Filme de iraniano preso critica provincianismo do país em Cannes
Jafar Panahi foi condenado por fazer propagando contra o governo e está servindo pena em prisão domiciliar
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Quem esperava que "3 Faces", do diretor Jafar Panahi, fosse se provar uma farpa direta contra o governo iraniano saiu algo frustrado da exibição do filme, neste domingo (13), no Festival de Cannes. Ainda assim, o longa encontra seus modos de incomodar a cultura local.
Entre os cineastas, Panahi é o mais conhecido crítico ao regime do Irã. Em 2010, ele foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e a ficar 20 anos sem filmar sob a acusação de fazer propaganda contra o governo.
Sem permissão para viajar, ele não apresentou o longa em Cannes. Na tarde de domingo, durante a conversa com a imprensa, sua cadeira estava vazia.
Mais do que um ataque ao governo, “3 Faces” é um libelo contra o conservadorismo provinciano e um aceno ao feminismo. A trama gira em torno de uma aspirante a atriz que pede socorro porque seus pais não permitem que ela ingresse num conservatório.
A história tem início com um vídeo feito pelo celular pela garota (Marziyeh Rezaieh). Ela relata a oposição de seus pais e termina se enforcando. As imagens são enviadas para Behnaz Jafari, atriz de sucesso que fica inconformada com sua incapacidade de ter ajudado a menina.
Ela e o próprio Jafar Panahi, ambos interpretados por si mesmos, resolvem viajar ao lugar, um povoado ermo, cheio de gente conservadora, para descobrir se Marzieyeh de fato morreu.
“3 Faces” é o quarto filme que Panahi realiza após a condenação. É, portanto, uma obra clandestina. Em 2011, ele também dirigiu o documentário "Isto Não É um Filme" sobre a sua impossibilidade de filmar. O longa só pôde deixar o país por ter sido oculto num pendrive.
Além de Panahi, outro diretor em competição neste ano também não pôde vir a Cannes por estar preso: o russo Kirill Serebrennikov, de “Leto”, crítico do governo Putin acusado de cometer crimes fiscais.
O jornalista Guilherme Genestreti se hospeda a convite do festival
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