhou pelo Estado.
Moradores de Cidade Tiradentes, na zona leste da capital, do Cap�o Redondo, na zona sul, e do munic�pio de Osasco, por exemplo, j� n�o deixavam mais seus filhos irem sozinhos � escola.
20.mai.95/Folhapress |
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Em maio de 95, 'NP' publicou retrato falado do palha�o |
A pol�cia, entretanto, sempre afirmou que a gangue nunca havia existido, pois n�o fora registrado nenhum caso ou queixa comprovada sobre o assunto. O delegado titular de Carapicu�ba, onde come�ou a boataria, afirmava: "A gangue � fruto da imagina��o de algu�m. Se eu descobrir quem come�ou com isso, prendo".
Mesmo diante das negativas da pol�cia e de o "NP" publicar que tudo n�o passava de boato, algumas pessoas juravam ter visto os assassinos de crian�as. A dona de casa N. E., moradora do Tucuruvi (zona norte), afirmou que o bando havia tentado raptar seus filhos no come�o de 1995.
Em outros bairros da zona norte da capital paulista, a popula��o tamb�m ficou amedrontada. Cleide Tavares, 40, afirmou que "eles tentaram atacar uma crian�a em frente a uma creche". O mec�nico Carlos Ad�nis, de Perus, contou que sua filha n�o queria mais ir � escola.
Por causa da boataria, palha�os profissionais come�aram a perder seus empregos, como revelou reportagem do "NP" publicada em 23 de maio de 1995. Edmilson Jos� da Silva, que trabalhava em Carapicu�ba como o palha�o Vuku-Vuku, estava sem emprego havia um m�s. "S� de olhar um p�ster com meu retrato na rua, eu j� vi crian�a morrendo de medo", afirmava.
Vanderlei Costa, o palha�o Mamadeira, que � �poca era um dos s�cios do sindicato dos palha�os, disse que a hist�ria iria "afastar as crian�as dos palha�os".
Al�m do problema de desemprego, uma palha�a chegou a ser amea�ada de morte, conforme noticiou o jornal em 30 de maio.
Os palha�os Solange e Benedito, que encenavam Maria Pipoca e Tatupim, respectivamente, tiveram a vida em risco em amea�as feitas pela popula��o. O casal era xingado cada vez que sa�a de casa. Em uma ocasi�o, os dois foram denunciados � Rota por um taxista e acabaram na delegacia. "Outro dia usei um batom 24 horas e sa� na rua. Muita gente me olhou torto, e nunca senti tanto medo na minha vida", contou Solange.
Robson Martins, da companhia Tulim-pim-pim, voltava com sua Kombi pela rodovia dos Bandeirantes, acompanhado de Ricardo Galdeano, vestido de palha�o, e S�lvia Martins, fantasiada de bailarina, e relatou que foi amea�ado: "Na sa�da para a marginal Pinheiros, um cara que estava num Corcel branco e se dizia policial nos obrigou a parar e nos amea�ou com uma arma".
O medo de ataques do Bando do Palha�o fez com que escolas de Carapicu�ba contratassem seguran�as para proteger as crian�as, como informou o "Not�cias Populares" em 25 de maio.
No dia 27, o jornal publicou que o boato da gangue estava apavorando o interior e o litoral do Estado. Moradores de S�o Roque (SP) sentiam-se amedrontados com o bando que sequestrava crian�as para tirar os �rg�os.
O p�nico chegou tamb�m chegou a Peru�be (litoral sul de SP). A popula��o das duas cidades dizia que um m�dico grisalho teria se juntado � gangue. Vera L�cia Rodrigues, de S�o Roque (SP), jurou ter visto os tr�s com a perua em frente de uma padaria. "O palha�o tentou atrair minhas filhas, mas eu fugi."
� medida que os boatos sobre a gangue se multiplicavam, a pol�cia tinha mais trabalho. A delegacia de Carapicu�ba recebia mais de 20 liga��es por dia de pessoas apavoradas com o bando. "Ningu�m aguenta mais", dizia o delegado da cidade, Bras�lio Machado.
"Bando do palha�o n�o existe" foi a manchete da �ltima reportagem da s�rie, publicada no dia 5 de junho. O "NP", a pol�cia e o rep�rter Gil Gomes investigaram o caso por dois meses e chegaram � mesma conclus�o: tudo n�o passava de boato.
5.jun.95/Folhapress | ||
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Bando do palha�o n�o existe |
Desde que as not�cias come�aram a ser veiculadas, Gil Gomes come�ou sua investiga��o, entrevistando os pais das crian�as desaparecidas e a pol�cia. "Tudo n�o passa de boato. At� hoje, nenhuma crian�a foi encontrada morta sem os �rg�os", garantia ele.
O delegado-geral da pol�cia Ant�nio Carlos Machado tamb�m afirmou que a gangue n�o existia. "Fizemos uma investiga��o no Estado todo. Nunca um caso desse tipo foi registrado", afirmou.
O caso do "Bando do Palha�o", guardadas as devidas propor��es, lembrou o epis�dio em que o ent�o desconhecido Orson Welles (diretor de "Cidad�o Kane"), em 1938, entrou no ar da rede de r�dio CBS para informar uma suposta invas�o de marcianos � cidade de Grover's Mill, no Estado de Nova Jersey (EUA). Welles apenas dramatizou trechos do livro de fic��o cient�fica "A Guerra dos Mundos", do escritor ingl�s Herbert George Wells.
No dia seguinte o jornal "Daily News" resumiu o epis�dio com a manchete "Guerra falsa no r�dio espalha terror pelos Estados Unidos". No Brasil, mesmo com os constantes informes do "Not�cias Populares" de que tudo n�o passava de boato, a hist�ria mostrou como pode ser perigoso um boato, a ponto de causar desemprego, despertar viol�ncia e colocar vidas em risco.
ANOS 2000
Enquanto nos anos 90 o boato de que palha�os sequestravam e roubavam �rg�os de crian�as se espalhou por S�o Paulo e litoral, apavorando pais e mexendo com a rotina da PM, em 2016 uma pegadinha tamb�m fez os palha�os serem hostilizados novamente.
Uma pegadinha publicada em setembro, via internet, viralizou no mundo todo. Pessoas se vestiam de palha�o assassino e sa�am � rua dando sustos.
O assunto rendeu milh�es de men��es e dezenas de v�deos on-line. Algumas escolas americanas proibiram a fantasia de palha�o nas festas de Halloween, comemorado em 31 de outubro.
A consequ�ncia disso se deu tamb�m no Brasil, e a Folha noticiou as agruras que os palha�os estavam passando. O rep�rter Chico Felitti contou em Palha�o profissional sofre agress�o real em meio a onda de pegadinhas como estava dif�cil ser palha�o em meio a pegadinhas.
"H� dez dias, quatro molec�es me seguraram, numa rua em Perus, e disseram que, se eu assustasse algu�m, ia levar porrada", contou o palha�o Falanginha.
As repres�lias aos palha�os n�o se restringiram ao Brasil. No mundo todo eles foram alvo de persegui��o e preconceito. Em conven��o anual na Cidade do M�xico, eles protestaram: "Somos palha�os, n�o assassinos".
At� o sucesso do filme "It: A Coisa" neste ano mexia com o humor de quem tem a vida de palha�o como profiss�o.
As hist�rias tanto de 1995 quanto de 2016 e 2017 mostram que quem mais se sente prejudicado s�o os verdadeiros palha�os.
![Capa de exemplar da Folha da Noite – Marcelo Justo/Folhapress Capa de exemplar da Folha da Noite – Marcelo Justo/Folhapress](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folhapress/images/16230855.jpeg)
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