Jurado de morte, diretor emula explosão de bomba para criar seu teatro
Peça do congolês Dieudonné Niangouna é encenada na MITsp, mas ele, crítico à ditadura de seu país, não poderá vir ao Brasil
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Filho de um país cindido, o congolês Dieudonné Niangouna encontrou no teatro sua salvação. Há 20 anos, quando eclodiu a terceira guerra civil na região, foi levado pelos rebeldes do pastor Ntoumi à floresta, onde passou um ano e meio de privações e ouvindo os bombardeios do Exército do presidente Sassou Nguesso.
Na hora da execução, porém, foi reconhecido por um miliciano, que o havia visto atuar numa peça, e logo o carrasco convenceu os demais a poupar a vida de Niangouna.
Não à toa, o ator e diretor, 43, buscou na realidade conflituosa de sua terra a base para o seu teatro. Criou um método que apelidou de “big! boom! bah!” —uma alusão ao barulho de granadas explodindo.
É um jogo cênico que começa singelo, quase ao acaso, e vai tomando corpo, ganha uma intensidade virulenta, como se detonasse em cena.
E pode ser visto em “O Alicerce das Vertigens”, peça de Niangouna que será encenada na 6ª MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo e que trata de dois irmãos em meio a uma sociedade conflituosa e de herança colonial.
Começa som sons estranhos, misto de barulhos de animais e de máquinas, logo entram vídeos de imagens quase estáticas. E então o texto, que inicia pausado e logo vai tomando força nos atores.
O corpo do elenco funciona como uma caixa de som reverberando suas vozes e dando espaço a debates sobre a condição social do Congo, como um personagem que desata a falar sobre a língua, que pode servir como forma de identidade e também de opressão, por parte do colonizador.
Niangouna é um diretor embasado no texto e defende a vertente na criação africana do teatro. Há dois anos, escreveu uma carta criticando a curadoria do Festival de Avignon, na França, por se voltar apenas a estereótipos africanos, como a dança —e suscitou uma grande discussão nas artes cênicas europeias.
Com outro texto, porém, virou persona non grata em seu país. Em 2015, criticou eleições fraudulentas e o regime ditatorial que domina o Congo há mais de 30 anos. Foi então foi condenado à morte.
O impasse acabou impedindo a vinda do diretor ao Brasil, onde também participaria de oficinas. Segundo Antoine Blesson, produtor de Niangouna, o Congo se recusou a renovar o passaporte do encenador, que há quatro anos vive em Paris. Sua equipe agora tenta conseguir uma naturalização francesa para ele.
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