Berço político de Biden, Delaware é paraíso da evasão de impostos nos EUA
Estado concentra 50% das sedes de companhias listadas na Bolsa de Nova York
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
Imerso em questões como a crise da pandemia de coronavírus ou a relação com a China, o democrata Joe Biden foi largamente poupado nesta campanha quando o assunto é Delaware.
O segundo menor —e sexto menos populoso— estado americano é seu berço político, por quem cumpriu mandatos no Senado de 1973 a 2009. Fazendo jus à sua fama de “buraco negro”, em que a discrição dá o tom, o estado não apareceu nas cobranças sobre a coerência do democrata.
Elas poderiam advir na hora em que ele apresentou o plano de taxar em 10% as empresas americanas que buscam transferir suas sedes para “offshores”, tentando fugir do fisco americano.
Afinal de contas, Delaware é um dos maiores paraísos fiscais do planeta, responsável por colocar os EUA entre os que mais favorecem evasão de impostos no mundo, segundo a ONG Transparência Internacional.
Uma verdadeira Suíça, não é casual que Delaware concentre 50% das sedes de empresas listadas na Bolsa de Nova York. Tudo isso é uma herança paradoxal da maior força dos EUA: o federalismo para valer.
Em 1787, o estado foi o primeiro dos 13 a ratificar a nova Constituição americana. Cinco anos depois, estabeleceu uma corte de litígios única, na qual todas as questões de comércio e negócio seriam decididas, fora da Justiça. Isso foi se ampliando ao longo dos séculos e, dos anos 1970 para cá, o estado configurou o mais liberal sistema fiscal do país.
Qualquer empresa sediada em outro estado pode estabelecer uma filial em Delaware para administrar os chamados ativos intangíveis, como uma marca. O estado não cobra nada sobre isso, tem impostos corporativos suaves e não aplica nem o equivalente americano ao ICMS brasileiro.
Resultado, mais de 1 milhão de empresas estão lá, e boa parte envia seu dinheiro para as filiais, escapando de cobranças nos estados de origem. Em 2011, um estudo apontou que a década anterior havia somado economia de US$ 9,5 bilhões (R$ 53,10 bilhões) às empresas.
Em 1993, a loja Toy "R" Us perdeu um caso na Carolina do Sul no qual o estado buscou impedir a prática, mas resolveu a questão enviando seus lucros por meio de outras unidades federativas. Ao todo, 25 dos 50 estados americanos tentam de alguma forma restringir a prática.
Para entidades como a Transparência e para órgãos de investigação, a maior parte dos aderentes do esquema o faz legalmente, mas há espaço livre para lavagem e ocultação de dinheiro do crime.
Biden, o mais emblemático político do estado, é apontado como leniente sobre o tema, apesar de falar grosso contra paraísos fiscais. Ele patrocinou leis favoráveis às corporações locais, particularmente a maior delas, a empresa de cartão de crédito MBNA —que por sinal tinha como lobista contratado seu filho Hunter, aquele enrolado com negócios obscuros na Ucrânia.
O tema reflete a própria fundação dos EUA, e, até por isso, parece improvável que venha a assombrar um eventual presidente Biden, fiel à discrição do estado onde fez carreira (ele nasceu na vizinha Pensilvânia).
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters