'No Coração do Mundo' começa singelo e muda para ação hollywoodiana
Diretores já fizeram bastante e têm toda condição de ainda evoluir em seus trabalhos futuros
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Se existe uma característica comum aos trabalhos da Filme de Plástico é a direção dos atores. Em “No Coração do Mundo”, por exemplo, parece que nasceram dentro do filme, que nunca fizeram outra coisa a não ser estar ali. Penso, em especial, no par central, Leo Pyrata e Kelly Criffer ao qual se junta a já mais conhecida Grace Passô. Mas vale também para o grupo de coadjuvantes .
A segunda virtude essencial do longa de estreia dos diretores Gabriel e Maurílio Martins consiste em buscar uma abordagem diferente de Contagem, em relação àquela, já mais conhecida, de André Novais Oliveira (“Temporada”, visível na Netflix), onde o essencial é mostrar a beleza que existe tanto na paisagem como no trajeto existencial dos habitantes de Contagem, a cidade vizinha de Belo Horizonte que abriga a Filmes de Plástico.
Gabriel e Maurílio Martins mostram uma cidade diferente: Contagem é, para eles, uma grande semifavela. É a dureza de viver ali que enfatizam os irmãos em seu filme. Lá estão Ana (Kelly Criffer), a cobradora de ônibus que precisa se ocupar do pai incapaz; a cabeleireira com seus muitos empregos e amores; o rapaz que trabalha na loja e tenta administrar o irmão, marginal incompetente; Marquinho s (Leo Pyrara), o filho vadio da mãe trabalhadora;, a moça que busca se estabelecer nos negócios (Passô).
Tudo ali traz notações preciosas, sutis, agudas, que interessam pela variedade tanto quanto pelas imagens documentais despojadas da cidade e seus habitantes: coisa de quem sabe olhar o mundo e, mais, conhece o lugar o bastante para saber que não é preciso chamar a atenção para, por exemplo, a dureza da vida da senhora que carrega uma pesada carga ao subir a ladeira; Basta ela estar lá. Sabemos.
Se tudo isso faz de “No Coração do Mundo” uma estréia que desperta o interesse pelo trabalho dos irmãos, alguns pontos negativos devem ser ressaltados. Eles se encontram, essencialmente, no roteiro.
O primeiro é o excesso de subtramas, que engendra certa dispersão no conjunto e apaga a trama principal. Esse é um problema que talvez derive da insegurança do estreante em relação à força da história que pretende narrar. Com isso, usa as subtramas para se garantir, mas acaba por dar a elas um peso excessivo.
O segundo problema decorre do primeiro: o gostoso falar, que o pessoal da Filmes de Plástico sabe captar muito bem, corre o risco aqui de derivar para a conversa mole, muito interessante em si, mas em alguns momentos capaz de criar buracos narrativos.
Essas são fragilidades circunstanciais. O terceiro e realmente grave problema vem mesmo da mise-en-scène da trama policial que se estabelece em dado momento. Da descrição de uma cidade (e seus habitantes) captada em sua singeleza, o filme transita para uma ação tipo hollywoodiana que não combina com o restante do filme (e, sobretudo, com a personagem de Grace Passô).
Talvez fosse melhor dar a esse momento, aliás crucial, da ação um desenvolvimento cômico, algo como trapalhões que se metem a gangsters por influência do cinema americano. Pois de um grupo de bandidos pés de chinelo se passa a um assalto todo profissional (e também convencional).
Mesmo esse problema não invalida o prazer que demais aspectos do filme proporcionam ao espectador. Os Martins já fizeram bastante, mas têm toda condição de ainda evoluir em seus trabalhos futuros.
Erramos: o texto foi alterado
Diferentemente do publicado, os diretores Gabriel e Maurílio Martins não são irmãos
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