Milei na Argentina
Situação dramática do país demanda negociação, não bravatas da direita populista
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Ao escolher Javier Milei para a Casa Rosada, o eleitorado argentino decidiu trocar um desastre conhecido por um salto no escuro.
Triunfou no país vizinho, com margem de votos bem acima da esperada, a direita populista que ascendeu em escala global no último decênio —e cujas referências mais importantes para a região são Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro (PL), aqui.
Ainda que em proporções distintas, as experiências americana e brasileira serviram para mostrar limites, riscos e danos associados a tais escolhas. Nos dois casos, as soluções milagrosas prometidas nas campanhas eleitorais se converteram em tensões políticas e institucionais ou, nos exemplos menos nocivos, em nada.
Milei receberá uma herança muito pior que as de seus congêneres, dado que a Argentina continua presa à pauta de crises dos perdidos anos 1980. O governo cronicamente deficitário não tem crédito doméstico nem internacional, acabaram-se as reservas em moeda forte, a inflação saiu do controle e a pobreza se espalhou.
Uma eventual paralisia decisória, esperável quando o presidente não tem experiência administrativa nem maioria no Legislativo, terá consequências trágicas. O país precisa de reformas imediatas —o que não pode ser confundido com voluntarismo ou atropelo dos ritos democráticos.
Milei não exibe o pendor de Bolsonaro para a cooptação de militares, mas compartilha com o brasileiro a aversão pela política, o intuito de desacreditar o processo eleitoral, o gosto pela bravata e a agressividade contra oponentes, inclusive líderes estrangeiros como Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tudo isso pode ajudar a atrair votos e seguidores, mas não a governar. O inescapável ajuste das contas orçamentárias só será viável e duradouro mediante entendimento com outras forças nacionais; a recuperação do crédito passa por negociações com organismos multilaterais; o aumento do comércio exterior depende da diplomacia.
As práticas perdulárias e paternalistas do eterno peronismo manterão amplos apoios na sociedade e no mundo político argentino. Revê-las demanda estratégia, convencimento e persistência. Anunciar uma motosserra contra as despesas do Estado ou privatizações em massa é fanfarronice estéril.
Os precedentes da direita populista não encorajam apostas em mais moderação e pragmatismo por parte de Milei. Resta a esperança de que a dramática situação de seu país leve o eleito à constatação de que não há margem de erro.
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